Hoje, em Barcelona acontece a abertura da exposição “Recado da Mata” de um fotógrafo brasileiro que admiramos seu trabalho, a quarta exposição de Caio Reisewitz na Galeria Joan Prats. São 11 fotografias, um vídeo e uma peça de áudio.
Caio Reisewitz reuniu muitas das fotos desta exposição em resposta à leitura de livros escritos por dois grandes pensadores e líderes indígenas que atuam no Brasil hoje: A queda do céu de Davi Kopenawa com coautoria de Bruce Albert , e Ideias para adiar o fim do mundo, de Ailton Krenak. O título da exposição ainda se deve ao prefácio do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro para o livro de Kopenawa e Bruce Albert que por sua vez alude ao conto O recado do morro, de João Guimarães Rosa.
Na história, um morador de rua e um eremita alertam a população da região sobre uma mensagem que afirmam ter recebido do próprio Morro da Garça. Em um grupo de 7 homens, um deles será morto por traição. No prefácio Viveiros de Castro parte da ideia de morte iminente proclamada pela natureza, agora não pela voz do morro mas pela voz da selva. A selva nos avisa que está sendo exterminada pelo homem; Essa é a mensagem que Caio Reisewitz tenta transmitir em suas fotografias.
Segue o texto de apresentação da exposição de Veronica Stigger
Uma das obras mais recentes apresentadas na mostra de Caio Reisewitz é Ambé, cujo título, à semelhança das demais obras expostas (excluindo Penedo), remete a um topónimo de origem tupí. Ambé é o nome de uma comunidade rural a 80km do centro de Macapá, no Amapá. Porém, na região amazônica também significa que é acidentado, crespo e áspero. Assim como a grande maioria das obras de Reisewitz, nesta fotografia não conseguimos distinguir a presença humana. Vemos apenas um espesso emaranhado de galhos, troncos e folhas característicos da floresta amazônica. No entanto, a incapacidade de distinguir a presença humana na selva não significa que seja desabitada. O placename indígena nos lembra que para os ameríndios a selva está continuamente repleta de uma multiplicidade de seres que permanecem invisíveis para nós (…). Ao colar fragmentos de diferentes fotografias, sobrepô-los e fotografá-los novamente com a manipulação de cores, dá à cena um tom azulado. Em Ambé, Reisewitz cria um ambiente quase espectral irreal; ele mostra a imagem de um sonho ou a visão de um xamã. Apesar da nossa incapacidade de ver os seres invisíveis da selva, ainda somos capazes de sentir sua presença (…).