Conheci os trabalhos de Luiz d`Orey na sua primeira individual na Galeria Mercedes Viegas. Muita curiosidade para conhecer as obras do jovem pintor, de vinte e três anos naquele momento e recém-chegado de Nova York, onde foram produzidas todas as obras daquela exposição. Total mundo urbano. Recortes e sobreposições. Materiais orgânicos. Papeis sobre telas e muita tinta.Uma composição muito densa e ao mesmo tempo harmônica.
Luiz d`Oreyvoltou a morar no Brasil e saiu em busca de novas pesquisas e preparou sua segunda individual ” Cascade” na mesma galeria. Fomos lá e nos deparamos com mais um avanço metódico e racional. Não pude chegar a tempo da abertura, fui outro dia e depois em uma palestra com o curador da exposição e o artista. Percebi que havia muitas mulheres na plateia e percebi uma sutileza no trabalho que o aproximava do mundo feminino. Uma brincadeira de esconder e revelar aquela sutileza sedutora e na plateia o crítico e curador Paulo Sérgio Duarte marcava presença. Devo dizer que sua presença me agrada devo confessar.
Quando a conversa abriu para perguntas o crítico levantou a mão e pediu a palavra. – Devo me desculpar, pois tenho que sair logo. Mas, quero falar sobre a exposição. Foi um banho de clareza e raciocínio. Uma aula de arte em cinco minutos.
Conversamos um pouco sobre sua carreira e novos destinos. Hoje o artista integra o elenco da Luciana Caravello SP.
1) Quando você começou a fazer Arte?
Não me lembro ao certo. Acho que toda criança gosta de desenhar, pintar etc. Mas tenho memórias de continuar desenvolvendo o gosto depois da maioria dos meus amigos perderem o interesse. Esse momento de desligar-se de tudo e concentrar-se na construção de algo, que não sei bem o que vai ser, sempre foi o sentimento que me moveu desde criança. Apesar de que no início eu não tinha plena consciência do que é ser artista ou fazer arte.
2 ) A educação artística na escola foi importante para você?
Tive pouco contato com a arte através da escola onde estudei. Ate chegar a faculdade minha educação artística se deu de maneira bastante intuitiva e desordenada. Não sei se sabia categorizar muito bem meu interesse e acho que não conhecia precisamente as definições do trabalho de um designer, ilustrador, animador e artista plástico por exemplo. Eu apenas seguia as linguagens que despertavam meu interesse.
3) A evolução do seu trabalho fez você abdicar de alguma outra atividade que você gosta?
Sim. Acho que perseguir essa carreira é um comprometimento grande. Não sei se consigo nomear algo especifico que eu tenha abdicado e nem acho que seja uma coisa apenas. Mas também quando se faz do trabalho uma prioridade, naturalmente o ciclo de amigos, interesses e atividades vão se organizando em torno disso. Talvez a diferença para outras profissões seja a dificuldade de se separar interesses pessoais de profissionais, já que trabalho com algo que gosto muito. Não sei.
4) A utilização desse tempo foi acontecendo ou veio de uma decisão radical?
Acho que a mudança mais radical foi quando me mudei para Nova York para fazer faculdade. Daí abri mão de estar próximo de amigos e família e cheguei lá sem conhecer ninguém. Mas o sentimento é mais de gratidão do que qualquer outra coisa, pois foi algo que aconteceu a partir de uma vontade minha.
5) O seu confronto com a tela vazia como se desenvolve?
Normalmente começo uma pintura com alguma ideia, por mais vaga que seja, então já existe alguma direção. Acontece que essa tradução da ideia para imagem sempre apresenta muitas novas questões que não tenho como prever. Então embarco numa serie de mudanças e ajustes que por vezes acabam distanciando bastante a pintura de seu ponto de partida.
6) Quais são as técnicas que você gosta de usar?
Tenho as redes sociais e comportamento das pessoas no espaço virtual como assuntos do meu trabalho, portanto a escolha de técnicas e gestos passa por esse mesmo caminho. Desenvolvi uma serie de trabalhos em papel, que expus na Galeria Mercedes Viegas no ano passado, que são construídos por camadas impressões a laser, tinta spray e cortes a laser. Desde então continuo desenvolvendo essa serie, mas senti saudades de trabalhar de uma maneira mais intuitiva e imediata, pois os trabalhos em papel são bastante trabalhosos e cada etapa requer um planejamento prévio e levam tempo para serem executadas. Então comecei a desenvolver pinturas em tela, com tinta acrílica e spray, mas sempre pensando nessa negociação entre o gesto mecânico/digital e o manual, e como cada um carrega a pintura de rastros que possam conter algum significado.
7) Suas referências são mais acontecem no mundo exterior onde mais você busca inspiração?
Eu gosto muito de olhar todo tipo de pintura. Naturalmente eu vejo bastante o Mark Bradford, Sterling Ruby, Wade Guyton, Rudolf Stingel, Glenn Ligon etc – uma galera que depois do Warhol continuou a lidar com essa questão da mediação e circulação da imagem, e como o seu encontro com os procedimentos tradicionais da pintura pode expandir os seus limites. Por algum motivo tenho visto bastante pintura de paisagem também. Mas enquanto estou trabalhando eu penso mais em questões do mundo – tenho pesquisado sobre ambiente opinativo das redes sociais, tanto do lado da plataforma e seus algoritmos, quanto do comportamento humano ao formar e compartilhar opiniões.
8) Nessa pandemia o que te mais te preocupa?
Acho que a vida das pessoas, não tem como ser diferente.
9) Quais são suas expectativas para o quem por aí?
Acho que a expectativa maior é que a pandemia possa ser controlada e nós possamos retomar as atividades que não estamos podendo exercer no momento.
10) Você faz planos?
Sim. Tento mirar em algum lugar entre a rigidez de se ter muitos planos que não se encaixarão com a realidade e a deriva de não se ter plano algum hahaha.