A primeira vez que eu vi uma pintura de Daniel Lannes, levei um quase susto. Um mundo cheio de erotismo tão perto e ao mesmo tão diferente do mundo que eu habitava. Um cotidiano vivo de jovens brincando numa piscina de plástico em uma laje carioca. Lembrei-me do dia em que fui ao um churrasco no Piscina´s Bar, em Sepetiba, lá no século passado.  Um vigor fiquei extasiado.

Daniel surpreende em diversos territórios sociais. Coletivos e individuais. Eu me apaixonei por uma obra sua que vi SP-Arte, um solitário homem das neves. Amigos ficaram loucos com suas cenas coletiva e históricas. Sempre algo erótico e sútil. Algo compartilhado por muitos olhares ou visto por uma fresta, quase um paparazzi.  

Depois umas grandes pinturas verticais de seus amigos em boudoir franceses do século XIX. Homens barbados com roupas femininas, mas traços e pinturas impressionantes. De repente Daniel Lannes aqui e ali. Colecionadores brigando por telas enormes. Curadores, Premio MarcoAntonio Vilaça e muito mais. Grandes pinturas e grandes colecionadores. Daniel Lannes conquistou com suas pinturas vários segmentos dos admiradores de arte contemporânea no Brasil e exterior.

Sua figura longilínea e sociável sempre me deu a impressão de um rapaz simples e um pouco deslocado no tempo e no espaço. Tímido. Apesar de sentir um apelo para ir deeper and deeper nas suas questões pictóricas que nem na música da Madonna, eu sentia uma resistência.Uma noite, porém, não resisti e disse; parece-me que você pinta que nem um espadachim francês.  Tiro na água. Daniel me olhou e deve ter pensado esse é mais louco que eu e foi.

Hoje conversamos mais animadamente e eu soube de sua recente mudança para São Paulo e acendeu uma vontade de saber como está essa mudança em uma hora tão difícil. Nova cidade e vida nova com certeza muito fértil. Porque mudanças são sempre positivas.

1) Porque você decidiu mudar para São Paulo?
Porque sentia já ha um tempo a vontade morar numa cidade mais cinza, mais concreta literalmente. Amo o Rio, e admito que é uma cidade magnética – como dissera Tom Jobim: “é uma merda mas é bom”- e que te prende por razoes não racionais. Tenho dentro de mim o ideário tropical que o Rio oferece, apesar de não frequentar muito suas localidades ligadas à natureza. Mas não importa, é a paisagem interior do Rio que me habita.
 
 
Daniel Lannes – Os Modernistas
 
 
2) Você está trabalhando nesse período?
Tenho pensado bastante e desenhado. Ensaiando mentalmente coisas que ainda junto coragem pra aplicar. Procrastinar pra mim é uma forma de aquecimento.
Daniel lannes – Hipnosis
 
 
3) Você logo que mudou a quarentena começou como você se adaptou em relação a essa mudança.
 
Resolvendo cada coisa à medida que elas apareciam. Não havia plano então foi e vem sendo orgânica essa “adaptação”. Na verdade nem acho que seja uma adaptação. A coisa toda é quem manda e nós obedecemos e seguimos suas ordens. É mais uma aceitação e resignação.
 
Daniel Lannes – Safesex
4) As  proporções  de seus trabalhos são gigas e muito coletivas, cenas grandes pictóricas de um tempo para cá suas proporções mudaram um pouco e há muita concentração no indivíduo, Essas mudança são internas também, Você está mais focado no indivíduo?
 
Sempre estive focado no individuo. Ao meu ver, o individualismo é a chave da coletividade. Ressalto que individualismo não deve ser lido como egoísmo. Ser individualista é tomar pra si as responsabilidades e deveres e, se todos o fizessem, haveria a sonhada coletividade. Eu fazendo o meu e você c fazendo o seu proporciona a engrenagem de confiança e cooperatividade que propicia um país como a Alemanha, por exemplo, a funcionar de forma eficiente. Há o senso comum, tipicamente carioca por sinal, de acusar esse comportamento como sendo frio. Mas eu o prefiro ao invés de ficar se abraçando e dando tapinhas nas costas sem objetividade alguma.
 
Daniel Lannes – No title
5) O que você tem feito nesse tempo? tem lido? visto filmes? exposições virtuais?
Tenho desenhado, escutado novos MCs ligados ao funk, principalmente a cena de São Paulo da qual sabia pouco. Tenho visto também clipes do Depeche Mode e do Happy Mondays. Não tenho visto filmes nem lido nada.
Daniel Lannes – Jet Set
 
6) As pessoas que convivem com você falam muito de sua admiração e estudo de imagens você ainda é obcecado por imagens quais são as que você tem dedicado sua paixão? 
Sou sim obcecado por imagens e percebo o mundo através delas. Tendo a preferir uma imagem a um argumento. No entanto, por ama las demais desconfio delas o tempo todo. Mas amo quando elas me iludem. Tenho recentemente me dedicado a ter coragem de por pra fora as imagens que me são inerentes. Que não são por mim sugadas ou apropriadas, mas, sim, produzidas na minha mente.
 
Amor
 
7) Você se considera um boêmio do tipo daqueles pintores franceses que usam a arte para expressar esse mundo ?
kkkkk Bem que eu queria ser um boêmio tipo os franceses pois beberia vinhos bem melhores e mais baratos. De qualquer forma, mesmo com os vinhos medíocres aos que tenho acesso eu tento expressar o meu mundo, não esse mundo.
 
Daniel Lannes – Drum’n Bass
8) Você tem vontade ou tinha antes da quarentena em morar fora? Onde seria?
Já morei nas 3 principais capitais do mundo ocidental contemporâneo: NY, Londres e mais recentemente Berlim. Antes da quarentena meu desejo era ir pra São Paulo mesmo. E foi o que eu fiz!
 
Daniel Lannes –
19) O bucolismo te incomoda?
Não, adoro o bucólico e o pitoresco. Abraçar a lagoa é o que me incomoda.
Daniel Lannes – Bagunça
 
1o) Quando você volta para o Rio?
 Realmente não sei.
Daniel Lannes – Safesex 3
Daniel Lannes- Slaves