Uma história cronológica da Galeria de Arte São Luís a Durante sete anos, entre 1959 e 1966, funcionou a Galeria de Arte São Luís, fundada pelo empresário e colecionador Ernesto Wolf (1918-2003), que também foi um dos iniciadores da Bienal de Artes de São Paulo.
Com Anna Maria Fiocca (1913-1994) como gerente-geral, abrigou diversas exposições e lançamentos de importantes artistas brasileiros, tornando-se responsável por divulgar artistas como Di Cavalcanti, Antonio Bandeira e Mira Schendel. Tomie Othake (1913-2015), Tomoshige Kuzuno e Flávio Shiró Tanaka representam os imigrantes japoneses anteriores à Segunda Guerra e cuja formação artística ocorreu no Brasil.

Instalada no número 130 da Avenida São Luís, eixo privilegiado de moradia e comércio no centro de São Paulo, a Galeria de Arte São Luís teve atuação marcante e reconhecimento pela programação ininterrupta, pelo êxito e importância de algumas exposições e pelo acolhimento que oferecia, a ponto de fixar memórias, como a do marchand Ralph Camargo, que se recordava anos mais tarde: “Até hoje não existe uma galeria com o charme da São Luís. Ali vi grandes exposições, como a de Sérgio Camargo.”
José Armando esteve presente na inauguração da Galeria São Luís naquele 18 de setembro de 1959. Ao “viajar” em suas memórias, o autor reconstrói a história com uma visão ampla e detalhada da importância da galeria no contexto social e artístico de uma São Paulo em franco despertar. Seu escopo não se dava pelo imediatismo comercial restringindo a programação a determinada
tendência ou a nomes consagrados. Acolheu novos artistas, outros de menor notabilidade, além de visitantes de outros estados e de outros países que aqui aportaram praticamente desconhecidos. Se notabilizou também por lançamentos de livros e outros eventos culturais.
Galeria de Arte São Luís: 1959-1966 é composto por reproduções das obras, convites e catálogos de cada exposição. Essa apresentação é em sequência cronológica, com exceção para os casos em que o artista se apresentou mais de uma vez na galeria, sendo as exposições resenhadas em conjunto, e para dois casos em que não foram encontrados nenhuma referência posterior à exposição na São Luís. Detalhando informações, serão encontradas resenhas de cada exposição com um esboço biográfico dos expositores, sua formação, histórico de suas obras e o desdobramento de suas carreiras.
De setembro de 1959 a dezembro de 1966, a Galeria São Luís promoveu 120 exposições, sendo 114 individuais (se apresentaram noventa artistas, o que significa que alguns se apresentaram mais de uma vez) e seis coletivas, com presença de artistas de quatro gerações: os modernistas, a geração pós modernista, conhecida a partir dos anos 1930, a geração dos anos 1950 com o abstracionismo dominante, e os novos, estreantes nos anos 1960, cobrindo um período que se inicia com a consagração de abstracionismo informal na 5ª Bienal.
Dos noventa artistas que se apresentaram individualmente, 79 são locais e onze são visitantes vindos de diversos países: da França, André Bloc, Félix Labisse e Johnny Friedlaender; da Alemanha, Rico Blass; da Áustria, Mella Salm; de Portugal, Antônio Santiago Areal; da Argentina, Angel Cavalieri e Kasuya Sakai; do Japão, Tatsuo Arai; da China, Joo Mo Jong; e da Espanha, José Lopes Bouza. Os visitantes Bloc, Labisse e Friedlaender eram personalidades conhecidas além da França e certamente carreavam prestígio para a galeria.
O mesmo se pode dizer de Arai — um dos mestres de Tomie Ohtake — que recebeu, então, a homenagem de uma exposição póstuma. Blass era um caso muito específico de artista itinerante de origem judaica e contava com a recepção da colônia. Para os demais, pouco conhecidos, a galeria ofereceu acesso a um novo público.
A programação da galeria se destacava também por ter uma participação feminina significativa, que ultrapassava limitações então remanescentes em outros campos profissionais. Às mulheres foram dedicadas 21 das 114 exposições individuais, e mais trinta artistas estão incluídas nas seis exposições coletivas organizadas pela galeria, sendo que na exposição inaugural elas ocuparam praticamente a metade do espaço em relação aos homens.
A Galeria São Luís, ainda que não fosse a mais longeva entre as galerias instaladas em São Paulo naquele período, mostrou sensibilidade às tendências do movimento artístico da época pelas escolhas e abrangência da programação, fazendo da galeria uma instância de reconhecimento respeitada e peça chave do modernismo brasileiro dos anos 1960.
Sobre o autor
José Armando Pereira da Silva é mestre em teatro pela Universidade do Rio de Janeiro e mestre em história da arte pela Universidade de São Paulo. Colaborou no Correio Popular de Campinas e no Diário do Grande ABC. Participou da organização dos primeiros salões de arte contemporânea em Santo André. É membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte.
Autor de Província e vanguarda, A cena brasileira em Santo André, Thomaz Perina — pintura e poética (com Days Peixoto Fonseca), João Suzuki — travessia do sonho, Paulo Chaves — andamentos da cor, Artistas na metrópole — Galeria Domus, 1947-1951 e Massao Ohno, Editor. Organizou: Luís Martins: um cronista de arte em São Paulo nos anos 1940 (com Ana Luisa Martins), Raphael Galvez: Autobiografia e Crítica de arte na revista Habitat, uma coletânea de críticas de José Geraldo Vieira.
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- 1 Uma história cronológica da Galeria de Arte São Luís a Durante sete anos, entre 1959 e 1966, funcionou a Galeria de Arte São Luís, fundada pelo empresário e colecionador Ernesto Wolf (1918-2003), que também foi um dos iniciadores da Bienal de Artes de São Paulo.
- 2 Com Anna Maria Fiocca (1913-1994) como gerente-geral, abrigou diversas exposições e lançamentos de importantes artistas brasileiros, tornando-se responsável por divulgar artistas como Di Cavalcanti, Antonio Bandeira e Mira Schendel. Tomie Othake (1913-2015), Tomoshige Kuzuno e Flávio Shiró Tanaka representam os imigrantes japoneses anteriores à Segunda Guerra e cuja formação artística ocorreu no Brasil.