O artista plástico Leo Battistelli é inspirado diariamente pela natureza que o cerca seu habitat. Esse encantamento vem desde sua infância na Argentina. Partículas de genomas ganham formas através da cerâmica e de outros suportes. Formas orgânicas que impactam com seu colorido e volume. O artista tem lugar no mundo. Suas obras atravessam continentes e são atemporais porque investigam essa relação da natureza e espaço. Léo conversa com o site e conta sua trajetória e através dela podemos conhecer um pouco mais do seu mundo sem fronteiras.
Meus pais tinham no começo dos anos 70 um ateliê de bonecos de pano, cresci dentro desse ambiente de criação e participava ajudando nas diferentes tarefas que a minha idade me possibilitava, comecei com tarefas que não fossem perigosas como enchimento dos bonecos, marcar os tecidos para o corte, construir as perucas das bonecas e depois passei as tarefas mais complexas como pintar olhos, usar as tesouras, agulhas e a prensa de corte; foi minha primeira experiência escultórica que começou nos meus 6 anos de idade e foi ate os 12.
Cresci numa casa onde a televisão não existia e a leitura incentivada, meus pais achavam a programação da televisão da época nociva para nossa educação e nos incentivavam a leitura, eles tinham uma boa biblioteca em casa e com os anos fui me associando em bibliotecas das diferentes entidades que participava, clubes, escolas, etc. Cheguei a ser sócio de 6 bibliotecas.
Meus avós também foram importantes na minha educação artística, os pais de Luis meu pai, tinham uma casa toda trabalhada artisticamente. Meu avô Alfredo criava murais de cerâmica e materiais de descarte revestindo as paredes e objetos na casa onde moravam; meu pai pintou grandes murais em nanquim no quarto dele, as suas irmãs pintavam com tinta óleo e minha avò Nélida bordava e tocava piano.
Já os pais da minha mãe, Maria e Marcos, me educaram na cozinha e na musica também. Maria era uma eximia cozinheira e com ela aprendi a gostar de cozinhar e do serviço de louça, Marcos tentava me ensinar a tocar acordeom e os dois me ensinaram a mexer com as plantas e a identificar e usar ervas medicinais. Os 4 avós me ensinaram a respeitar os materiais e a recicla-los. Marta minha mãe me ensinou a desenhar, a gostar de cinema e foi ela que me adentrou no mundo da cerâmica. Quando acabei a escola estudei Belas Artes na Universidade Nacional de Rosário especializado em Escultura e ganhei durante meus 5 anos de estudos 3 bolsas para especializar em cerâmica fora da Universidade.
As tintas, a experiência cromática o que você busca nesse material?
A lista seria interminável das experiências artísticas que me impressionam, a maioria elas da antiguidade e de diferentes culturas do mundo todo. Não sou muito deslumbrado por arte tecnológico contemporâneo, prefiro a presença da mão, da energia do artista na obra. Minhas obras no tem referencias de outros artistas, minhas referencias são exclusivamente da natureza e de científicos, antropólogos, arqueologos ou pesquisadores dela.
Só duas vezes fiz dialogo com dois artistas no começo dos anos 2000; um era Lucio Fontana onde dialogava com uma obra dele, um ovo chamado “Conceito spaziale” dos anos 60 e com Andreas Livabius, alquimista alemão padre da química moderna.
A obra que vou fazer em Argentina agora em novembro, dialoga com a historia da Astronomia e das descobertas onde se identificam os objetos luminosos que vemos no Universo que nos rode-a. Estou fazendo “Dialogo Estelar”, uma obra monumental, um mapa, um espelho de água de 240m2 numa praza em Puerto Madero, Buenos Aires; onde 2.500 semiesferas de porcelana pintadas em ouro e platino refletem o céu Austral. Esses 2.500 espelhos em ouro e platino identificam as antigas 88 constelações e as novas descobertas ate nosso presente.
Vivo da minha arte e jà vão 27 anos de relacionamento ativo com o mercado das artes. Trabalho com galerias, vendedores autônomos, curadores, arquitetos, colecionistas, museus e construtores.
A pouco tempo comecei a publicar meus livros em Instagram, publiquei “Marca d’agua”, um fotolivro que editei na Argentina onde exponho uma grande seleção de obras dos anos 1995 ate 2018; depois publiquei “Las esferas de la Percepción” libro objeto editado pela UQ Editions no Rio de Janeiro. Estou editando em Argentina “Rancho Palido”, um livro com toda minha produção utilitária e quando este pronto possivelmente publique também digitalmente.
