A artista visual Flavia Fabbriziani apresenta a exposição individual “Nunca é para sempre”, no Rio de Janeiro, composta por diversas pinturas inéditas e uma instalação, que incorpora linguagens visuais e sonoras. Com curadoria de Shannon Botelho.
A abertura acontece no dia 6 de maio, às 19h, na Casa de Cultura Laura Alvim (CCLA), em Ipanema, espaço da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa/FUNARJ. A mostra fica em cartaz até o dia 26 de junho, com visitação de terça a domingo, das 13h às 19h e entrada franca. Um artista está representado pela galeria de arte paulista Galeria 18.
Em sua fase atual, um artista propõe uma nova reflexão em seu trabalho, que surge da observação da paisagem vista da janela de seu ateliê. Questionando se aquela paisagem sempre esteve ali, em uma carta endereçada ao seu curador, um artista escreve: “Este período de produção tem sido muito diferente de todos os outros. Não sei o que aconteceu, se meu entorno sempre foi verde assim, se as plantas cresceram, se a natureza era tão exuberante, mas algo aconteceu por detrás dessas janelas” e continua: “Aquela planta amarela sempre esteve ali ou nasceu de repente?”
Tomando essa observação como ponto de partida, Flavia explora o que se vê e o que realmente se é capaz de enxergar, propondo que um olhar atento revela a forma como nos relacionamos com o tempo, em suas palavras: “enxergar vai além do olhar, é um ato de presença”.
Este diálogo com a natureza permitiu que o artista, antes externo para um trabalho abstrato ligado ao gestual, pela primeira vez, apresenta elementos reconhecíveis. Chamadas de “quase miragens” pelo curador da mostra, Shannon Botelho pontua: “A sua abstração profundamente marcada pelo ritmo gestual, onde cores e formas se entremeiam, cede lugar ao que chamaremos de quase miragens. Uma construção imagética na fricção da abstração e da citação figural, um lampejo de memória que se esvaece na superfície da tela” .
Aproveitamos para fazer 3 perguntas para a artista Flavia Fabbriziani
O que é mais difícil para você uma tela branca ou o momento de decidir quando a tela está pronta?
São momentos diferentes, mas que de alguma forma tem uma ligação, um é o início e o outro o fim. Começos são interessantes, a tela em tese aceita tudo, a questão é o que move o desejo do artista. Começar é sempre uma oportunidade, é a porta de entrada no processo, não tenho dificuldades com inícios, ancoro nas cores e sigo em frente, parar já é uma outra questão. Entrando no processo vou adquirindo uma intimidade com o trabalho, é um diálogo que se abre, construído a cada pincelada. Fechar significa um ponto final, como dizer: – Você está pronto para o mundo! Costumo dizer que encerro um trabalho quando percebo que se seguir adiante, vou perdê-lo, virará outro, e aí me fará falta.
Quais são suas referências como artista?
Alguns artistas são referências para mim: Antônio Bandeira, Joan Mitchell, Gerhard Richter, Christian Boltanski.
Assim como na literatura, na poesia: Mia Couto, Fernando Pessoa, Paulo Leminsk
O que te motiva pintar?
O cotidiano, o que me atravessa, a cidade, a luz, as ruas, as cores, a paisagem, os detalhes, as coisas menores, mais sutis que por vezes passam desapercebidas. Isso ganha para mim, um novo sentindo na abstração, me permitindo elaborar essas percepções e simultaneamente, acessar camadas de memória, transformando tudo em pintura.
A abstração, seu lugar de produção de sentidos para o mundo, ganha agora um novo contorno numa paleta extensa de verdes com a presença de amarelos e terrosos, incorporando a citação de elementos naturais.
Na instalação apresentada na exposição, diversas obras em tons semelhantes, compostas por algumas mais densas e outras que deixam escapar certa luz, por meio de costuras irregulares, quase suturas, são dispostas na parede, proporcionando ritmo, convidando o espectador a seguir em frente. A obra sonora propõe um percurso, uma tentativa de estar no tempo, dentro do compasso da própria vida.
A mostra nos remete à ideia de que nada é fixo, que tudo está em constante transformação, nos convidando a refletir no que nos resta e no que realmente importa, nos lembrando de que, na vida, nunca é para sempre.
Fotos Miguel Sá
