O projeto Arte + Care desenvolvido pela galeria Portas VilaSeca entra neste final de semana na sua quarta edição e apresenta os recentes trabalhos do artista Lin Lima, representado pela galeria. Conversamos com o artista sobre sua carreira e sobre essa exposição virtual na galeria e sobre seus recenes trabalhos.
ARTE+CARE é um programa desenvolvido para apoiar nossos artistas representados e, ao mesmo tempo, ajudar pessoas, organizações e iniciativas de cuidado e proteção àqueles mais atingidos durante esses tempos incertos: trabalhadores da cultura que enfrentam dificuldades econômicas, crianças e comunidades vulneráveis. Séries de trabalhos inéditos e a preços acessíveis (entre R$900 e R$2000 cada) foram produzidas exclusivamente para o programa pelos nossos artistas e, a cada mês, uma parte das vendas será doada a uma iniciativa diferente.
Parte da venda desses trabalhos irá beneficiar mais uma iniciativa relevante de interesse público nos campos da cultura, da saúde e da atenção básica. Para esta terceira etapa do programa ARTE+CARE, vamos apoiar a campanha “Maré diz NÃO ao Coronavírus”, uma iniciativa da ONG Redes da Maré voltada para a população das 16 comunidades da Maré, no Rio de Janeiro, e que busca enfrentar a crise humanitária provocada pela pandemia.
O objetivo da campanha é alcançar doações de itens materiais e de recursos financeiros para a realização das seguintes frentes: segurança alimentar; atendimento à população em situação de rua; geração de renda para mulheres; cuidados e prevenção de saúde; produção e difusão de informações e conteúdos seguros; e apoio a artistas e grupos culturais locais.
O que levou você a procurar uma faculdade de artes?
É sempre bom ampliar nossa capacidade de percepção do mundo, conhecer novas culturas e diversificar as ideias, em qualquer área. Quando entrei para a escola de Belas Artes já desenhava e procurava me envolver cada vez mais com arte, mas percebi que sem uma escola o caminho seria mais árduo.
Agora, então, com a questão do isolamento social, pra mim ficou muito mais claro que os ambientes socializantes são fundamentais para o desenvolvimento humano de uma forma geral, e a escola de artes, no meu caso, ampliou minhas relações de amizade e me inserir no circuito da arte de forma muito natural e prazerosa. Aconselho.
O que te emociona mais o desenho ou a escultura?
Meu trabalho fala o tempo todo em desenho. O lápis é praticamente meu alter ego, mas o que me emociona mais é a relação entre inteligência e sensibilidade, em qualquer trabalho artístico. Ou seja, quando o artista coloca o trabalho certo no lugar exato. Quando consigo perceber isso num trabalho saio de órbita e vou longe. Pode ser desenho, pintura, escultura, instalação.
Qual a importância da curadoria para você?
Curadoria é sempre troca e nos faz perceber pontos fracos ou mal resolvidos em certos trabalhos, que por conta do nosso envolvimento mais direto, às vezes não conseguimos perceber.
Você persegue o traço ou cria o seu próprio traço?
Costumo dizer que a descoberta ou a invenção do traço foi a maior revolução da humanidade. Não sei ainda se existe algum estudo que mostre quando isso aconteceu, mas sem o traço, ou a linha, provavelmente estaríamos nos comunicando através de grunhidos. Então tem um pouco das duas coisas da sua pergunta.
Em alguns momentos busco um traço primordial, que imagino ser algo muito simples, e em outros momentos crio um traço que melhor traduza o que estou pensando naquele determinado momento. Nos dois casos, ou em cada ponta da mesma linha, entendo que todo traço é, por princípio, uma trajetória.
Se for trajetória o tempo está, necessariamente incluído nessa equação, assim como o espaço e a velocidade, e assim descubro que a ideia é muito mais complexa e mais rica em significados do que possa parecer. Um simples traço é quase sempre um complexo labirinto de ideias e sensações.
Seu trabalho conversa com diferentes aspectos da arte e da arquitetura conta um pouco sobre essa trajetória.
Uma das coisas mais importantes em minha formação foi ter cursado “Edificações“, ainda na adolescência, na Escola Técnica Federal de Campos, no Norte Fluminense. Nessa época acreditava que seguiria o caminho da arquitetura, mas a importância da qual falei foi tão grande que lá mesmo comecei a perceber que minha relação com a arquitetura seria de outra forma. Foi lá que comecei a expor com mais regularidade e seriedade, pois todos os anos acontecia uma grande coletiva que integrava alunos, professores e funcionários num mesmo espaço.
Às vezes era caótico mas até isso, quando somos mais jovens, é importante. No mesmo lugar onde eu estudava linhas e espaços eu percebia, na prática, como era importante pensar o espaço físico e mental. Teoria e prática caminhavam juntas o tempo todo, assim como arte e arquitetura, as paredes e os espaços entre elas, meus trabalhos e os dos colegas que se agrupavam caoticamente no espaço expositivo. O eu, o outro e o espaço que precisamos para viver bem e cordialmente foram as questões que desde essa época já faziam minha cabeça e conduziam meus traços e minhas trajetórias.