Conheci a artista plástica Clara Veiga no seu atelier na Gávea, era uma festa vernissage happening coisa e tal. Na hora que vi os trabalhos pensei, só pode ser de uma menina linda essas pinturas. Pela delicadeza e porque as imagens guardavam um segredo em cada tela. Natural, que ela fosse bonita aos meus olhos. E não é que, bingo… acertei mais uma vez.
Conversamos sobre poças, águas, imagens refletidas, piscinas e muitos reflexos. Possibilidades que a água permite ver algumas vezes em seu reflexo e dimensões profundas que nos arriscamos a cada mergulho. Um mistura poética de psicologia e arte. Fusões lacanianas. Nada das questões nuas e cruas de Foucault. As perversidades lacanianas que nos interessavam naquele momento.
Foi lindo. Continuo esperando outro devaneio para que depois da pandemia sentarmos a beira de uma poça e falarmos sobre o mundo.
Enquanto isso ela respondeu algumas questões e vale lembrar que Clara Veiga é representada aqui no Rio pelo galerista Artur Fidalgo quer mais Lacan do que isso.
1) Quando você começou a dedicar mais tempo a arte?
A arte sempre foi presente na minha vida, eu desenho desde criança, mas em 2015 foi quando deixei de trabalhar em outras áreas e focar somente nas artes visuais.
2) Você teve uma educação artística?
Felizmente na escola que estudei tive bastante contato com arte e com certeza isso alimentou essa afinidade que já existia. Na faculdade esse contato se deu de uma outra forma, me formei em design de produto, fiz algumas aulas de desenho e tive a oportunidade de fazer matérias não obrigatórias nessa área também, mas foi depois da faculdade que consegui ter mais prazer nesse caminho. Comecei a fazer cursos no Parque Lage e venho fazendo vários outros desde então.
3) Quando que a arte virou uma possibilidade de carreira?
Quando eu tive meu filho Benjamin em 2015 e vi que precisava estar mais presente e perto dele. Trabalhava com direção de arte em agência de propaganda e em paralelo já fazia trabalhos de ilustrações e projetos artísticos pessoais. Foi uma escolha difícil, mas com certeza foi a melhor escolha que fiz.
4) Quais são as técnicas/ferramentas que você utiliza no seu processo criativo?
Acredito que o processo criativo é o dia-a-dia. As técnicas e ferramentas se encontram e assim começa a produção. No momento o que mais tenho utilizado como técnica/ferramenta é desenho com caneta esferográfica sobre papel pintura com tinta óleo e acrílica sobre tela.
5) Você sente dificuldade no mercado das artes por você ser mulher ?
Tenho consciência que sim, existe essa dificuldade. Vejo isso com artistas mulheres que são próximas de mim. Provavelmente por eu ter poucos anos de experiência no mercado de arte ainda não encarei nenhuma grande dificuldade. Atualmente a galeria que me representa no Rio de Janeiro é a Artur Fidalgo e um dos motivos por trabalhar com eles é que existe uma grande representatividade de artistas mulheres, fico feliz de ver esse lugar possível. De qualquer forma, sou otimista e acredito que possamos abrir e conquistar nossos espaços cada vez mais. Eu vou estar sempre trabalhando nessa luta.
6) Podemos dizer que sua pintura é feminina?
Acho que essa é uma pergunta delicada e com muitas respostas possíveis. Vou tentar ser breve e coerente, o que eu sinto é que não só na pintura, mas como em mim mesma existe uma força feminina e outra masculina. Enfim, o que podem dizer sobre a minha pintura é qualquer coisa. Qualquer interpretação e identificação ou não identificação é válida e importante.
7) Sua pintura tem leveza e tem ritmo. A musica faz parte do seu processo criativo?
A música faz parte da minha vida diariamente. De fato nunca pintei uma tela sem ouvir música.
8) Quais são suas referencias e inspirações?
Elas vem de todos os lados e de todas as formas. Acordada, dormindo, sonhando, pensando, conversando, lendo, ouvindo música, andando pela rua, conhecendo pessoas, estudando, não fazendo nada, etc. Em resumo tudo isso vem da forma de observar a vida.
9) Você tem um ímpeto para escolher as cores ou tem um sistema?
Eu sempre sei exatamente o tom que eu quero e aí levo um tempo misturando e testando até chegar na cor que eu fique satisfeita.
10) Quais são suas diretrizes profissionais para um futuro próximo ou você não pensa assim?
Eu penso sim. Mas principalmente, eu penso sobre o rastro que desejo deixar através dos meus trabalhos. Eu gostaria muito que eles pudessem gerar reflexões, só por isso eu já estaria satisfeita. Sei que o caminho é longo.