• Post author:

Com curadoria de Evandro Salles, exposição Deixa falar abre dia 26 de maio  reunindo cerca de 70 obras; fotógrafo retoma retratos de foliões realizados na  rua e mostra nova série, em que registra resquícios da passagem de blocos de  carnaval

Rogerio Reis em exposição inédita no Rio e em Paris em 2025
Rogerio Reis em exposição inédita no Rio e em Paris em 2025

Fonte inesgotável de imagens, o carnaval carioca propicia em alguns momentos obras  singulares. Assim é a série Na lona, que Rogério Reis realizou ao longo de 17 anos, de  1986 a 2003, registrando com uma câmera Hasselblad foliões de rua em pontos distintos  da cidade. A série se desdobrou em várias exposições no Brasil e no exterior, em livro  (editora Aeroplano, 2001), e documentário (de Stefan Kolumban Hess, 2002), e entrou  para a iconografia do carnaval carioca.

Este ano, mais de duas décadas depois de ter  dado por concluído este trabalho, ele o retomou, impulsionado por um amigo fotógrafo.  As novas fotografias, realizadas em março de 2025, poderão ser vistas na exposição  Deixa falar, que será inaugurada para convidados no sábado, dia 24, e para o público em  26 de maio, na Galeria da Gávea. 

A exposição reúne cerca de 70 obras. Ao lado da produção deste ano, serão exibidas  também fotos do ensaio original, parte delas em ampliações realizadas na época, a partir  do negativo quadrado, 6×6, da Hasselblad que Rogério utilizava para este trabalho. Além  disso, a galeria terá ainda exemplares de uma nova série, Samba no pé, surgida a partir  da observação da dispersão dos blocos de rua no carnaval deste ano.  

Curador da mostra, Evandro Salles observa, no texto de apresentação, o caráter dessas  imagens de revelar, ao menos no instantâneo da fotografia, “a existência do impossível”:  “Deixa falar revela o fio através do qual são amarrados sonhos, desejos, fantasias e  realidade. Delineando um percurso interior que parece infinito, nessas fotografias o  mundo de dentro se externaliza, se materializa, se reconfigura e se apresenta pleno à  luz do dia apesar de sua aparente loucura e impossibilidade de existência”, escreve.  

O projeto Na lona surgiu numa circunstância bem particular. Em meados dos anos 1980,  Rogério integrava um grupo de fotógrafos, a agência F4, que buscava autossuficiência na  produção e na distribuição de suas próprias pautas, sempre perseguindo uma identidade  própria. Foi neste ambiente que ele produziu dois trabalhos marcantes: as séries  Surfistas de trem (feita com Ricardo Azoury, que, diferentemente de Rogério,  fotografava em cor) e Na lona – nos dois primeiros anos, em conjunto com Zeka Araújo,  que também trabalhava com cor, enquanto Rogério se mantinha no pb, e o sociólogo  Maurício Lissovsky, responsável por dar apoio conceitual ao projeto. 

A ideia de documentar os foliões na rua surgiu pouco depois da inauguração do  Sambódromo, em 1984. O espaço projetado por Oscar Niemeyer na Marquês de Sapucaí  transformou o desfile das escolas de samba no Rio em algo espetaculoso e midiático,  lembra Rogério. A imprensa passou a cobrir o evento com avidez, e o carnaval de rua, à  exceção dos blocos mais populares, foi um pouco negligenciado. A ideia era a de dar as 

costas ao desfile das escolas, registrando pessoas anônimas em suas fantasias. Para  isso, ele levava à rua (no Centro, na Zona Sul e nos subúrbios da cidade) uma imensa  lona, onde os foliões eram convidados na hora a ser fotografados – o resultado teve  tanta repercussão que o trabalho continuou pelos carnavais seguintes.  

Agora, em 2025, uma circunstância inesperada o fez voltar ao projeto. Um amigo,  Emmanuel Lenain, embaixador da França no Brasil e também fotógrafo, pediu a Rogério  que saísse com ele à rua para que pudesse fazer um trabalho semelhante ao seu.  Rogério disse que não estava interessado em retomar o ensaio, mas cedeu a lona e a  assistente, e ainda ajudou a fazer um plano de trabalho. No segundo dia de carnaval, no  entanto, resolveu passar na Cinelândia para dar um abraço no amigo. Ele conta: 

“Chegando lá, vi que muita coisa tinha mudado em 17 anos. O que apareceu muito este  ano foi a questão de novas afirmações sociais, a reparação histórica. No passado, tinha  aquele folião que fazia uma coisa irônica, de crítica ao poder, de deboche, havia muitas  personalidades políticas que apareciam nas fantasias de maneira bem-humorada. Mas  neste ano não havia ninguém assim. Isso desapareceu. Atribuo à polarização entre  esquerda e direita, porque as represálias são traduzidas hoje em agressão política”,  avalia.  

Animado com o que viu, ele voltou a fotografar na lona. Na exposição na Galeria da  Gávea Rogério exibe 16 destas novas fotografias, ao lado de cerca de 40 obras do ensaio  original, algumas delas vintage, com ampliações realizadas na época a partir de  negativos de filme. Outras 16 obras, também produzidas este ano, são de uma nova  série, Samba no pé. Morador no limite entre os bairros de Ipanema e Copacabana, ele é  um atento observador do que acontece nas ruas.

Gosta de sentar num banco do  calçadão e simplesmente olhar. Foi assim que viu, após a passagem de um bloco na  Avenida Atlântica, as pessoas ainda sambando no sabão que os garis já jogavam no  asfalto, fazendo involuntariamente um desenho na espuma que ia secando. “São um  lado mais simbólico e abstrato do carnaval, fotos que dialogam com o restante da  exposição, formada por retratos”.  

Esta é a segunda exposição de Rogério Reis na Galeria da Gávea. Em 2014, o espaço  abrigou a mostra Ninguém é de ninguém, com o ensaio de pessoas na praia, os rostos  cobertos com bolinhas coloridas, em que propõe uma reflexão sobre a utilização e o  controle das imagens no espaço público.  

SOBRE ROGÉRIO REIS

Rogério Reis descobriu a fotografia com o professor George Racz nas oficinas do bloco  escola do MAM-RJ e nos cursos do fotógrafo Dick Welton  nos anos 1970. Nos anos 80, integrou a agência F4, que  buscava autossuficiência na produção e distribuição dos seus trabalhos, e participou das coletivas do INFOTO – Instituto Nacional de Fotografia da Funarte. Formado em  Comunicação Social na Universidade Gama Filho,  trabalhou como fotógrafo no Jornal do Brasil (onde foi  editor de fotografia de 1991 a 1996), O Globo, Veja, e  edita o www.tyba.com.br desde 2000. 

Seus principais trabalhos são: Surfistas de Trem do Ramal de Japeri (1989), Na Lona (1987-2001), Travesseiros vermelhos (2006), Microondas (2004), Av. Brasil 500 (2009),  Voo de papel e Havana Hassel (2009), Linha de campo (2010), Ninguém é de ninguém  (2011-2014), Exaustão (2018), Noite americana (2021), Encobertos – Série azul (2022), Empilhamentos (2023) e Aerocães (2023). 

Em 1999 recebeu o Prêmio Nacional de Fotografia da Funarte com sua série Na Lona.  Está presente nas coleções de Joaquim Paiva (1989); MASP/Pirelli, São Paulo (1995);  Douglas Nielsen Collection, Minnesota (1996); MAM-Museu de Arte Moderna, São Paulo  (1999); The Fogg Art Museum, Cambridge (1999); Danforth Museum of Art,  Framingham (2000), MAM, Rio de Janeiro (2002), Maison Européenne de la  Photographie, Paris, em parceria com o FotoRio (2008, 2010, 2012 e 2014), MAR, Rio de  Janeiro (2015) e Museu Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires (2016), Museu Histórico  Nacional, RJ (2017);

Chengdu Contemporary Photography Arts Park Museum, Chengdu,  China (2017), BnF – Bibliothèque National de France, Coleção de Fotografias Brasileiras  (2021), Fotografia latinoamericana en la Fundación Larivière, Paris (2023). Em junho de  2025, por ocasião do Ano do Brasil na França, vai participar de uma audiência aberta ao  público, na Bibliothèque Nationale de France, para apresentar a aquisição de 15 fotos  suas para a coleção de fotografia contemporânea da instituição.  

Em 2002 sua fotografia do poeta Carlos Drummond de Andrade na praia de Copacabana  (1982) foi reproduzida em bronze como estátua (Leo Santana) e instalada no mesmo  local onde a foto foi feita. 

Seus ensaios foram publicados no Lens (blog do The New York Times), LightBox (blog da  Time), The Guardian, Lens Culture, Courrier International Magazine, Gup Magazine

revista piauí, Connaissances des Arts, Newsweek, GEO Magazine, L’Insensé, La Nación,  entre outros. 

Foto: Marian Starosta 

Deixa falar 

Fotografias de Rogério Reis 

Curadoria de Evandro Salles 

Release: Nani Rubin 

Galeria da Gávea | Rua Marquês de São Vicente 432, Gávea, Rio de Janeiro.  

Abertura dia 24 de maio, às 16h, para convidados  

Exposição de 26 de maio a 18 de julho. Horário de funcionamento: segunda a sexta,  das 11h às 19h.  

Instagram: @galeriadagavea 

www.galeriadagavea.com.br 

Voltar para a home aqui