A artista plástica Renata Egreja, desde pequena começou a pintar. Mesmo morando na pequena cidade de Ipaussu, no estado de São Paulo bastou chegar à maioridade que ela botou o pé na estrada carregada de pincéis e não parou mais. A arte levou-a Paris e lá ela ficou estudando os grandes mestres e sua pintura tomou a direção do abstrato e das cores. Uma representação alegre e ao mesmo tempo muito instigante.
Conversamos com a artista sobre seu processo criativo e um pouco da sua estória.
1) Quando você começou a pintar?
Comecei a pintar desde de muito cedo, ainda criança gostava de desenhar. Fazia aula de pintura na minha cidade natal, Ipaussu. Era com uma senhora chamada Yuli, ela me ensinou a manejar os pinceis e preparar uma tela quando eu ainda tinha 10 anos.
2) Como foi o seu percurso?
Sou do interior do estado de São Paulo, então não tive acesso a muitos museus e centros culturais. Eu não sabia que era possível ser artista de profissão ate fazer 20 anos. Comecei estudando marketing e logo percebi que não seria possível para mim trabalhar com algo que eu não gostava. Minha vocação falou mais alto e consegui convencer meus pais agricultores que eu poderia ser artista. Entrei na FAAP e então descobri um mundo de possibilidades. Estudei três anos lá e fui admitida na Ecole des Beaux Arts de Paris, me mudei para França e lá realizei a graduação e o mestrado. Depois de cinco anos retornei ao Brasil e ai comecei a expor meu trabalho através de inúmeros editais. Realizei exposições pelo Brasil todo. Trabalhei com a Zipper Galeria durante oito anos e hoje trabalho com a Matias Brotas em Vitória e a Galeria Lume em São Paulo.
3) Sua pintura é muito instintiva ou você trabalha com muitas técnicas?
É um misto dos dois. Eu sempre começo brincando com o acaso, adoro perder o controle e ver as manchas e os pigmentos agirem por si mesmos no começo das minhas composições. Depois vou dirigindo com mais precisão. Tenho um vocabulário de formas e gestos que vou trazendo passo a passo na pintura. Acredito que essa seja uma parte bastante técnica do meu trabalho.
4) Você prefere trabalhar na imersão ou você gosta de mais barulho ao redor?
Eu sempre gostei muito de dividir atelier com outros artistas. Sempre me enriqueceu a troca. Porem com a chegada da maternidade tenho valorizado cada vez mais momentos de imersão e sossego! Hoje trabalho em um atelier no meio de um lindo jardim na fazenda. Me inspira muito observar as sementes, as folhas e tudo ao meu redor que vibra e vive. Gosto de mergulhar em meus devaneios e deles retirar a beleza que tanto busco. Eu acredito que a arte tenha esse poder de trazer o belo e conectar o terrestre com o celeste.
5) O seu trabalho precisa de um esforço mental ou você é mais da fluidez?
Tem os dois. É um equilíbrio. Sobretudo porque eu escrevo muito sobre meu trabalho. Faço inúmeros projetos para editais. E isso é super mental. Quando o trabalho flui com leveza no atelier é realmente muito gostoso. Da para ver na pintura porque isso fica muito explicito. É um deleite para mim. Mas eu trabalho mesmo quando não flui tão bem. Considero muito importante a disciplina. Se a inspiração vem, então ela já me pega trabalhando!
6) As mulheres estão mais atentas ao trabalho artístico das mulheres existe uma escolha feminina?
Acredito que sim. Vejo as mulheres mais atentas de modo geral. Tenho muito orgulho em fazer parte de uma geração de mulheres despertas e guerreiras. Hoje temos mais liberdade para questionarmos o status quo e isso é uma conquista linda. Também acredito que o trabalho das mulheres e suas narrativas próprias estão cada vez mais em evidencia e eu espero que essa onda venha para ficar.
7) Quando você começou a perceber que iria viver da pintura?
Na época da faculdade eu vendia minhas pinturas nas casas das pessoas. Voltava da França com um tubão de pintura e ia marcando com os clientes. Chegava nas casas e desenrola tudo. Aprendi a vender meu trabalho com essa experiência. O dinheiro que eu levava do Brasil me ajudava muito na França. Trabalhei como garçonete em Paris no começo dos meus estudos, mas eu não gostava. Eu gostava mesmo era de estar no atelier, então essas pinturas que eu vendia me ajudaram a não ter que trabalhar nos cafés e assim eu me dediquei somente a arte. Foi nesse momento que eu compreendi que eu poderia conquistar minha independência e ser artista. E olha, isso foi um grande alivio para meus pais…
8) Quais são suas mulheres icônicas nas artes? Com quais você mais se identifica?
Tem muitas!! Mas posso citar aqui a Beatriz Milhazes, Tarsila do Amaral, Leda Catunda, Sonia Delaunay, Bridget Riley, Suzanne Lacy. Tem uma constelação de mulheres artistas fantásticas! Sou muito grata a elas, eu não paro de aprender a cada dia com tantas artistas maravilhosas.
9) Seus planos nesse novo mundo?
Primeiro cuidar das pessoas a minha volta. O cuidado é algo que vem dando o tom por aqui. Outro plano que eu tenho é na agricultura, além de artista também sou agricultora e estou agora buscando meios de criar novas narrativas entre arte e agricultura. Acredito muito na troca entre áreas de conhecimento distintas. Acho que dessa mistura inusitada pode nascer algo bastante interessante.
10) Você sente que algo mudou no seu trabalho a partir da pandemia?
Sim, estou mais introspectiva no meu processo criativo e ao mesmo tempo aprendendo e me expondo mais nas redes sociais. Moro no interior de São Paulo e percebi que as distancias ficaram mais curtas com toda essa conectividade! Isso é maravilhoso para quem como eu vive fora do eixo.