Nas minhas andanças por Ipanema, lá por volta de 2008 me deparei com a exposição do artista Walmor Corrêa, na galeria Laura Marsiaj. Foi uma surpresa. Daquelas que não esquecemos. Ficou marcado as imagens daqueles seres que habitavam o mundo do artista naquele momento. Anos depois o conheci e outra surpresa. Calmaria, mansidão aliado a uma simpatia genuína. Como aqueles seres habitavam naquele corpo. Saíam daquela cabeça. Sempre me intrigou. Hoje conversamos pelas redes e aguardamos nos reencontrar para conversarmos sobre esses novos seres que habitam nosso ambiente.
Segue algumas perguntas e respostas e curiosidades sobre o artista Walmor Corrêa.
1) Quando você descobriu que era artista?
Desde pequeno sempre desenhei, como não fiz faculdade de belas artes e sim arquitetura, tinha muito pouco contato com o universo das artes, então minha poética não estava clara. Entrei em contato com o pensamento artístico, de verdade, em duas situações, a primeira foi o encontro com uma curadora alemã que foi visitar o meu ateliê e tivemos uma conversa de praticamente um dia inteiro, no decorrer desse “papo” ela me perguntou: “Você tem ideia de onde quer chegar com o seu trabalho?”. Essa pergunta ecoou muito forte dentro mim e fiquei me questionando qual era o intuito de eu produzir o que eu produzia. Depois disso fui para a Amazônia e passei três meses fazendo uma pesquisa sobre a natureza. Na verdade, naquela época eu me interessava muito por insetos e lá na Amazônia eu tive um insight, queria produzir alguma coisa que não fosse simplesmente estética. E ali então se iniciou minha carreira como artista. Ou melhor, naquele momento eu soube das infinitas possibilidades de representações que a arte nos oferece.
2) Suas pesquisas iniciais, qual era o foco?
A questão dos viajantes no Brasil, o olhar estrangeiro sobre esse lado fantástico brasileiro sempre me causou muito interesse. No ano 2000 fui para Amazônia com intuito de me aprofundar, li as cartas escritas pelo padre José Anchieta de 1560, onde ele descreve a existência do Curupira e do Ipupiara nas terras brasileiras.
E estando lá, mais precisamente no rio Ariaú, as pessoas me falavam com muita propriedade do Curupira, das sereias, desses mitos todos e naquele momento me dei conta de que se o estudioso padre tinha revelado esses mitos em 1560 e que depois de quase 500 anos essas lendas permaneciam vivas, como seria isso tudo visto pelo olhar investigativo de um artista? Foi quando resolvi fazer o estudo anatômico desses mitos com o auxilio de médicos especialistas e biólogos, produzindo assim a série “Atlas de anatomia de mitos híbridos brasileiros“, resultando numa série de cinco grandes pinturas, Ipupiara, Ondina, Cururpira, Capelobo e Cachorra da Palmeira. Iniciando ali esse cruzamento ent
re arte e ciência, questão bastante presente na minha poética.
3) A observação de linhas e de detalhes estão presentes em seu trabalho quando isso ficou mais presente?
Essa característica é inerente a mim e desde sempre foi. Meu trabalho é absolutamente reflexo da minha vida. Sou curioso, observador, também muito prático e preciso. Por exemplo, desde pequeno fiz terapia e continuo fazendo porque sempre gostei de esmiuçar, questionar e mergulhar fundo. O desenho permite uma riqueza de detalhes que me acalma.
4) Você tem um universo de seres muito particular como eles surgem na sua criação?
Sou um colorista, tentando explicar através do meu trabalho a fantasia desse mundo preto e branco.
5) O que você pesquisa atualmente?
Costumo me identificar como um caçador de vírgulas, sempre atento às vírgulas e interrogações do mundo que me cerca. A vírgula é aquele momento curioso onde o meu pensamento artístico pode se desenvolver. Tudo que me interessa pode responder alguma pergunta. Não tem assim, um caminho único, quando um assunto me toca eu investigo e isso pode ou não resultar num projeto artístico. No momento a palavra excludente tem permeado minhas pesquisas.
6) Com esse advento do Corona 19 o mundo celular está muito presente em ilustrações diárias esse mundo te interessa?
Me interessa, claro! Essa questão do olhar científico é um tema que me desperta curiosidade desde pequeno. Quando começou a pandemia aqui no Brasil, em meados de fevereiro, março, algumas pessoas amigas do universo da arte me perguntavam como um artista como eu, que trabalha nessa interface de arte-ciência via essa questão. Como seria esse vírus, qual seria aparecia de dele. Confesso que fiquei travado nessa direção, era tudo muito novo pra mim, pois nesse caso era um vírus real, afetando diretamente a minha condição de liberdade, não era um vírus imaginário, então dar uma forma pra isso era confuso. Nesse momento eu fiquei meio estagnado, fiquei muito tempo no ateliê pensando sobre o que me representava esse momento. E o resultado dessa reflexão foram obras onde a animais de raças completamente diferentes convivem em harmonia.
7) No Brasil você está presente em diversas coleções e instituições, você faz planos para seu futuro?
Raramente penso nisso. Sou um artista que vive muito o próprio universo e deixo a obra tomar conta da carreira.
8) E as esculturas objetos você tem feito?
Sou um artista que utiliza qualquer método que faça sentido nos projetos que desenvolvo, as esculturas e objetos seguem esse raciocínio.
9) O que você quer fazer depois que tomar a vacina?
Viajar, viajar, viajar…