Lá na metade dos anos 90 conheci o artista plástico Ítalo Trindade. Foi uma experiência quase que lisérgica, eu iria. Ele estava hospedado na casa de uma amiga que na época era casada com um grande colecionador que tinha peças importantes em diferentes estilos que na verdade era tudo uma composição decorativa com recortes de grandes impérios. Um pouco barroco, decô e peles de animais. Muito francês.
Ítalo que é do Rio Grande do Norte falava com sotaque e ás vezes falava um francês peculiar com o colecionador. Tudo ao som de Piaf, Josephine Baker e muito ulalá. As vezes achava que Yves Montand ia descer as escadas de mármore do apartamento e que estava na Rue du Bercy.
Ficamos amigos e passei muitas noites em seu atelier no Jardim Botânico conversando sobre arte e o vendo pintar. Na verdade, foi um dos meus primeiros contatos com atelier depois da prancheta de desenhos do meu pai. .
– Você trancou o gato, pergunta minha mãe para meu irmão e eu volto à realidade pandêmica por alguns instantes.
As cores das pinturas de ítalo sempre me impressionaram e nas vezes que fui a trabalho a natal ficava nos hotéis de Ponta Negra vendo o entardecer e descobrindo aquele azul claro das telas de Ítalo.
Ítalo voltou para natal depois e fui vê-lo algumas vezes. Foi divino. Toda às vezes. Corri as praias de todo o estado, as dunas, os rios, a ginga, as pessoas e a pequena vida cultural, os restaurantes que não posso esquecer. Foram tantas viagens. Lembro um carnaval que começou na casa de Ítalo em natal continuou em Olinda, Pernambuco e voltou para Natal. A pintura sempre me conquistou pelo traço e pelas transições de cores que através de camadas vão se transformando em outras.
A vida do artista fora do eixo Rio-São Paulo é complicada. Ainda mais por ser Natal, a cidade debruçada para o Atlântico, não podendo ir para frente só andando para trás. Ítalo viveu em Madrid, Paris e Belo Horizonte e Rio. Não tentou São Paulo. Como a cor está dentro e não só no exterior ele poderia tentar. Acho que São Paulo vai abraça-lo e arrastá-lo na boemia. Mas, acho que aquela liberdade conquistada nos anos setenta e precisa de sol e mar para manter-se fresca.
Fiz umas perguntas para Ítalo Trindade, artista plástico potiguar, que vive e trabalha no Tirol, na capital mais noroeste do país.
1) Quando você começou a pintar?
Ainda criança (12/13 anos) copiava sobre tela, reproduções de pinturas impressionistas. Foi ai o meu primeiro contato com as tintas.
2) E a fotografia como aconteceu de você começar a fotografar?
Com o computador veio a câmera e ai tudo ficou mais pratico… Sempre fui muito ligado a fotografia, gosto de ver fotografia !!!Alimenta o meu espirito.
3)Você trabalha um pouco da sua filosofia na sua pintura?
Acho que não, a minha Estética esta muito ligada a minha sensibilidade e a minha Arte reflete tudo isso !!!
4)Como você chegou ao abstrato?
Inspirado pelos quatro elementos (ar, água, terra, fogo), e pela matéria cor.
5) Qual é a maior dificuldade do pintor trabalhar em Natal?
Do ponto de vista físico geográfico, a distancia dos centros culturais no pais e a falta de profissionalismo local e por ai vai …
6) Sua pintura e o seu estilo de vida se completam?
Acho que sim, optei pela arte ate o fim da minha vida...
7) as cores Nos seus trabalhos transmitem as suas emoções?
Transmitem, não da pra separar uma coisa da outra !!!
8) você estudou as temperaturas das cores e quais são as suas referências?
Bom, sou um colorista, nasci com esse dom. Vivi a minha primeira epifania o Impressionismo. Tenho identificação com movimentos, artistas e obras de arte. Não evito as influencias, não seria sincero com relação a mim próprio. Acredito que a personalidade do artista se desenvolve quando confronta outras personalidades e evolui ate o fim … Temos que adquirir e abandonar muitas coisas, mais do que perder. A Arte se refere a própria Arte, no meu ponto de vista.
9) O seu processo criativo é muito estudado ou ele acontece instintivamente?
E relativo, trabalho com duas tensões, uma de ação e outra de reflexão. As vezes começo com a própria cor, outras vezes com traçado da forma, a linha. As cores são feitas fora e no próprio suporte com superposições de camadas. O desenho já e pintura, não separo uma coisa da outra, tudo vem junto !!! O meu processo e serial, cada pintura tem o seu próprio tempo, mesmo o acaso tem o seu próprio tempo para reflexão e só assim sera admitido !!! Também trabalho com sensações, tento harmoniza-las, defini-las, condensa-las, retoca-las ate reconhece-las com uma representação do meu espirito.
10) Hoje com o mundo digital você sente falta de uma galeria para apresentar seus trabalhos?
Faz falta uma Galeria de Arte !!! A obra presencial tem muito mais impacto do que digitalizada. Acredito que o mundo digital veio pra somar e abrir novas possibilidades para Arte… Adorei a SPARTE virtual! Logo teremos muitas Galerias de Arte virtuais !!! Axe !!!