Um lindo livro foi lançado essa semana. O livro traz uma coletânea de artigos sobre a Casa da Ópera de Ouro Preto e sobre as artes na antiga capital das Minas Gerais na época da construção do singular teatro mineiro.
Organizado pela musicóloga, historiadora e cantora lírica Rosana Marreco Brescia, o livro conta com belíssimas imagens de autoria do fotógrafo ouro-pretano Lucas Godoy. No prefácio, Zaqueu Astoni, alude à tripla comemoração dos 250 anos de história do teatro, dos 300 anos da Sedição de Vila Rica, que simboliza o nascimento do atual estado de Minas Gerais, e dos 40 anos do título de patrimônio mundial concedido pela UNESCO a Ouro Preto.
A literatura, especialmente profícua na Vila Rica setecentista, é outra arte intimamente ligada à Casa da Ópera. Cláudia Pereira escreve sobre os seus poetas, em especial Cláudio Manoel da Costa e Beatriz Brandão, dois dos maiores nomes da literatura brasileira que, para além de assíduos espectadores da Casa da Ópera, foram também autores de diversas obras levadas à cena no teatro ouro-pretano. Rodrigo Bastos trata da arquitetura religiosa em Ouro Preto, onde os edifícios sagrados servem de palco para a representação da mensagem divina transmutada em arte, já que a Igreja sempre se valeu do poder persuasivo das manifestações artísticas para animar o espírito dos seus fiéis.
Não é possível falar de Vila Rica sem se referir à riqueza e à multiplicidade das suas raízes, à herança lusitana e ao contexto sociopolítico que permitiu a propagação de “casas da moral e da virtude” por todo o ultramar americano. Aline Gallasch-Hall de Beuvink escreve sobra a ópera no reinado de D. José I, monarca cuja biografia é indissociável dos teatros, aquém e além-mar. A história da Casa da Ópera de Vila Rica/Ouro Preto, desde a sua construção até o início do século XX, é traçada por Rosana Marreco Brescia.
Após quinze anos de estudos sobre o teatro ouro-pretano, a autora apresenta um inédito panorama histórico de um teatro que, apesar das vicissitudes e do seu conturbado historial administrativo, foi e é mantido vivo graças à vontade e à devoção dos seus artistas. A música que compunha os espetáculos teatrais setecentistas é o tema tratado por Rogério Budasz que indaga acerca desse desconhecido tesouro e da incontornável figura do musicólogo teuto-uruguaio Francisco Curt Lange.
Os desafios para a preservação do outro tesouro, o arquitetônico, ao longo do século XX, são relatados por uma das figuras públicas que mais contribuíram para a preservação e valorização da Casa da Ópera de Ouro Preto, o escritor e por duas vezes prefeito de Ouro Preto Ângelo Oswaldo de Araújo Santos. Uma obra de cariz multidisciplinar, que permeia os últimos 250 anos da história de Minas Gerais, que encontraram no vetusto palco ouro-pretano a sua mais eloquente.