Um arquiteto a frente do seu tempo. Noel Marinho (1927 – 2018) atuou ao lado de grandes mestres como Oscar Niemeyer e Lucio Costa, por isso é representante da geração que participou intensamente dos áureos tempos da arquitetura brasileira moderna, a partir dos meados dos anos 50. Muito mais que um arquiteto, Noel era um exímio muralista e sempre teve um especial interesse pela integração do azulejo e do mosaico, personagens semióticos marcantes na Arquitetura Brasileira.
Desde o início, desenhou painéis de azulejos – sua cabeça estava em constante criação, desde desenhos até colagens. Ainda pouco conhecida do grande público, essa produção de composições improváveis de formas e cores e o alinhamento de Noel à estética do modernismo que vigorava nas artes e na arquitetura no período de sua formação, era um tesouro escondido, revelado por sua filha Patrícia Marinho e pela curadora e museologista Heloisa Amaral Peixoto, através do projeto que leva o nome do artista.
Para SP-Arte 2021 – de 20 a 24 de outubro
Com seu olhar apurado, a galerista Marcia Barrozo do Amaral, selecionou 11 obras inéditas de Noel Marinho para seu estande na SP-Arte desse ano. A galerista é conhecida por apresentar apenas um artista nas grandes feiras. Marcia já levou nomes consagrados como Frans Krajcberg, Ascânio MMM, Hilal Sami Hilal, entre outros.
As peças apresentadas foram desenvolvidas a partir de 8 matrizes cujas composições e cores partem de trabalhos originais de Noel. A paleta de cores exclusiva foi desenvolvida juntamente com a olaria pelo próprio artista.
Como arquiteto, Noel também se dedicou ao design de mobiliário, joias e tapeçarias dentro do espírito modernista que sempre o acompanhou. Além dos painéis e quadros de azulejos, a individual também irá apresentar o banco “TRAÇADOS”, criado originalmente nos anos 1960 e a tapeçaria nos anos 50, feita a partir de uma série de 3 desenhos em nanquim.
Do Nanquim para tapeçaria
“Noel era ao mesmo tempo arquiteto, artista, criador de mobiliário e designer. Esse desejo de ser um “um artista total” era muito presente na sua geração pela imensa influência de Le Corbusier”. André Correa do Lago, diplomata e crítico de arquitetura, em extrato de sua apresentação no livro Noel Marinho: uso imaginoso dos azulejos.
Nas palavras do arquiteto suíço, esses “murais nômades dos tempos modernos” ganharam forma e estrutura nas mãos de tecelões experientes, associando processos manuais e mecânicos, criando genuínas esculturas têxteis. As tapeçarias do período que marcam o auge da arte moderna brasileira comprovam o vasto repertório de materiais e técnicas que os arquitetos e artistas da época empregavam em suas criações.
Dentro do conjunto de desenhos e pinturas dos anos 50 e 60 realizados por Noel, destacam-se 3 desenhos em nanquim – 24 x 31cm, que chamam a atenção pela força do risco, a firmeza do traço e o domínio do pincel e do tira-linhas. Esses trabalhos, datados de 1958, foram transportados em um suporte têxtil nas dimensões 1.80 x 1,20m, criando a sua linha de tapeçarias – uma delas será apresentada na SP-Arte.
Projeto Noel Marinho
Em 2012, a arquiteta Patricia Marinho, sua filha, sócia do escritório desde 1985, se propôs a resgatar o trabalho de muralista de Noel e começou a organizar e catalogar os desenhos arquivados há anos, incentivando o pai a dar continuidade às suas criações.
O projeto Noel Marinho vem desde 2015 organizando e catalogando todo o repertório criado pelo artista ao longo de sua vida. Grande parte do conteúdo e de seu acervo foi apresentado no livro “Noel Marinho: o uso imaginoso dos azulejos” no final de 2019.
O Catálogo raisonné possui mais de 70 matrizes originais que são lançadas segundo a supervisão de Heloisa Amaral Peixoto, curadora permanente do núcleo criativo do projeto NM. Dimensões, tiragem das edições e reinterpretações ficam a cargo do Núcleo Criativo.
Além de reeditar coleções dos 60 e 70, foram incorporados elementos gerados nos últimos 10 anos, expandindo seu universo de criação de design. Desde o início a marca Noel Marinho contou com a assessoria da curadora de arte Heloisa Amaral Peixoto.
Embora Noel não esteja mais conosco, falecido em 2018, aos 90 anos, ainda participou ativamente da elaboração do livro lançado pela Editora OLHARES no final de 2019, que ilustra o trabalho de uma vida. O grande acervo inédito que deixou vai permitir que sua arte e seu legado se perpetuem.
Para Noel “o painel de azulejos é um elemento de representação estética que interage com a arquitetura moderna brasileira”.