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A carioca Cecília Fortes assumiu a consultoria artística na Anita Schwartz, na Gávea, Rio de Janeiro. Com larga experiência em curadoria e organização de exposições nas principais galerias do planeta, ela diz: “Há muitos anos acompanho com admiração o trabalho da Anita Schwartz, e fiquei lisonjeada com o convite para atuar como consultora artística da galeria.

Figura-chave no mercado de arte, a Anita une a expertise de 25 anos de atuação no meio com um genuíno interesse pela arte e suas possibilidades”, afirma. “Como consultora artística, eu trago o meu olhar curatorial para somar na elaboração do programa expositivo da galeria. Criar novos diálogos, propor aproximações narrativas que envolvam o corpo de artistas representados e o acervo da galeria, tendo em vista o encantamento que a poética artística proporciona”.

Cecília Fortes continuará à frente do Centro Cultural da  Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, no antigo Convento do Carmo, edifício do século 17 tombado pelo IPHAN, onde está desde que a instituição foi criada,  em fevereiro de 2022.

Anita Schwartz comenta que Cecília Fortes “possui competências diversas, mas a principal delas é a de estar muito consciente sobre as demandas do nosso tempo e das direções possíveis da arte” . “Nossas expectativas são as melhores possíveis!”, afirma a galerista.

Cecília Fortes é curadora e gestora de artes visuais, e suas exposições reúnem jovens talentos e renomados artistas brasileiros, como forma de fomentar o cenário artístico local. Como curadora independente, fez em 2023 a exposição “Chromatic Vigor”, projeto em realidade virtual (VR), para o programa Vortic Curated, convite da plataforma de arte inglesa Vortic.art. Mestre em Filosofia pela PUC-Rio, com a tese “NFTs: Revolução ou Distopia?”, orientada por Luiz Camillo Osorio. Tem especialização em Arte e Filosofia, e é graduada em Administração de Empresas também pela PUC-Rio, e MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.

Cecília desenvolveu o projeto “Brasil Profundo – Artes Visuais”, uma série de conversas com artistas brasileiros em ascensão, em parceria com o Instituto Ideia Brasil.

 Conversamos com Cecília que respondeu algumas perguntas para noss coluna. 

Cecilia Fortes assume a consultoria artística da galeria Anita Schwartz em janeiro de 2024 e fala com exclusividade com o site

 

Cecilia
Cecília Fortes

 

1.⁠⁠Quando você começou a se interessar por arte?

Cecília Fortes – Eu sempre gostei de arte, mas até os 30 anos a minha relação com a arte era de espectadora. Adorava visitar exposições e museus, fiz aula de desenho livre no Parque Lage enquanto estava na faculdade como hobby e, alguns anos depois, um curso sobre processo criativo para não artistas com o Charles Watson. Em 2010, quando estava de licença-maternidade, decidi tirar um ano para cuidar do meu filho e repensar caminhos profissionais. Na época, eu era administradora de uma grande empresa, mas não gostava do que fazia.

Foi nesse momento que veio a vontade de trabalhar com arte e mudei o meu rumo profissional. Mergulhei de cabeça no universo das artes visuais, primeiro como gestora e depois como curadora.Além da experiência prática adquirida com os anos de experiência profissional, voltei ao meio acadêmico para estudar arte e filosofia, o que aguçou ainda mais o meu interesse e me deu o embasamento teórico necessário para atuar na área.

2.⁠⁠O que pensa sobre esse processo de “descolonização” e como o Brasil, principalmente os colecionadores, encaram esse processo?

CF – Acho que o processo de decolonialidade é importantíssimo. Ainda hoje, o país sofre com os legados de um passado de exploração. O cenário social e econômico é crítico para a maior parte dos brasileiros, infelizmente. Para mudar essa situação, é fundamental lembrar da nossa história, reverenciar as nossas origens, valorizar a nossa cultura, as nossas potências. É um processo que não se conclui de um dia para o outro, mas acho que hoje há mais escuta para o tema em comparação a cinco, dez anos atrás.

E a arte pode contribuir muito, imageticamente falando e também como ferramenta, para suscitar reflexões, estimular debates. Temos artistas icônicos que abordam o tema em seus trabalhos, como Arjan Martins, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Adriana Varejão.

E temos uma geração jovem de artistas e curadores atuantes, lutando pela construção de uma nova história, e marcando posição nas instituições culturais e no circuito de arte. Os colecionadores podem contribuir muito para o processo de colonialidade ao incorporarem obras de artistas cuja pesquisa esteja centrada no tema em suas coleções, exibirem esses trabalhos para seu círculo de relacionamento, emprestarem as obras para exposições para que possam ser compartilhadas com mais pessoas, doarem obras que abordem a temática para o acervo de museus/ instituições renomadas. São formas de abrir espaço para o debate e dar voz a uma questão tão cara ao Brasil.

3.⁠⁠Sobre a arte digital e novas tecnologias, existe mercado nas galerias?

CF – Hoje nós vivemos num ambiente híbrido, transitando cada vez mais entre o mundo real e o universo virtual. O isolamento social adotado em tempos de pandemia obviamente acelerou a adesão às novas tecnologias. Aliado ao fator pandemia, o advento da geração digital dos anos 2000 em diante já vinha trazendo novos hábitos de interação com o universo virtual. Essa geração cresceu, hoje são colecionadores em potencial e estão imersos no digital. Navegam com facilidade, em sua maioria, são entusiastas e adeptos das novas tecnologias.

Se relacionam de uma forma diferente com os ativos digitais. São um público-alvo interessante para o mercado de galerias, mas é preciso saber conectar. A arte digital já vem sendo produzida e debatida desde a década de 1960. Ganhou novos contornos com o avanço da tecnologia sem dúvida, mas segue apresentando seus desafios. Vejo as novas tecnologias como uma ferramenta importante para as galerias.

Exposições em realidade virtual transcendem os limites geográficos, o poder de divulgação e multiplicação das mídias sociais é enorme, tudo isso possibilita a interação com públicos antes inacessíveis e trazem proximidade com essa nova geração de colecionadores. Mas não basta ver a oportunidade e querer aproveitá-la sem se aprofundar, senão não funciona.

4.⁠⁠Qual o papel das galerias nos próximos anos, e como ocupar a galeria para que o cliente volte a frequentá-la além dos dias de vernissages?

CF – A galeria tem um papel estratégico para a projeção de um artista no circuito que se mantém relevante, independentemente do surgimento de novas formas de circulação da arte apresentada pelas novas tecnologias e pelo ambiente digital. Fazer parte do corpo de artistas representados por uma determinada galeria não funciona apenas como uma chancela, é uma parceria na qual o galerista investe na apresentação do artista junto a colecionadores e museus, fornece suporte comercial/ logístico/ administrativo e também acompanha de perto a pesquisa e produção do artista, embarca nas ideias e busca formas de viabilizar projetos e multiplicar a sua repercussão.

É complexo para um artista se ocupar sozinho das demandas de negócio.Toma um tempo precioso que ele deveria dedicar ao que faz de melhor, que é a criação artística. Pensar em sinergias entre o corpo de artistas e temas da atualidade, propor debates e outros eventos de ativação durante o período de apresentação das exposições são formas de manter a galeria viva e convidativa para o cliente frequentá-la além dos dias de abertura. Vejo esse movimento das galerias de trazerem curadores para o seu time,para pensar junto o programa expositivo e projetos correlatos, como muito positivo nesse sentido.