Conheci o artista plástico Noé C. K. há alguns anos e gostei do seu trabalho. Uma atitude rebelde e misteriosa que se aplicava no trabalho daquele momento e também na sua persona. Dentro daqueles olhos verdes existia uma inquietação melódica e ás vezes até nostálgica. Mas, na verdade esse mundo de mistérios para mim estava quase inatingível. Sempre que via suas recentes produções buscava por esse encantamento.
Na última semana fui visitar a exposição “Inconsciente Consciente” em seu atelier Studio e senti que alguns de seus mistérios foram revelados e apresentados em seus recentes desenhos e esculturas. Um mundo inquietante e sedutor com formas e signos mais complexos e cheios de sentimentos.
Conversamos sobre a exposição e também o seu processo criativo.
1) Quando você começou a se interessar pelas artes plásticas?
Desde criança sempre gostei de desenhar, meu avô, Chico Calmon, era pintor e eu me inspirava nele, ele pintava muitos cavalos e paisagens, igrejas, janelas e praias. Meu pai também desenhava, fazia uns desenhos mais surrealistas, apesar de ter parado, gostava muito e tinha talento… não por acaso meu trabalho me parece uma mistura do estilo de um e de outro, como se eu tivesse continuado o que ele começaram.
2) Sua educação familiar te aproximou das artes?
Com certeza, cresci com a oportunidade de frequentar bons museus e ver coleções incríveis de perto, estudar história da arte entre outros cursos sobre o assunto.
3) Se você for definir sua trajetória artística como você definiria?
Eu diria que aconteceu sem querer, nunca foi uma decisão, nunca disse“vou ser artista”. Quando eu percebia era o que estava acontecendo naturalmente.
4) Quais são suas referências ?
Como eu disse na primeira resposta, meu avô e meu pai sem dúvida foram referências… dentre os famosos eu nunca me espelhei em alguém específico, admirei e admiro diversos artistas mas não tem um que eu possa dizer que foi um modelo pra mim. Acho que a vida é minha maior inspiração, as histórias que passamos, as aventuras, os amores vividos, os conflitos internos, as soluções…
5) O que você gosta de desenhar?
Meus desenhos são sempre figurativos, gosto de seres vivos, misturas de humanos com animais… e sempre parto do inconsciente, meus desenhos surgem muitas vezes sem planejamento, como sonhos.
6) Você constrói estórias com suas pinturas?
Sem dúvida, alguma estória está sendo contada, ou alguma questão está sendo levantada nos meus trabalhos… se analisados com calma e profundidade o espectador vai viajar em sua imaginação.
7) Conta um pouco sobre seu momento criativo.
A ideia me vem à cabeça as vezes em momentos inesperados, pode ser que eu esteja andando de bicicleta e me vem um desenho em mente, paro a bike, peço um guardanapo e caneta pra alguém, e esboço aquela ideia pra não perdê-la.
8) Porque você decidiu expor no seu atelier?
Já tive parcerias com galerias, mas dessa vez eu quis experimentar de uma maneira que eu nunca havia feito, uma forma que me deu mais liberdade pra fazer do meu jeito e no meu tempo. Acho interessante também pro visitante poder entrar no studio do artista, ver a mesa, os pincéis, a roupa de trabalho suja de tinta, ser recebido pelo próprio artista e poder fazer suas perguntas diretamente pra ele ao invés de passar por uma terceira pessoa.
Além disso os tempos mudaram e conseguimos divulgar muito usando as mídias sociais, o colecionador hoje envia mensagens diretamente pro artista perguntando sobre a obra que lhe interessa, conseguimos comprar e vender em instantes usando o smartphone. Até agora estou muito satisfeito e já vendi alguns trabalhos através do instagram, antes mesmo da abertura.
9) Como é seu processo criativo principalmente suas esculturas?
Cada uma é uma história, os materiais e processos variam: catar restos de vacas mortas nos pastos de fazendas depois limpa-los, frequentar lojas de artigos de carnaval no centro da cidade, comprar madeira e amarrar no teto do carro, arrumar maquinas de corte e furadeiras… enfim… depois que tiver tudo no studio é montar e colar e pintar, esperar secar, experimentar de um jeito e de outro… é bastante trabalho, não sei muito bem porque eu faço isso, sinto como se eu tivesse a obrigação de fazer aquilo existir no mundo.
10) O que são as sereias o que elas representam?
Uma das histórias mais famosas sobre as sereias é que elas encantavam os pescadores e depois afundavam o barco deles afogando-os… faço uma analogia dessa história com os amores que vivi, que me levaram ao êxtase e ao sofrimento. O amor tem dessas coisas, nos encanta e nos afoga, é lindo mas é duro, por isso as sereias.