Lenços estampados com imagens inéditas são destaque na mostra
Um encontro de amigos de longa data com muito em comum. Uma relação de amizade e profunda ligação com a natureza e com o Sul da Bahia levaram a exposição “Natureza Inventada” de Carlos Vergara, um dos mais importantes artistas da atualidade, à Galeria Hugo França, em Trancoso.
Composta por esculturas em aço corten, monotipias, gravuras e impressões inéditas estampadas em lenços, a mostra apresenta a multiplicidade da obra de Carlos Vergara e sua constante reinvenção de linguagem, matérias e técnicas, realizadas ao longo de mais de cinco décadas dedicadas à arte.
Mais do que ocupar o espaço de 300 metros quadrados em meio à mata atlântica, já muito frequentado pelo artista, a exposição, idealizada e realizada a partir de uma parceria entre a Galeria Bolsa de Arte e Hugo França – que inaugurou a galeria para inserir Trancoso no circuito da arte nacional e internacional -, propõe um convívio harmônico entre obra, espectador e paisagem.
Entre os destaques da mostra está a série de lenços estampados com imagens criadas pelo artista, produzidos especialmente para a exposição. Eles são resultado de monotipias inseridas sobre as formas dos tecidos amassados e sobre um colorismo alquimista, que fazem parte do universo experimentalista desenvolvido por Vergara no campo da pintura contemporânea, desde os anos 80.
Nas esculturas em aço corten, o artista busca evidenciar a passagem do tempo. De uma estrutura pesada e com presença altiva no espaço, a escultura logo se converte em um corpo suscetível a instabilidades. A oxidação e o surgimento de “imperfeições”, relevos, crostas, “desgastes” sobre a sua superfície associam-se a uma metáfora sobre a passagem de tempo e o envelhecimento de um corpo.
Por fim, a série de gravuras feitas com os moldes das esculturas revela alguns sentidos, como a simultaneidade entre projeto e acaso, uma marca da produção do artista como um todo. Se, em um primeiro momento Vergara planeja os cortes de aço para montar as estruturas, em um segundo, ao usar a tinta, o acaso entra em cena e o resultado é uma mescla do que foi calculado e do comportamento imprevisível do contato entre matérias-primas.
Nesta exposição, a natureza não está apenas presente nas criações, ela é o meio, a própria obra. Tanto as monotipias – processo de decalque da natureza no qual o pigmento, a cor, a textura e os materiais que vêm da terra constroem uma nova forma de expressão para a pintura – quanto as esculturas e as pinturas fazem uso da natureza como matéria.
A cada obra, a mutabilidade do meio ambiente traduzida em expressão artística, é um verdadeiro convite para o público lançar um olhar mais presente e sensível às mudanças e situações que, por estarem todos tão concentrados em si mesmos, acabam despercebidos.
Carlos Vergara – Natureza Inventada
Galeria Hugo França – Trancoso (BA)
Visitação: 28 de fevereiro – segunda a sábado, das 10h às 17h. Aos domingos, mediante agendamento.
Sobre Carlos Vergara
Nascido na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 1941, Carlos Vergara iniciou sua trajetória artística nos anos 60. Em 1965, participou da mostra Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, exposição seminal na história da arte brasileira. Nos anos 70, seu trabalho passou por grandes transformações e começou a conquistar espaços de destaque, principalmente com fotografias e instalações.
Desde os anos 80, pinturas e monotipias têm sido o cerne de um percurso de experimentação. Novas técnicas, materiais e pensamentos resultam em obras contemporâneas, caracterizadas pela inovação, mas sem perder a identidade e a certeza de que o campo da pintura pode ser expandido. Em sua trajetória, Vergara realizou mais de 180 exposições individuais e coletivas com o seu trabalho. Integrou, em 1980, a 40ª edição da Bienal de Veneza e participou de 5 edições da Bienal de São Paulo, em 1963, 1967, 1985, 1989 e 1994.