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Foi um sucesso a inauguração da exposição  “Os Artivistas: Carlos Scliar e Cildo Meireles”, no último sábado, dia 29/6, na Casa Museu Carlos Scliar, me Cabo Frio. A exposição, que une, pela primeira vez, a obra desses dois importantes artistas, marca os 20 anos da Casa Museu Carlos Scliar. Com curadoria de Cristina Ventura, coordenadora da casa museu, são apresentadas cerca de trinta obras, sendo algumas inéditas, que cobrem um período que vai desde a década de 1940 até 2021. Completam a mostra obras participativas, inspiradas nos trabalhos dos dois artistas.

A curadora Cristina Ventura, a presidente do Instituto Scliar Regina Lamenza e Cildo Meireles - Os Artivistas
A curadora Cristina Ventura, a presidente do Instituto Scliar Regina Lamenza e Cildo Meireles – Os Artivistas

 

A exposição, que terá entrada gratuita até o final do mês de agosto, é apresentada pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro através da Lei Paulo Gustavo.

“A ideia é provocar no espectador um convite á reflexão, instigada pela atualidade das questões tratadas pelos artistas em suas obras. Temas como: crimes de estado, meio ambiente, guerra, valor monetário, entre outros. Nosso propósito é que a pessoa pense sobre o seu papel no mundo de hoje”, diz a curadora Cristina Ventura.

As obras de Cildo Meireles e Carlos Scliar são expostas juntas, como uma grande instalação, sem seguir uma ordem cronológica. São pinturas, desenhos, colagens, estudos, gravuras, objetos e vídeos. De Cildo, estão as notas “Zero Dólar” (1984) e “Zero Cruzeiro” (1978), a instalação sonora “Rio Oir” (2011), o vídeo “15 segundos” (2021), em homenagem a Marielle Franco, entre outras obras. De Scliar, destacam-se os desenhos “Levante do Gueto de Varsóvia” (1957) e SOS (1989), além de desenhos e estudos, alguns inéditos, que tratam de temas como a cultura afro-brasileira e o holocausto. “Sou um grande admirador dos desenhos do Scliar, acho que ele era um desenhista dos mais talentosos do Brasil, verdadeiramente sensível”, afirma Cildo Meireles.

Helvia Vorcaro, diretora da casa de cultura José de Dome, e Regina Lamenza, presidente do Instituto Scliar
Helvia Vorcaro, diretora da casa de cultura José de Dome, e Regina Lamenza, presidente do Instituto Scliar

 

Na mostra, está, ainda, a matriz da capa da Revista Horizonte, feita por Scliar em 1952, onde se lê: “Assine Apelo Paz”. “A Segunda Guerra Mundial o marcou muito, Scliar foi pracinha, atuou como cabo de artilharia. No período pós-guerra participa ativamente de movimentos a exemplo o Congresso pela paz ocorrido na antiga Tchecoslováquia, a mensagem trazida na obra é fundamental”, diz a curadora. Uma reprodução tátil desta matriz fará parte da exposição para que o visitante possa manuseá-la. 

Também está na exposição um texto inédito do artista, da década de 1980, narrado pela cantora e compositora Marina Lima. No documento, Scliar expressa sua indignação e cansaço diante da nossa construção histórica. A artista cresceu vendo obras de Scliar, colecionadas por seu pai, segundo Marina, “uma imagem afetiva que nunca esqueço”.  A gravação foi feita especialmente para a exposição.

O casal Beto e Lilian Nogueira com o filho Vitor Nogueira
O casal Beto e Lilian Nogueira com o filho Vitor Nogueira

 

Com trajetórias diversas, Carlos Scliar e Cildo Meireles se conheceram em 1966. “A partir do nosso primeiro encontro, onde mostrei meus desenhos, ele se interessou em mostrar esses trabalhos para alguns colecionadores e a partir daí praticamente me financiou. Sempre foi uma pessoa de uma generosidade muito grande, não só no meu caso, mas também com outros artistas jovens que estavam iniciando. Ele era uma pessoa de um entusiasmo intrínseco, estava sempre incentivando, sempre apoiando”, conta Cildo Meireles.

Os dois foram muito amigos durante toda a vida e, em diversos momentos, tratam de questões similares em seus trabalhos, como no período da ditadura militar. Outras questões também convergem na produção dos dois: a icônica obra “Zero Dólar”, de Cildo Meireles, traz a imagem do Tio Sam, personagem que aparece sobrevoando a Amazônia com asas pretas, como se fosse um urubu, na obra SOS, de Carlos Scliar.

PERCURSO DA EXPOSIÇÃO

A mostra começa com uma linha do tempo sobre Carlos Scliar (1920-2001) e chega-se ao jardim, onde está a grande escultura “Volumes Virtuais”, de Cildo Meireles, doada em 2022 para a Casa museu. Com seis metros de altura, é a primeira escultura da série feita em metal.  Ainda no pátio, estarão trechos do projeto inédito do painel em mosaico projetado para o Brasília Palace, em 1957, a pedido de Oscar Niemeyer (1907-2012), que nunca chegou a ser executado. A obra traz uma homenagem à cultura afro-brasileira, com elementos da religiosidade africana.

Simone Mendes, subcorregedora geral da DPGERJ, Claudia Ventura e Denise Portinho
Simone Mendes, subcorregedora geral da DPGERJ, Claudia Ventura e Denise Portinho

 

Na sala menor, próxima ao jardim, há uma grande caixa em perspectiva, inspirada nas famosas caixas criadas por Scliar, onde o público poderá entrar. Nela, estão matérias de jornais onde o artista alertava para questões ambientais, trazendo manchetes como “A indignação do pintor”, fazendo um contraponto com o que está acontecendo hoje. “Em muitos momentos, Scliar aproveita o espaço na mídia não para falar de sua obra, mas sim para advertir sobre a forma destrutiva que tratamos nosso habitat.

As matérias são atuais, as proporções é que são mais desastrosas”, ressalta a curadora. Ainda dentro da caixa haverá imagens do projeto educativo “Meu lugar, meu patrimônio”, onde adolescentes da rede pública de ensino de Cabo Frio e região, falam sobre questões ambientais, em consonância com a fala de Scliar na década de 1980 e o cenário atual.

Na antessala do salão principal estão dois jogos interativos, um ilustrado com a obra de Scliar e outro com a obra de Cildo, e a reprodução tátil da obra “Assine Apelo Paz”. Seguindo, chega-se à sala principal, onde estão as cerca de trinta obras dos dois artistas, montadas como uma grande instalação, ambientada pela escultura sonora “Rio Oir”, de Cildo Meireles, na qual o artista coleta o som de algumas das principais bacias hidrográficas brasileiras, gravadas em vinil. Neste mesmo espaço estará o vídeo “15 Segundos”, em que o artista homenageia a vereadora Marielle Franco (1978-2018).

Na mesma sala, há obras que destacam a atuação de Scliar na área gráfica, junto à redação das revistas culturais Horizonte (1950 a 1956) e na criação da revista Senhor (1959 a 1960), além de trabalhos do período da ditadura, que trazem frases como: “pergunte quem”, “urgente”, “pense” e “leia-pense”, além do texto da década de 1980 narrado pela cantora e compositora Marina Lima. “A ideia é que o visitante entre num espaço que o absorva em vários aspectos, seja pelo som da água, seja pelo que está sendo visto ou pelo que não está sendo visto – haverá uma vitrola girando sem disco, denotando ausência, desconforto”, diz Cristina Ventura.

Na sala de cinema há a projeção de dois filmes: um de Scliar falando sobre o compromisso das pessoas com as questões do nosso planeta e outro de Cildo contando como conheceu o Scliar e sua relação com ele. Para completar a experiência, no segundo andar da Casa está a exposição permanente, onde se pode ver o ateliê de Carlos Scliar, que permanece exatamente como ele deixou.

 Fotos KellyPozzebon

SOBRE A CASA MUSEU CARLOS SCLIAR

O Instituto Cultural Carlos Scliar (ICCS) foi criado em 2001, mesmo ano da morte de seu patrono. O processo para criação da instituição foi acompanhado pelo artista, um acordo que fez com o filho Francisco Scliar para manter sua memória. Fundada por Francisco Scliar junto com os amigos: Cildo Meireles, Thereza Miranda, Anna Letycia, Regina Lamenza, Eunice Scliar, entre outros conselheiros, a instituição, aberta ao público em 2004, está sediada na casa/ateliê do pintor, em Cabo Frio, Rio de Janeiro.

Trata-se de um sobrado oitocentista, com cerca de 1000m², adquirido em ruínas por Scliar, reformado em 1965 para abrigar seu ateliê e ampliado na década de 1970, com projeto de Zanine Caldas. A casa mantém a ambientação dos espaços deixada por Scliar, com seus objetos pessoais, acervo documental, bibliográfico, gravuras, desenhos e obras. A coleção resulta da produção do próprio artista ao longo de sua vida, somado a uma expressiva e representativa coleção de obras originais dos mais importantes artistas do cenário brasileiro do século XX, os amigos José Pancetti, Djanira, Cildo Meireles, Di Cavalcanti, Aldo Bonadei, entre outros, além de cerca de 10 mil documentos datados desde a década de 1930.

Reforçando seu compromisso sociocultural, ao longo dos últimos três anos foram atendidos mais de 1000 estudantes do estado do Rio de Janeiro, em projetos educativos. Em 2023, a instituição foi agraciada com o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação Museal, promovido pelo IBRAM.

 

Serviço: Os Artivistas: Carlos Scliar e Cildo Meireles

Abertura: 29 de junho de 2024, às 18h

Exposição: até junho de 2025

Casa Museu Carlos Scliar

Rua Marechal Floriano (Orla Scliar), 253 – Cabo Frio, RJ

De terça a sexta das 14h30 às 18h. Sábados das 15h30 às 19h.

As visitas serão gratuitas até o final de agosto de 2024

institutoscliar@gmail.com

Telefone: (22) 2040.9408/ (22) 98157.4222

Site: https://carlosscliar.com.br/

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