A gozto, galeria de design do Rio abre suas portas pela primeira vez para um diálogo entre o design e a arte na quinta-feira ( 27/10) no Beco do Boticário, 1 – Rio de Janeiro. O encontro é através da exposição “Lerner & Bokel”, onde peças de mobiliário de metal criadas pelo grande arquiteto, urbanista e designer paranaense JAIME LERNER – três delas inéditas no Rio – dialogam com o trabalho do artista plástico carioca ANTONIO BOKEL – um painel de pintura efêmera no interior da galeria – numa mistura que encontra a beleza da simplicidade, essência de Lerner, e a rebeldia e os contrastes de Bokel.
“É um reinício, uma primeira vez em que a gozto faz uma exposição mesclando a arte ao design”, explica Sergio Zobaran, curador e galerista no icônico e restaurado casarão do Largo do Boticário, onde funcionou durante 32 anos o atelier do artista plástico pernambucano Augusto Rodrigues (1913-1993). A assessoria de design e arte é de Katia d’Avillez, que trouxe a marca JLD – Jaime Lerner Design.
Convidado por Zobaran, Antonio Bokel – artista representado pela galeria Mercedes Viegas – criou um painel às vésperas do evento de abertura, na sala expositiva, e que irá durar apenas pelo período da exposição, que segue até o dia 17/12/2022. Para Bokel, o trabalho mostra diálogos interessantes, como o das fronteiras entre o design e a arte, entre diferentes gerações, entre a pintura e a escultura, e entre um arquiteto do Paraná e um artista plástico do Rio de Janeiro: “Um ponto básico é o contraste entre o geométrico e o orgânico”, explica.
As quatro peças de Lerner expostas na gozto: chaiselongue Urca, estrutura única em fibra de vidro com reforço em madeira; cadeira W; poltrona M; e cadeira Lua Turca, todas com estrutura de aço carbono e pintura automotiva, parte da coleção da JLD, criada em 2019 com Samira Barakat, sócia-fundadora que hoje desenvolve e executa as obras de mobiliário do arquiteto. Miniaturas das obras estarão à venda na abertura simultânea da seção “goztocasa”, em outra das quatro salas da galeria.
Três vezes prefeito de Curitiba e duas vezes governador do Paraná, Jaime Lerner (1937-2021), liderou a revolução urbana que fez da cidade paranaense referência nacional e internacional em planejamento urbano, principalmente em transportes, meio ambiente, cultura, programas sociais e em projetos urbanísticos. Nos períodos em que não ocupou cargos públicos, exerceu intensa atividade em arquitetura e urbanismo. Em 2018, foi eleito pela revista norte-americana de planejamento urbano Planetizen como o segundo urbanista mais influente de todos os tempos, atrás apenas de Jane Jacobs.
Segundo Jaime Lechinski, jornalista e grande amigo de Lerner, o que se vê nas criações dele é um minimalismo quase extremado. “Com o metal, compõe formas de grande leveza, sem empregar qualquer outra peça que não a chapa dobrada. Com a madeira e outros materiais, a mesma leveza em elegantes movimentos, que tanto podem ser meras abstrações como também homenagear expressões da natureza. É essa busca incessante do simples, a mesma busca que sempre marcou sua já longa trajetória de urbanista, que confere ao seu mobiliário essa beleza desconcertante, portadora de uma alma que não acredita em inspiração, antes se alimenta da informação e da observação, fontes de seu processo criativo.”
Samira relembra que Lerner sempre carregava no bolso uma caneta e um pequeno caderno moleskine, onde desenhava suas ideias de projetos, mobiliários e poesias. “Todos foram guardados e temos hoje uma coleção desses verdadeiros ‘cahiers d’artiste’”. Para ele, o design surgiu em sua vida por acaso, “SUZINHO” como ele dizia, a partir de dados e de pesquisas. Não acreditava em inspiração e sim em dados. A partir dos dados, segundo Lerner, nasciam as ideias.
“Tudo começou com uma ‘brincadeirinha’, segundo o próprio Jaime Lerner. Em 2007, quando entrei no escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados como estagiária, ele me mostrou os desenhos dos mobiliários nos moleskines, e me pediu para fazer maquetes em miniaturas de todas as peças que havia desenhado, algumas delas ao longo de muitos anos”, conta Samira.
O desenvolvimento dos móveis foi um longo processo, que começou em 2015. O conceito da JLD é um produto sem furos, sem parafusos, apenas corte e dobra. “Simplicidade”, resume Samira.
Em meados de 2016, Jaime lançou a primeira peça, a poltrona Duo. No mesmo ano, aconteceu o protótipo da Chaise Urca, e em 2018, a primeira exposição de linha de produtos, em São Paulo, com cinco peças. Além da Chaise Urca, estiveram lá a Lua Turca, o banco W, a poltrona M e o banco Toinoinoin. Todas as peças são exclusivas, assinadas e numeradas.
“Se você tem um sonho, não desista! Se você se dedicar com profundidade a este sonho, um dia ele vai dar a volta, vai te tocar e dizer: Tá lembrado de mim? Eu sou teu sonho!”, dizia Jaime Lerner. A gozto tem a representação da Jaime Lerner design para o Rio e, em breve, também para Belo Horizonte