• Post author:
O mineiro de Belo Horizonte, Vandré Silveira, 42 anos, é dono de um extenso currículo no mundo das artes. Com mais de 20 anos com vários destaques na TV, Cinema e Teatro, o ator atualmente, está fazendo sucesso com o monólogo “A Hora do Boi”, no Teatro Poerinha, em cartaz até 26 de fevereiro.
Na entrevista exclusiva a coluna, Vandré abriu o coração e sem meias palavras falou da sua intimidade. Confira!
A nudez ainda é um tabu para muitas pessoas, como você lida com seu corpo e com a nudez? Você tem pudores com relação a isso?
Lido de uma maneira muito natural. Vejo meu corpo como uma ferramenta da minha expressão artística. Já fiquei nu em cena, como no espetáculo O Homem Elefante- um homem que tinha 90% do corpo deformado e que viveu na Inglaterra no final do século XIX- e também no espetáculo Casa Apodrecida em que vivi o personagem Basílio, inspirado em O primo Basílio de Eça de Queirós.
No primeiro caso, na encenação dirigida por Cibele Forjaz e Wagner Antonio, a nudez tinha uma conotação de libertação, daquele homem que se despia de todo o sofrimento e alcançava a redenção final. Já como Basílio, numa montagem sem texto verbal, toda construída através da linguagem corporal, a nudez estava atrelada ao desejo. Basílio é a personificação da libido. O corpo nu é apenas um corpo nu. A sexualização está nos olhos de quem vê.
Você tem alguma insegurança com seu corpo ou alguma parte específica dele?
Já tive quando mais jovem. Hoje aos quase 42 anos, gosto de mim exatamente como sou. Estou em paz com o que vejo no espelho. 
Como você avalia o boom da cirurgias estéticas entre os famosos, ultimamente?
Penso que cada um é livre para fazer o que entende que é bom para si. Mas acho que há uma busca desenfreada tanto por um ideal de beleza quanto por uma tentativa de suspensão do tempo. Eu prefiro ir envelhecendo em paz com as marcas do tempo.
Vandré Silveira
Como você mantém a forma?
Atualmente estou em cartaz com meu monólogo A HORA DO BOI de quinta à domingo no Teatro Poeirinha (RJ), um trabalho visceral e bastante físico. Mas costumo malhar para manter a saúde e a boa forma. 
Você é muito assediado por mulheres e homens? Como lida com isso?
Sou. Por ambos. Lido de uma forma natural. Acho que é reflexo de um carinho, uma admiração profissional. 
Você se considera um homem bonito e sexy?
Me considero charmoso. Apesar de gostar do que vejo no espelho, alguns dias nem tanto (rs), acho que tenho um borogodó!
Vandré Silveira
Como você reage ao nu nas novelas? 
Se a nudez ajuda na contextualização das personagens em prol de uma dramaturgia está tudo certo. O corpo humano é lindo. Precisamos reeducar nosso olhar. A nudez não é necessariamente sexual. 
As novelas brasileiras estão apimentadas ou estão dentro dos limites?
De vez em quando aparece alguma cena de nudez em novelas e causa um burburinho. Sempre dá uma sacudida. O olhar sempre é atraído pela nudez. Algo que instiga e que gera ao mesmo tempo tanta polêmica. Uma relação que no meu entendimento deveria ser natural. Não viemos vestidos ao mundo.

 

Vandré Silveira
Acha desconfortável fazer cena de sexo?
Sou muito tranquilo. Me entrego aos personagens e às cenas. Todo meu aparelho físico e psíquico está à serviço de contar a história daquele personagem. 
Você posaria nu como personagem? 
À serviço de uma dramaturgia sim. Não vejo nenhum problema.

 

Vandré Silveira
Você gosta do seu corpo?
Amo. Acho importante lembrar que somos únicos. O corpo é um templo sagrado. Sempre busco cuidar bem e respeitar essa “morada”.
O que não pode faltar na hora H?
Reciprocidade. Bom mesmo é quando você se conecta com a outra pessoa e tudo flui de forma orgânica. Uma troca de energia e comunhão de prazer. 
Qual papel você sonha fazer?
Interpretaria uma trans?
Sonho sempre com bons personagens que me desafiem e me tirem da minha zona de conforto. Ser canal para uma outra subjetividade, te fazer enxergar o mundo sobre outro prisma, te torna um ser mais empático. Em 2007, fiz um curta chamado Bárbara em que interpretei uma travesti. Foi um grande aprendizado. Um trabalho feito com muita delicadeza e respeito. Frequentei inclusive o projeto Damas da prefeitura do Rio, que não existe mais, infelizmente. Um projeto social de inserção de travestis e transexuais no mercado de trabalho. Fundamental!
Tudo isso, para que neste contato, eu buscasse me aproximar de forma fiel e honesta do universo da maioria dessas pessoas, naquela época. Felizmente, o mundo está evoluindo, mas ainda há muito preconceito. Hoje em dia, acho fundamental que um corpo trans ocupe seu lugar na Arte. Acho que um ator pode fazer qualquer papel. Mas para que essa prática seja justa, precisamos colocar em campo, todos os corpos e subjetividades. A arte precisa abraçar a diversidade. 

 

Vandré Silveira
Vale tudo entre quatro paredes? Ou que não vale entre quatro paredes?
Com consentimento de ambas as partes, acho que vale sim. Entre quatro paredes, com respeito por si e pelo outro, vale ser livre e feliz.
 
Com colaboração de Marcos Maynart e Fotos de Oseias Barbosa e Rebecca Wesolowski