Hoje nossa “Quarenta Views” conversa com a escultora Maria Carmem Perlingeiro é carioca e nasceu sobre a aura dos anos dourados. Sua formação educacional e vocacional foi francesa. Deixando a adolescência para trás e a cidade maravilhosa ela já uma aluna de Belas Artes foi estudar na Suíça, em Genebra.
Uma viagem de ônibus como os estudantes da década de setenta se aventuravam para desbravar o país Maria Carmem foi conhecer o Nordeste. As cidades de Crato e Juazeiro do Norte e os ex-votos se fixaram no seu imaginário e até hoje povoam o inconsciente da artista ainda que as pedras fundamentais da estória também marcam seu percurso artístico.
“Na verdade é difícil situar o inicio de uma atividade artística. As experiências, opções e decisões vão forjando nossa prática. Acho que tudo começa na infância quando percebemos que podemos « fazer as coisas ».Na minha adolescência fiz uma viagem de ônibus do Rio de Janeiro até o Crato e Juazeiro do Norte. Foi uma revelação ver os ex-votos e descobrir esse outro Brasil. Também tive a oportunidade de visitar Brasília e foi lá que descobri a arquitetura moderna e o paisagismo. Essa descoberta me transformou”, conta ela.
Em Genebra, aconteceu sua primeira exposição. A estreia foi arrebatadora tanto para quem conferiu entrar no cenário artístico uma nova expressão da arte como para a artista que definitivamente viu seu destino traçado. Aqui transcrevemos umas linhas sobre o trabalho de Maria Carmem Perlingeiro escritas pela crítica, pesquisadora, jornalista e curadora Maria Cristina Burlamaqui que joga luz sobre o trabalho da artista.
Maria-Carmen Perlingeiro, essencialmente escultora, percebe o mundo dos volumes tridimensionais esculpidos pela luz natural e integra sua poética em uma experiência visual e tátil, imprimindo referências sutis em ritmo de pura beleza. O alabastro translúcido da Toscana permite a criação de uma aura de luz em “um instante mágico” que se faz aparecer entre o campo espacial luminoso e a escultura de fragmentos. Assim, surgem morros cariocas, torsos, memórias de infância e lembranças, gravadas em folhas de ouro. Tudo é criado para explorar o limite do olhar.
O começo foi de muito exercício e aquele processo de escolhas que é fundamental na carreira e na expressão máxima dos objetivos dos artistas.
“No início da minha prática artística desenvolvi obras bem conceituais, e muitas delas inspiradas na arte popular: « Jogo do Bicho » e “Bicho de sete cabeças ».
Em seguida tive a experiência de morar em Nova Iorque, e lá então comecei a realizar as esculturas em pedra. Foi uma mudança radical. Eu praticamente retomei o trabalho do zero e aprendi a cortar manualmente a pedra, aprendi a esculpir.
Quais são os materiais que mais te atraem?
Comecei esculpindo o mármore de Carrara e depois veio o alabastro italiano que é uma pedra mais delicada. O alabastro eu vou buscar na Toscana e tem a particularidade de ser uma pedra translúcida e opaca. A essas esculturas adicionei o ouro por uma questão de luz: eu mesma fotografo minhas peças e o alabastro, durante o dia, é translúcido. De noite é o ouro que brilha.
Ao longo da carreira Maria Carmem Perlingeiro construiu uma ponte entre o Brasil, a Europa e a América do Norte e trabalha com atelier na Suíça e com galerias no Rio, São Paulo e em Genebra.Suas esculturas estão nas principais coleções brasileiras e pelo mundo afora. Um sinônimo de sofisticação e bom gosto.
A galerista Stella Ramos da Mul.ti.plo Espaço Arte fala um pouco sobre a relação entre a artista e galeria.
“A nossa relação com os artistas que expomos sempre e sempre tem como ponto de partida a obra. Ela soberana em primeiro lugar. Mas há artistas em que a intimidade traz muito do seu oficio. Esse é o caso da Maria Carmen que temos como amiga. Sua forte presença; seu modo rigoroso e sedutor são “matérias” que encontramos em cada uma de suas obras. Trata-se de uma pessoa singular, assim como a personalidade de sua obra é única”.
Fotos Divulgação
Maria Carmem Perlingeiro está em sua casa em Genebra, na Suíça e aguarda o fim da quarentena para voltar a plena atividade.