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Mostra, que será aberta ao público no dia 28 de junho, apresenta 54 pinturas que articulam o paisagismo com a ecologia

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Fernando Leite Cannabis óleo sobre tela 65 x 50 cm, 2022

 

No dia 28 de junho, o artista Fernando Leite abre ao público sua exposição individual, Ex-ótica, no Paço Imperial, Centro do Rio de Janeiro. Realizada sob a curadoria do renomado crítico de arte e pesquisador Paulo Herkenhoff e com apoio do Instituto Inclusartiz, a mostra conta com 54 obras de dimensões variadas em que o artista articula o paisagismo com a ecologia e posiciona a história natural como índice histórico da formação social do Brasil.

Nesta exposição, Fernando Leite apresenta quatro séries de trabalhos desenvolvidos nos últimos anos: Ver te (2015-2023), Igapós (2017-2023), Mira (2020) e Cannabis (2022-2023). O título da mostra faz alusão às espécies exóticas retratadas pelo artista na série Ver te, iniciada em 2015, cuja primeira pintura foi baseada em uma fotografia que ele registrou no Jardim Botânico do Rio de Janeiro para a capa de um livro nunca publicado sobre os 200 anos do nascimento de Charles Darwin. A imagem, encomendada pela editora Vieira e Lent, portanto, não foi usada.

Fernando Leite_Igapo_2019_oleo sobre tela 60 x 60 cm
Fernando Leite_Igapó_2019 óleo sobre tela 60 x 60 cm

 

“Em seguida fiz outras duas pinturas e comecei a fazer incursões fotográficas pelas áreas de Mata Atlântica para capturar mais imagens. Fui à estrada do Redentor, Paineiras e Floresta da Tijuca. Depois Teresópolis e Itatiaia. Uso a fotografia como guia, para não ter que inventar ou criar alegorias. Não há um vetor expressivo no uso do verde. Ao usar a cor local (a folha é verde, o céu azul, a terra marrom), fico livre para tratar da pincelada e da mancha como elementos fundamentais da construção da imagem”, explica.

No começo deste processo, o artista estava interessado em mimetizar, em ser eficiente na cópia da imagem fotográfica e em ter uma imagem pictórica razoavelmente convincente, mas a construção pela mancha lhe pareceu muito mais interessante, levando o projeto a outros rumos.

Fernando Leite_Igapo_2019_oleo sobre tela 60 x 60 cm_
Fernando Leite_Igapo_2019_oleo sobre tela 60 x 60 cm_

 

“As paisagens retratadas por ele parecem aludir claramente à região do Rio de Janeiro, com a Floresta da Tijuca e as palmeiras imperiais (Roystonea oleracea), espécie abundante na cidade, trazida das Antilhas para o Brasil. Presente no Jardim Botânico, no Parque Lage ou no bairro do Flamengo, a Roystonea é um signo vegetal da presença atual de espécies exóticas nas florestas do Brasil”, completa Paulo Herkenhoff.

Uma informação interessante é que, ao longo do período expositivo, entre 28 de junho e 20 de agosto de 2023, serão distribuídas ao público visitante da mostra um total de 3 mil sementes de Roystonea Oleracea.

Já a série Igapós é composta por pinturas quadradas que inicialmente usavam a matriz fotográfica das imagens P&B do francês Marcel Gautherot (1910-1996) nas áreas alagadas da Floresta Amazônica da década de 1940.

“Numa segunda etapa, ao trabalhar no livro ‘Amazônia XXI’, recebi várias imagens de artistas da região e algumas delas tinham o mesmo sistema das imagens de Gautherot: a água espelhando o céu; o céu dentro da água, como nas Nymphéas de Monet. Usei algumas delas em pinturas. Uso nessa série imagens de outras pessoas, porque nunca fui à Amazônia”, conta o artista.

Fernando Leite_Mira
Fernando Leite Mira, 2020

 

A série Mira conta com 20 pinturas produzidas em óleo sobre madeira durante o período mais restrito da pandemia da Covid-19, em 2020. O pintor elucida que este conjunto de obras foi criado a partir de registros diários do céu, em diversos horários.

“Naquele momento, era a paisagem possível, a vista da área de serviço da minha casa. A partir dessas imagens, fiz pequenas pinturas sobre algumas placas de madeira que eu tinha em casa, em azul, branco e cinza, retratando o céu nos dias de maio, junho e em alguns meses seguintes. Nem todos os dias haviam nuvens, às vezes o céu era totalmente azul, e assim ficou registrado”, relata.

Para falar sobre esta série, Paulo Herkenhoff relembra o mais importante ensaio sobre as nuvens na historiografia da arte, a Théorie du nuage, pour une histoire de la peinture (1972), escrito pelo filósofo francês Hubert Damisch (1928-2017).

“As paisagens nebulosas de Fernando Leite introduzem um elemento meteorológico que Damisch não poderia ter abordado, que são os ‘rios voadores’, pois esta expressão foi criada mais recentemente para designar cursos d’água invisíveis constituídos pela umidade (evapotranspiração) produzida pela Floresta Amazônica, que bombeia umidade sobretudo na direção do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e alguns países limítrofes”, exemplifica.

A quarta série apresentada na exposição, Cannabis, teve como mote o tratamento com canabidiol iniciado pelo artista em 2022 para tratar insônia, ansiedade e depressão. O recurso terapêutico funcionou bem e fez com que Fernando Leite, além de dormir melhor, começasse a ter sonhos interessantes que desencadearam em um conjunto de pequenas pinturas de flores de Cannabis, construídas de maneira afetiva e despretensiosa com base em referências encontradas na internet.

“Entendi a potência pictórica das flores e a maneira como eu me relacionava afetivamente com elas. Aprofundei o método e fiz dezenas de pequenas pinturas, entre flores individuais, ramagens e plantações, sempre utilizando imagens da internet. Algumas pinturas são mais descritivas, outras mais gráficas com cores estridentes, outras mais gestuais”, finaliza.

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Fernando Leite, Ver te Jardim__2023 óleo sobre tela_190 x 130 cm

 

SOBRE O ARTISTA

Fernando Leite (Araraquara, SP, 1964) é formado em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988). Em 1982, frequentou cursos de pintura com Aluísio Carvão e desenho com Gastão Manoel Henrique no Museu de Arte Moderna (MAM-RJ). Na Escola de Artes Visuais do Parque Lage foi aluno de Nelson Augusto (1985), Manfredo de Souzanetto (1986), Ronaldo do Rego Macedo (1988) e Fernando Cocchiarale (1992). Entre 1999 e 2000 morou em Nova York como bolsista da Pollock-Krasner Foundation, onde cursou Graphic Design na Parsons New School of Design, e Silkscreen Studio na School of Visual Arts; frequentou também a oficina de gravura da Mason Gross School of the Arts – Rutgers University (New Brunswick, New Jersey) sob a orientação de Lynne Allen.

Participou de diversas exposições coletivas, entre elas: Novos Novos (Centro Empresarial Rio, 1987); Salão Carioca de Artes Plásticas, 1985 e 1988; Salão Paulista de Arte Contemporânea, 1989; Doze Caminhos (Galeria MontesantiRoesler, 1990); Sechs Aus Rio (Maerz Gallery, Linz, Áustria, 1993); Suporte (Galeria Vilaseca, 2007); e Verdadeira Grandeza (Ateliê da imagem, 2008). Expôs individualmente na Galeria Marcia Barrozo do Amaral (2018), no Centro Cultural São Paulo (2000), no Centro Cultural Cândido Mendes (1995), na Galeria Centro Empresarial Rio (1990) e na Galeria Macunaíma, Funarte (1987).

SERVIÇO

Ex-ótica, de Fernando Leite
Abertura: quarta-feira, 28 de junho, das 16h às 19h
Visitação: terça-feira a sábado, das 12 às 18h, até 20 de agosto
Paço Imperial — Praça Quinze de Novembro, 48 – Centro – Rio de Janeiro
Entrada franca

Mais informações em http://amigosdopacoimperial.org.br/

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