A artista plástica Solange Pessoa para mim foi uma recém descoberta. Foi nas feiras de arte que tomei conhecimento do seu trabalho. Fui na galeria Mendes Wood, em São Paulo e vi poucos trabalhos. Continuei procurando e a cada obra mais impressionado. Gosto cada vez mais. Conversando com meu amigo o curador Franklin Pedroso, que também é amigo e já trabalhou com ela ele explicou um pouco esse desenvolvimento.
” No começo dos anos 90, conheci Solange Pessoa, quem nos apresentou foi o Tunga, desde então acompanho o trabalho dela e em 2003 fui curador da Bienal do Mercosul, ela foi uma das artistas da representação brasileira. Eram apenas nove artistas e apresentamos um trabalho de Solange, de grande dimensão e esse trabalho está hoje na Rubell Collection, em Miami. Recentemente na Pinacoteca de São Paulo, Paço Imperial e essa última que ela fez em Marfa, no Texas eu até ia com ela, mas por motivos profissionais não pude ir. Solange é uma artista de grande potencial, bem reconhecida lá fora, curadores, museus atento a sua obra. Sus obras já fazem parte de importantes coleções e museus estrangeiros acho que ela precisa ter mais atenção aqui no Brasil.
Conversamos por email e pelo zap para saber como está indo á rotina, os trabalhos e pesquisando descobri que ela foi professora de escultura na Escola Guignard, em Belo Horizonte e deixo muitas boas lembranças aos seus alunos e admiradores.
Qual foi o seu primeiro caminho no mundo das artes?
O desenho foi a minha primeira manifestação expressiva e sensível, a grande abertura ao mundo. Foi-se desenvolvendo na adolescência, revelando capacidade plástica e linguagem própria. Esses desenhos já conduziam para coisas que iria desenvolver mais tarde, como a utilização de materiais orgânicos, relação com a matéria, sentido reflexivo, atmosferas, memórias.
Você ter nascido em Minas Gerais dá uma identidade ao seu trabalho?
Sim, mas não é uma relação atávica. A diversidade cultural, étnica, geográfica e paisagística afirmam materialidades e espacialidades singulares, traduzem um jeito próprio de estar no mundo. Uma cultura muito elevada no passado e uma “super modernidade” por aqui, trazem reflexões acerca do contemporâneo e do extemporâneo e exigências aos pensamentos plásticos. Estar fora dos grandes centros favorece uma concentração inquieta.
Como você vê a cerâmica no conjunto do seu trabalho, é algo particular ou é totalmente integrado?
A cerâmica é totalmente integrada no conjunto da minha produção, trouxe expansão ao imaginário. Aprendi a fazer cerâmica com uma cabocla, debaixo de árvores, no interior de Minas, no final dos anos 90 (não foi na Escola Guignard onde estudei e lecionei). Com o tempo, fui adicionando materiais como lãs, couros, penas, folhas, capins, flores, algodões, etc. Há algo de indeterminado na cerâmica que me atrai bastante. Ultimamente percebo mais as suas ações terapêuticas. Não vivo mais sem fazer cerâmica.
Nesse momento de pandemia, você tem feito uma rotina de atos e pensamentos?
É um grande momento de reflexão e redimensionamento das coisas. Estou na fazenda já há um mês e gosto de me sentir meia fora do mundo. Trabalhei bastante por aqui. Revi e organizei meus arquivos pós-livro, que estavam esperando para serem organizados; continuei uma série de desenhos á carvão, desenvolvi umas filmagens que estão em processo para edições; li as Memórias Sentimentais de João Miramar e o Serafim Ponte Grande do Oswald de Andrade que nunca havia lidos e aproveitei o embalo e reli O Salão e a Selva, sua biografia da Maria Eugênia Boaventura. Adoro ele, e como é atual!
O volume em algumas obras ganha muito destaque e também superfícies planas. Em que você no momento está trabalhando?
Além desses trabalhos que falei na pergunta anterior, desenvolvo uma instalação de média e/ou grande escala que será fundida em bronze adicionada com outros materiais como cabelo, couros, penas, tecidos, etc. Também desenvolvo outra instalação com plantas rupestres incrustadas em esculturas de pedras, para jardins, parques, fazendas, grandes áreas.
Você é atenta á sua carreira ou deixa o barco correr e só pensa no trabalho?
Nunca fui carreirista, a arte sempre foi por uma necessidade interior profunda. O mercado chegou tarde, vivia das aulas ministradas na Escola Guignard, onde me aposentei em 2017.
Nesse momento é de muitas preocupações e notícias tristes, você se distrai em algo, uma leitura ou algum outro interesse?
Cultivo plantas, envolvo com leituras, organizo coisas. Estou trabalhando em um arquivo de diversas gravações de conversas, conferências, entrevistas, para uma futura publicação. É o início de um processo que será longo, foram gravadas por mim e outros ao longo dos anos, desde meados dos anos 90. Chegou o momento de ver este material, memórias contemporâneas.
Quais os artistas que você gosta de pesquisar atualmente?
Interesso – me mais pelos artistas-poetas, os fora dos cânones e os de sempre. Pierre Huyghe, Heidi Bucher, Linda Benglis, Agnes Denes, entre outros, são os artistas que ultimamente me despertam alguma curiosidade.
Solange Pessoa