Com curadoria de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, presidente do Conselho do Museu de Arte do Rio, que acompanha o trabalho do artista há mais de trinta anos, a exposição reúne 79 pinturas sobre tela, madeira, papel e pedra produzidas por Gonçalo Ivo nos últimos cinco anos, das séries “Le jeu des perles de verre” (“Jogos de contas de vidro”), “Cosmogonias”, “Cardboards” e “L’inventaire des pierres solitaires” (“O inventário das pedras solitárias”).
A quase totalidade dos trabalhos é inédita, e apenas cinco deles estiveram na exposição homônima realizada no Paço Imperial, em abril de 2022, que teve 26 obras selecionadas pelo mesmo curador. Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho destaca que Gonçalo Ivo “é considerado um dos maiores coloristas contemporâneos do país”.
O artista nasceu no Rio de Janeiro, em 15 de agosto de 1958, e se divide entre seus ateliês na serra de Teresópolis, no Rio de Janeiro, em Paris e em Madri. O termo Zeitgeist significa “espírito de tempo”, e foi usado inicialmente pelo filósofo e escritor alemão Johann Gottfried von Herder (1744-1803). Será exibido o filme “Gonçalo Ivo – uma biografia da cor” (2024, 28’), dirigido por Katia Maciel, com fotografia de Daniel Venosa, feito especialmente para a mostra.
A exposição será acompanhada do livro “Gonçalo Ivo – Zeitgeist” (Edições Pinakotheke), bilíngüe (port/ingl), com 328 páginas, em formato 21 x 27cm. A organização é de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, apresentação de Max Perlingeiro, e textos de Tomás Paredes, Nicholas Fox Weber, diretor-executivo da Josef & Anni Albers Foundation, Lêdo Ivo (1924-2012) e Nélida Piñon (1934-2022) – que fez sua última visita ao ateliê do artista em Teresópolis em maio de 2022 –, e um poema visual inédito de Luciano Figueiredo, criado especialmente para a publicação.
O livro contém ainda uma detalhada cronologia do artista, e a mais longa entrevista concedida por ele, dada a Luiz Chrysostomo, “iniciada em janeiro de 2022, enquanto Gonçalo estava em suas residências-ateliê de Madri e Paris”, e finalizada “numa manhã ensolarada, no início do outono de 2023, no Museu Isamu Noguchi, em Nova York”.
Pinakotheke Cultural, Rio de Janeiro
Visitação pública: 19 de agosto a 28 de setembro de 2024
Curadoria: Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho
Entrada gratuita
Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro,abrirá para o público no dia 19 de agostode 2024a exposição “Gonçalo Ivo – Zeitgeist”, com 79 pinturas criadas pelo artista nos últimos cinco anos, das séries “Le jeu des perles de verre” (“Jogos de contas de vidro”), “Cosmogonias”, “Cardboards”e “L’inventaire des pierres solitaires” (“Inventário das pedras solitárias”). A curadoria é de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, presidente do Conselho do Museu de Arte do Rio, amigo do artista, e que acompanha seu trabalho há mais de trinta anos.
Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho afirma que a exposição e o livro refletem “as inquietações do artista nos últimos cinco anos, vindo de uma sequência de vivências intensas, descobertas e afetos”. “Manifesta um profundo desejo de partilhar uma longeva trajetória de arte, marcada por percepções corajosas e fragmentadas de nossa contemporaneidade.
Lidar com a não linearidade que a vida nos impõe e os espantos decorrentes dela, como bem disse o poeta Gullar, revela que a persistência é uma característica diferenciada da construção humana. Insistir, rever ou retornar não são contradições, mas ações que nos permitem existir e revelar um outro lado possível”, diz. Ele acrescenta que Gonçalo Ivo é “considerado um dos maiores coloristas contemporâneos do país”. O curador enfatiza que suas séries de trabalho “falam do tempo como tema central, buscam dar conta de um presente mutante, desobstruem uma voz interna que estava por vezes emudecida”.
Outros aspectos do artista assinalados por Luiz Chrysostomo são “a facilidade com que navega e deglute manifestações do românico ao barroco espanhol, de culturas africanas ancestrais ao modernismo europeu”, e que se “confunde com o domínio técnico com que manipula pigmentos, têmperas e óleos”.
Max Perlingeiro, diretor da Pinakotheke Cultural, destaca que o público vai se surpreender com a exposição. “Além de trabalhar as cores como ninguém, ele está em constante mutação, como pode ser visto nessas três séries novas que surgiram em 2018”. Ele conta que a ideia do livro e da exposição surgiram ao ver a pintura “Cosmogonia – Melancolia, para Giacomo Leopardi e Francisco de Goya” (2021), na montagem da exposição no Paço Imperial, acompanhado por Luiz Chrysostomo: “Tive a certeza de que iria entrar nesse universo mágico da produção do seu novo livro. E que livro!”.
O diretor da Pinakotheke recorda o período em que Gonçalo Ivo ficou sozinho entre início de março e final de maio de 2020, devido à pandemia, em uma residência artística da Josef & Anni Albers Foundation, em Bethany, Connecticut, nos EUA. “Naquele momento, o artista, cidadão do mundo, que tem à sua disposição uma floresta exuberante em Teresópolis, com dezenas de hectares de mata virgem, ateliês muito bem equipados e bibliotecas, agora estava isolado e desolado”, conta.
“Para um artista, ou ele sucumbe ou submerge muito mais forte. Durante seu exílio involuntário, comunicávamo-nos com muita frequência. Recebi durante muitas semanas, quase que diariamente, dezenas de imagens. Vi nele a necessidade de produzir e de mostrar”, escreve Max Perlingeiro na apresentação do livro.
Em seu texto no livro que acompanha a exposição, Luiz Chrysostomo fala da importância das casas-ateliês de Gonçalo Ivo, e de suas residências artísticas como “um olhar expandido de próprio ateliê”. “São deslocamentos de zonas de conforto, desejo pelo embate e busca de novos referenciais. A sensação dessa nova fonte externa de alimento é para o artista tão fundamental quanto o isolamento no espaço que ele já conhece. É também a possibilidade de explorar outras identidades, as incertezas e os ecos de seu próprio tempo, seu Zeitgeist mais íntimo”.
“A rotina e os ritos são frugais e monásticos. Gonçalo pinta, aquarela, desenha, lê e escreve diariamente, desde antes do sol nascer. A disciplina é parte necessária do ofício. Pinta sentado, em pé, deitado no chão ou apoiado sobre um banco ou escada. Trabalha sem assistentes, usando recursos externos apenas quando necessita esticar telas de mais de oito metros ou requer algum apoio para carregar grandes troncos de árvores tombadas”, salienta o curador.
“O ateliê é parte central de sua existência enquanto indivíduo e ser social. Lá convivem variedades de objetos, ossadas, plantas secas, insetos mortos e pedras, com obras criadas ou adquiridas para sua coleção particular. É onde o mundo é deglutido e processado. Lugar de interlocução, laboratório de ideias”, diz. “Local recluso onde se pode duvidar, errar, repetir e domar suas mais intimas questões. É também local de angústia e solidão, muitas vezes necessárias para fazer brotar”.
PERCURSO DA EXPOSIÇÃO/OBRAS
A exposição abre com as obras da série “Cosmogonia” (2023), em óleo, têmpera e folha de ouro sobre tela, 150cm x 10cm (foto ao lado); e duas “Sem título” (2023), ambas em têmpera, óleo, folha de cobre e calcinação sobre madeira,e 50 x 20 cm. Ao centro, no chão, o totem “Sem título” (2007), com220 cm de altura por x 30 cm de largura, nos mesmos materiais que as duas três pinturas da parede.
Na sala ao lado, à esquerda, estarão nove trabalhos: “Cosmogonia – Melancolia, para Giacomo Leopardi e Francisco de Goya” (2021),em óleo, têmpera e folha de cobre sobre tela 200 cm x 200 cm; Mars (2021), óleo e têmpera sobre tela, 140 cm x 300 cm; “L’oiseau Du Paradis” (2021/22), óleo e têmpera sobre tela, 140 cm x 140 cm;
“La tempête” (2022), óleo, têmpera e colagem sobre tela, 100,5 cm x 151 cm; o totem “Sem título” (2020), têmpera, óleo, calcinação e folha de cobre sobre madeira, 188 cm x 18,5 cm; “Celeste” (2023), óleo, têmpera, colagem e folha de prata sobre tela, 46 x 33 cm; “Solar” (2021), óleo e têmpera sobre tela, 130 cm x 40 cm; e “Cosmogonia noturna” (2021), óleo e têmpera sobre tela, 130 cm x 35,4 cm.
Cada sala tem um texto de Luiz Chrysostomo na parede sobre a série apresentada. Sobre as Cosmogonias, ele escreve que as obras desta série, “mais amplamente exibidas a partir de 2021, revelam mais do que um corpo de doutrinas ou princípios helênicos do surgimento do universo”.
“Não se trata de simples tradução de mitos da criação, mas obras que falam de movimento e que se movimentam. Sem alusão a uma racionalidade estrita ou a métricas definidas, suas órbitas de cor nos remetem a ciclos perpétuos, mas que não definem necessariamente velocidades ou giros direcionais. Seus círculos cromáticos, explícitos ou envoltos em nebulosas, são na verdade elementos sensoriais que se renovam a cada interação com o espectador”.
No primeiro espaço da grande sala dupla da Pinakotheke, estarão distribuídos dezesseis trabalhos em têmpera e aquarela sobre papel da série “L’inventaire des pierres solitaires” (na foto ao lado “L’inventaire des pierres solitaires, Promenade à Bethany, 2022, têmpera e aquarela sobre papel, 61 cm x 46 cm), e oito pequenos totens em têmpera, óleo, calcinação e outros materiais, como folha de cobre e pregos,sobre madeira. Sobre esta série, o curador escreveu: “Em seu L’inventaire des pierres solitaires, obra de complexa execução, é possível afirmar que Gonçalo completa sua tríade do tempo.
Pintadas mais intensamente a partir da residência artística em Bethany, em meio ao exílio involuntário, onde a natureza bruta mesclou sensações de contemplação, erosão, perda e renascimento. Como que aflorando do chão, sem deixar rastros, são pedras como palavras, léxico mineral lapidado e esculpido por pinceladas. Revelam-se ora como seixos cinzentos arredondados por água e tinta escorridas, ora como elementos fragmentados e sílices cortantes, coloridos em pigmentos diluídos, produzindo fogo interno, revelando saberes e sobrevivência”.
Na outra parte da sala dupla ficarão doze pinturas em têmpera sobre tela da série “Le jeu des perles de verre” (na foto ao lado “Le jeu des perles de verre”, 2020, em têmpera e colagem sobre tela, 30 cm x 20 cm), e seis aquarelas dispostas em dois conjuntos verticais, com trabalhos de “L’inventaire des pierres solitaires” e “Cosmogonias”. Sobre “Le jeu des perles de verre” destacou o curador: “Entre as sedutoras e virtuosas transparências de aquarelas, o artista retoma sua indução ao movimento, como num quadro de Giacomo Balla. De forma lúdica, entre elementos de maior ou menor intensidade, exprime ‘objetos de cor’ que flutuam, mas que, como num ‘jogo’, também contabilizam.
A verticalidade e a disposição das contas nos remetem ao objeto milenar do ábaco (instrumento universal que permitiu ao homem organizar, sistematizar e educar). Se pudéssemos tocar nas superfícies translúcidas dos papéis, e movê-las com os dedos, não apenas rearranjaríamos as contas de vidro em sua infinidade aleatória de cores, como criaríamos uma nova forma de ‘somar’ sensações e construir ritmos diversos”.
Nas duas últimas salas estarão 21 obras da série Cardboards (papelão), em referência ao artista plástico e poeta alemão Kurt Schwitters (na foto ao lado “Sem título, 2019, têmpera e folha de ouro sobre papelão, 20 x 15 cm). “Com a criação do movimento Merz (1922), Kurt propagou um realismo radical dos materiais, integrando vida àquilo que já cumpriu sua função primordial”, explica Luiz Chrysostomo.
“A intervenção através de recortes, colagens e pintura sobre resíduos industriais e de consumo de massa revela memórias e relatos do cotidiano. Na verdade, é consumo que vira arte e pode novamente ser consumido. Mercadoria que se metamorfoseia e metaforiza, reocupando um novo espaço – rejeitos que viram objetos de admiração”.
Na última sala será exibido o filme “Gonçalo Ivo – uma biografia da cor” (2024, 28’), dirigido por Katia Maciel, com fotografia de Daniel Venosa. Katia Maciel passou três dias com sua equiperegistrando Gonçalo Ivo em seu ateliê na serra de Teresópolis. O assistente de fotografia é Fernando Arruzzo, o som de Dudu Falcão, edição de Fernanda Bastos, e desenho de som de Rees Archibald.
O convite para fazer o filme foi feito por Max Perlingeiro em março deste ano, quando foi exibido o vídeo sobre o historiador e filósofo da arte Yve-Alain Bois (Constantine, Argélia, 1952) em sua biblioteca, em Princeton, EUA, feito por Katia Maciel, e apresentado na exposição “Anjos com armas – Sergio Camargo, Lygia Clark, Mira Schendel e Hélio Oiticica”, na Pinakotheke.
“GONÇALO IVO – ZEITGEIST”, O LIVRO
É de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filhotambém a organização do livro que acompanha a exposição, “Gonçalo Ivo – Zeitgeist”(Edições Pinakotheke), bilíngüe (port/ingl), com 328 páginas, em formato 21 x 27cm, e textos do organizador, de Max Perlingeiro, Lêdo Ivo (1924-2012), Nélida Piñon (1934-2022), e um poema visual inédito de Luciano Figueiredo. O livro contém ainda uma detalhada cronologia do artista, e uma longa entrevista concedida por ele a Luiz Chrysostomo, em várias ocasiões, por mais de um ano, e em vários locais, de acordo com a agenda profissional do artista: Madri, Paris e Nova York.
PROGRAMAÇÃO INFANTIL
Nos sábados dias 31 de agosto e 14 de setembro, às 11h, haverá oficinas para as crianças, coordenadas pela equipe do educativo da Pinakotheke Cultural, a partir da exposição de Gonçalo Ivo. No primeiro sábado, a atividade será“Colagens Fantásticas: Transforme Papelão em Arte“, inspirada na série “Cardboard”. Em 14 de setembro, a oficina “Galáxias de Arte: Pinturas Mágicas das Cosmogonias” vai propor ao público infantil fazer pinturas, partindo das obras da série “Cosmogonia”. A entrada é gratuita, e a classificação é livre.
Serviço: Exposição “Gonçalo Ivo – Zeitgeist”
PinakothekeCultural
Visitação pública: 19 de agosto a 28 de setembro de 2024
Pinakotheke Cultural – Rio de Janeiro
Rua São Clemente 300, Botafogo
22260-004 – Rio de Janeiro – RJ
Telefones: 21.2537.7566
E-mail: contato@pinakotheke.com.br
Segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e sábados das 10h às 17h.
Entrada gratuita
Telefones: 21.2537.7566
E-mail: contato@pinakotheke.com.br
Segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 17h.
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