Um dos mais talentosos e originais artistas brasileiros. Assim é José Luiz Benício da Fonseca, mais conhecido simplesmente como Benício. Surgiu no mercado publicitário nos efervescentes anos de 1960, desenhando anúncios e propagandas. Mas chamou atenção do grande público quando começou a desenhar capas de livros de bolso, muito populares naquele período. Havia algo de hiperrealista nos seus traços, já que os personagens retratados pareciam ter alma, luz e calor. Logo foi descoberto pelo cinema brasileiro, onde fez o cartaz de cerca de 300 filmes.

Hoje com 83 anos é um artista cultuado, considerado um dos maiores desenhistas brasileiros de todos os tempos.  Aqui ele nos conta um pouco do seu trabalho. E sua presença certamente dará um toque de classe a essa página.  

1 – O seu nome está muito associado a pornochanchada, gênero cinematográfico muito popular nos anos 70. Você desenhou os cartazes de grandes sucessos do gênero como A viúva virgem, A superfêmea, Ainda agarro essa vizinha, entre outros. Na sua opinião, qual a importância da pornochanchada para a cultura brasileira daquela época?

Desde jovem fui atraído pelas formas femininas, sem erotismo. O trabalho com a pornochanchada se desenvolveu pela facilidade em desenhar as formas femininas e foi importante porque deu maior visibilidade ao meu trabalho na publicidade e na direção de arte. Desenhar os cartazes das pornochanchadas funcionou como vitrine. A pornochanchada foi o grande cinema comercial da sua época. Era o tipo de filme que movimentava a indústria do cinema no Brasil.

Benício

 2 – Você retratou com sua arte, com seu pincel, alguns dos maiores ícones da beleza feminina do Brasil: Adriana Prieto, Sonia Braga, Irene Stefânia, Vera Fischer, Rossana Ghessa, Darlene Glória, entre outras. Em seus desenhos todas apareciam lindas, com seus corpos voluptuosos. Você usava apenas a imaginação para deixa-las sempre belas e irresistíveis?

Sim, eu usava a imaginação para retratá-las. Obviamente, nenhuma delas posou para mim. Mas eu via uma foto delas, assistia um filme, imaginava como deveria ser o corpo e desenhava. Nenhuma delas reclamou

Ilustração de Benício

3 -De todas as divas do cinema brasileiro que você desenhou, qual delas você considera a mais bela e sensual?

Todas eram belas, cada uma tinha seu jeito, seu estilo de ser.  Seja Adriana Prieto, Sonia Braga ou Renata Sorrah, todas eram belas.

Maria de Fátima Priolli

  4 – Dos filmes brasileiros que você desenhou o cartaz, quais você considera os mais relevantes para o cinema brasileiro? Quais você considera clássicos?

Sem querer menosprezar os outros, Toda nudez será castigada e Dona Flor e seus dois maridos. Foram filmes que marcaram época. Campeões de bilheteria. São filmes que engrandecem o cinema brasileiro. Mas posso citar vários outros: A viúva virgem, Ainda agarro essa vizinha, Independência ou morte, Madona de cedro, Lua de mel e amendoim, Os mansos, etc. 

Ilustração de Benício

5 – A pornochanchada foi um movimento cultural muito forte no Brasil do governo militar. Antes, porém, você esteve associado a outro movimento muito importante da nossa cultura pop: os chamados “livros de bolso” ou “pulp fictions”. Nas décadas de 1960 e 1970, os livros de bolso eram muito populares no Brasil.  Vendiam milhares. Você que viveu esse período, conte-nos como foi esse movimento cultural.

Por ser de fácil compreensão e ter um preço baixo, os livros de bolso vendiam bastante. Era um modelo de literatura de fácil comunicação e forte apelo popular, já que as tramas eram escritas com textos fáceis e instigantes. Antes de desenhar as capas eu recebia uma sinopse das histórias. E procurava desenhar capas que funcionassem como um chamariz para os consumidores.

Ilustração de Benício

6 – Você desenhou a capa dos quatro volumes do livro Memórias de Giselle, a espiã nua que abalou Paris.  Foi esse livro que deu início a febre dos livros de bolso? Como você e a editora Monterrey, principal editora dos livros de bolso, receberam o grande sucesso desse livro?

Antes de Giselle já se publicava livros de bolso no Brasil. O diferencial desse livro é que ele chegou com uma capa instigante, que seduzia o leitor. Além disso, foi escrito pelo David Nasser que era um craque e soube escrever uma história de guerra altamente erótica. Eu e a editora recebemos com alegria e surpresa, já que a gente não esperava que fosse fazer tanto sucesso. Vendeu muito durante muito tempo.  Foi um fenômeno. E isso proporcionou o desenvolvimento do meu trabalho em outros segmentos. 

Ilustração de Benício

7 – Giselle era um personagem fictício, mas que foi vendido para o público como se tivesse sido uma personagem real. Em quem você se inspirou para desenhar a bela francesa Giselle Monfort?

A inspiração surgiu do conjunto de características da beleza feminina em geral. Eu me baseei nas mulheres bonitas da época, que eram muitas, mas ninguém específico. Mas havia pinceladas  de Catherine Deneuve, Ursula Andress, Jane Fonda, Julie Christie.

Ilustração de Benício

8 – O sucesso de Giselle Monfort fez com que a editora criasse a espiã Brigitte Monfort, filha de Giselle Monfort, uma espiã internacional, espécie de versão feminina de James Bond. Você foi convocado para desenhar essa personagem, que se tornou uma verdadeira febre entre os livros de bolso. Como foi a criação desse personagem? 

Quando li a sinopse do primeiro livro, a descrição da beleza da personagem me lembrou alguém que eu já tinha visto.  Então a construção da super espiã Brigitte Monfort, teve como base a beleza de uma modelo da época, uma moça chamada Maria de Fátima Priolli. Ela sim, foi a inspiração  para a criação de Brigitte. Fátima Priolli foi uma belíssima mulher na década de 1960.

Ilustração de Benício

9 – As aventuras de Brigitte Monfort foram escritas por Lou Carrigan, pseudônimo do escritor espanhol  Antonio Vera Ramirez. Você mantinha contato com o autor, para desenhar as capas dos livros? Havia uma parceria entre vocês, ou cada um trabalhava por conta própria?

Cada um de nós trabalhava por conta própria. Eu tive pouco contato com ele, mas sempre admirei muito seu trabalho. A gente lia o texto dele e parecia que tava vendo um filme. Para fazer as capas eu recebia a sinopse dos textos e desenvolvia a ilustração a partir desse resumo. 

Ilustração de Benício

10 – O que você tem produzido nos dias de hoje?

Hoje não desenho mais. Meu último trabalho foi a capa do livro comemorativo da personagem Monica, do Mauricio de Souza. 

Com colaboração de Waldir Leite 

Ilustração de Benício
Ilustração de Benício