A Casa Triângulo inaugurou Nigredo, primeira exposição individual de Thiago Rocha Pitta na galeria. A mostra, que conta com texto curatorial de Pedro Cesarino, reúne a produção multimídia e mais recente do artista.
Thiago explora através de vídeos, esculturas e pinturas a relação do homem com a natureza e o tempo. Sempre de maneira meditativa, o artista parece querer capturar fenômenos naturais por meio de técnicas e gestos simples e, ao mesmo tempo históricos, a exemplo de seus afrescos e aquarelas. Desde o início de sua carreira, Thiago explora as questões relativas ao surgimento do homem. Em suas obras iniciais, apresentava e trabalhava as células de cianobactéria, já havia uma busca pela origem da vida, um questionamento sobre processos, mas que, com o passar do tempo, se tornaram atualmente intenso e caótico. Thiago parece se encontrar neste momento, explora o caos após o surgimento da vida.
Nesta individual na Casa Triângulo, Thiago questiona todo o processo até aqui. As obras expostas incitam uma ação, o artista fornece os materiais primários para que o espectador tome a frente. Fósforo, madeira, portais e eclipses parecem direcionar este que observa a tomar uma decisão e, consequentemente, agir sobre o que lhe é proposto. Uma mudança parece estar iminente. Outras obras, ao mesmo tempo, evidenciam algo que já acontece, sem que precisemos fazer qualquer escolha, aqui somos apenas observadores. Em Nigredo temos o sentimento de que algo pode acontecer e, ao mesmo tempo, já está acontecendo e é justamente isso que sentimos ao adentrar o universo do artista nesta mostra.
Em obras como Phosphorum Amplificatio, e Portal Noturno, o artista parece fornecer os materiais que irão transformar o momento atual, transcender o tempo e lugar em que vivemos. O instante póstumo à ação é visível em outros trabalhos como Grande monumento alquímico e Incêndio no museu, onde uma ação se desenrola livremente e, curiosamente, alimenta-se dos materiais fornecidos pelo artista em outras produções. Já Retorno do Bendegó e Suplício de Cabral nos permitem presenciar o começo de um fim. A mudança do que foi e a promessa do que virá a ser.
Os eclipses retratados pelo artista podem representar, também, um ponto de mutação. Como no caso da obra Eclipse da Lua; 27 de julho de 2018 que pode ser percebido como um prenúncio do incêndio que atingiu o Museu Nacional em setembro do mesmo ano. Outro trabalho, Eclipse do Sol de 02 de julho de 2019 também parece anunciar o período desafiador que viria à frente no mesmo ano. Tais coincidências permeiam o trabalho do artista que irá inaugurar a exposição no dia 19 de junho e, dois dias depois, no dia 21, completa 20 anos de carreira e, não obstante, a data marca também o início do solstício de Inverno.
A promessa do novo e a premissa de um futuro se encontram nos registros do artista e em toda a sua produção que aparenta aprisionar um momentum. O tempo, como tido pela fenomenologia, é singular e pessoal, mas aqui em Nigredo, há uma socialização deste. Nascemos e estamos, todos, no mesmo barco em chamas ou até mesmo, observamos este incêndio acontecer – como no caso do Museu Nacional, a que a vídeo instalação The cloopen door faz referência – juntos.
Através dos trabalhos apresentados, o artista estimula o espectador a tomar frente em relação às situações que lhes são expostas. O tempo é paralisado durante a exposição, cabe àquele que observa decidir o caminho a ser tomado. A dualidade das escolhas também faz-se presente durante todo o percurso. O que pode salvar é também o que pode iniciar o fim.