No mês do aniversário de Nara Leão, o musical NARA – A MENINA DISSE COISAS volta para apresentações no Rio de Janeiro e em Niterói. Em cena, Aline Carrocino e Marcos França revivem personagens marcantes em texto de Hugo Sukman e do próprio França
O Brasil conheceu uma cantora que foi popular e contundente – quando unir tais características era possível. E influente, quando isso não era medido por likes ou views. E plural, como outras só seriam nos anos 1990. E corajosa, tanto por dar voz a canções que criticavam as mazelas do país quanto por suas declarações, muitas delas contra o governo militar de então.
Essa cantora, única por ser tão multifacetada, era Nara Leão, que saiu de cena em 1989, após lutar por anos contra um aneurisma. Nara volta a ter sua vida contada (e cantada) no teatro. “Nara – A menina disse coisas”, musical escrito pelo jornalista Hugo Sukman em parceria com o diretor e ator Marcos França, volta ao Rio de Janeiro, onde estreou em 2018, para apresentações no mês do aniversário da artista.
A personagem é vivida por Aline Carrocino, também produtora do projeto, idealizado pelo jornalista Christovam de Chevalier. Aline divide a cena com França, que personifica os papéis masculinos, e mais cinco músicos. A montagem, com direção artística de Priscila Vidca e musical de Guilherme Borges, foi selecionada pelo edital Retomada Cultural 2, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro para apresentações, dias 24 e 25 de janeiro, no Teatro Ipanema, Rio de Janeiro, e outra, no Teatro Popular de Niterói, no dia 29 de janeiro.
O texto aborda momentos marcantes da vida da artista entremeando-os com mais de 15 canções, todas significativas do seu repertório. O ponto de partida é um show de Carlos Lyra em idos dos anos 80, quando o cantor é surpreendido pela presença de Nara na platéia. Ela sobe ao palco e, na hora de cantar, tem um dos seus lapsos de memória, cada vez mais comuns.
Essa característica é o artifício para a primeira das muitas mudanças de tempo na trama. E a vida da cantora começa a ser esmiuçada, sem, contudo, seguir uma ordem cronológica. Entre as passagens, sua emancipação aos 16 anos, seu encontro com Ronaldo Bôscoli, com quem romperia relações em seguida (e consequentemente com a bossa nova), a descoberta do tumor, sua aproximação do samba de morro, das canções de protesto, da Tropicália e o exílio na França, de onde, volta apaziguada com a bossa nova e com outros clássicos do cancioneiro brasileiro, os quais visitaria já consagrada.
Nara tinha o hábito de anotar alguns de seus sonhos num caderno. E parte desses registros também foi usada pelos autores, que os costuram a declarações da artista, muitas delas à grande imprensa, além de fontes outras como o poema escrito por Carlos Drummond de Andrade para a cantora – e do qual os autores tiraram o título para o musical. Drummond é, aliás, um dos muitos personagens interpretados por Marcos França, que dá voz também ao pai de Nara e a nomes como Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, entre outros tantos.
E as dualidades enfrentadas por Nara estão todas ali. Talvez a principal delas seja entre a figura humana e a persona artística. “Não sou musa de nada!”, declara num dado momento. E em se tratando de um musical, as canções são peças-chaves. O roteiro inclui temas como “Primavera” (Lyra e Vinicius), “Carcará” (João do Vale, do emblemático show “Opinião”), “Se é tarde me perdoa” (Lyra e Bôscoli) e canções daquele que foi o compositor mais presente no repertório da intérprete: Chico Buarque.
São músicas como “João e Maria”, “Soneto”, “História de uma gata” (do musical “Os saltimbancos”) e, claro, “A banda”, a primeira das muitas canções que gravaria do autor. O compacto com essa música, vale dizer, vendeu 50 mil cópias – feito que desbancou Frank Sinatra na época.
Desbancar o cantor favorito de Bôscoli foi apenas um dos muitos feitos de Nara Leão. Uma cantora que abriu portas para suas colegas de geração e às vindouras. Uma mulher que não se deixou calar ou abater – nem nos seus momentos finais. Se alguém perguntar por ela, é só dizer que está logo ali, no Teatro Ipanema.
ROTEIRO MUSICAL
Você e eu (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
Primavera (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
Desafinado (Tom Jobim / Newton Mendonça)
Deus vos salve esta casa santa (Caetano Veloso / Torquato Neto)
Lindonéia (Caetano Veloso / Gilberto Gil)
Se é tarde me perdoa (Carlos Lyra / Ronaldo Bôscoli)
Cabra macho (Guto / Mariozinho Rocha)
Como será o ano 2000? (Padeirinho)
Little boxes (Malvina Reynolds / versão Nara Leão)
Opinião (Zé Keti)
Vence na vida quem diz sim (Chico Buarque / Ruy Guerra)
A banda (Chico Buarque)
Soneto (Chico Buarque)
Carcará (José Cândido / João do Vale)
João e Maria (Chico Buarque / Sivuca)
Mambembe (Chico Buarque)
A saudade mata a gente (Antônio Almeida / João de Barro)
História de uma gata (Luis Enrìquez Bacalov / Sergio Bardotti / adaptação Chico Buarque)
Além do arco-Íris (Harold Arlen / E.Y.Harburg / versão Nara Leão)
Diz que fui por aí (Hortênsio Rocha / Zé Keti)
EQUIPE TÉCNICA
Idealização: CHRISTOVAM CHEVALIER
Dramaturgia: HUGO SUKMAN e MARCOS FRANÇA
Direção: PRISCILA VIDCA
Direção Musical: GUILHERME BORGES
Elenco: ALINE CARROCINO & MARCOS FRANÇA
Músicos: RALPHEN ROCCA (violão/guitarra), GUILHERME BORGES (teclado), ERICK SOARES/VICTOR GONÇALVES (sopros), DAVID NASCIMENTO (Baixo Acustico), LEO BANDEIRA (Bateria)
Iluminação: PAULO CÉSAR MEDEIROS Cenário: PATI FAEDO
Figurino: PAULA STRÖHER
Desenho de som: BRANCO FERREIRA
Assessoria de Imprensa: CHRISTOVAM CHEVALIER
Fotografia: JANDERSON PIRES
Produção Executiva: IGOR VELOSO
Direção de Produção: ALINE CARROCINO (Alce Produções) & MARCELO AOUILA (Essegaroto Aouila)
Realização: ALINE CARROCINO & GUILHERME BORGES
SERVIÇO
Apresentações: dias 24 e 25/01, terça e quarta às 20h no Teatro Ipanema (R. Prudente de Morais, 824 – Ipanema) e dia 29/01, domingo às 19h no Teatro Popular de Niterói (R. Jorn. Rogério Coelho Neto, s/n – Centro, Niterói)
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Duração: 70 minutos
Classificação indicativa: 12 anos