Foi aqui no Rio de Janeiro que fui apresentado ao advogado Zaqueu Astoni, o Secretário de Cultura e Patrimônio da cidade de Ouro Preto. Por mais incrível que possa ser foi a Ouro Preto umas cinco vezes. Muito pouco para cidade tão significativa na estória cultural brasileira. Conversamos com o secretário sobre esse momento da pandemia e como a cidade está atravessando esse período.
1) Ouro Preto é uma das cidades destino do turismo internacional e nacional como a cidade está diante da pandemia?
Passear pelas ladeiras e becos de Ouro Preto é viajar no tempo, desvendar a história do nosso país revelada em seus sobrados, igrejas, pontes e chafarizes. Porém, seguindo a tendência dos principais atrativos mundiais, a cidade lançou uma campanha direcionada aos que planejavam visitar Ouro Preto.
Em meio à pandemia, foi criada a campanha: “Visitem Ouro Preto depois”. Varias ações emergenciais estão sendo diariamente implantadas de modo a preservar a segurança e a saúde da população de Ouro Preto. Foi também montado um grupo de trabalho já está empenhado em buscar soluções para amenizar o impacto da pandemia sobre a economia local.
Na impossibilidade de recebê-los agora, e na certeza de que este tempo escuro de angustiosa reclusão logo passará, é importante lembrar que a nossa Ouro Preto permanecerá sempre majestosa e intacta, repleta de atrativos monumentais e inigualáveis. Por isso, não cancelem, somente adiem as visitas”.
2) O patrimônio cultural de Ouro Preto é um dos tesouros do país. Como vocês estão vendo as mudanças que a pandemia irão fazer nas visitas aos Museus e Igrejas da cidade?
Patrimônio único, herança da Arte Barroca do período colonial, Ouro Preto, um dos mais importantes destinos turísticos mundiais, por enquanto, permanece isolada, com seus tesouros guardados. Hoje todos os equipamentos culturais da cidade estão fechados, seguindo as recomendações da OMS. Todos compreendem a necessidade de tal medida.
3) Conta um pouco sobre as atividades culturais desse ano em Ouro Preto?
Dentre os eventos já planejados, a cidade quer celebrar os 250 anos da Casa da Ópera, o mais antigo teatro em funcionamento das Américas, e o tricentenário da sedição de Vila Rica, 300 anos também de Minas Gerais, pois foi em 2 de dezembro de 1720 que a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro foi desmembrada pela Coroa Portuguesa para tornar-se a Capitania de Minas, que teve Vila Rica como sua capital. Historicamente, a data representa o nascimento do nosso Estado.
Estas ações já estavam previstas e serão mantidas para amenizar o impacto que as medidas de contenção do coronavírus provocaram no setor cultural, turístico e, sobretudo, na economia local. Recentemente fui procurado pelo presidente interino do IPHAN, Robson Almeida que comunicou a liberação de recursos para a segunda etapa das obras de restauro da Matriz de Santo Antônio, no distrito de Glaura.
Estamos empenhados também em providenciar alterações no segundo edital do Fundo Municipal de Cultura, que terá, neste segundo semestre, o dobro do valor que era investido anteriormente. Este projeto e voltado para os artistas locais, que passarão a receber antecipadamente, ou seja, antes da execução de seus trabalhos, como forma de contribuir para que os produtores de arte do município possam se recuperar mais rapidamente da crise.
Estamos também em conversação com diretora geral do ‘Tudo é Jazz’, Maria Alice Martins, a Biiça, para que Ouro Preto possa novamente sediar este grandioso Festival que reúne grandes nomes da música nacional e internacional. Planeja-se ainda o retorno do projeto ‘De Conversa em Conversa’, com músicos de projeção nacional, patrocinado pela Cemig. Todos nós estamos dedicados na preparação de eventos que possam somar e contribuir para o resgate do setor do Turismo, e trazer renda e oportunidades para a população assim que for possível e seguro.
4) A cidade está se ajustando para as novas medidas de distanciamento social?
Claro que sim. Temos em Ouro Preto uma população consciente e muito educada que vem seguindo todas as recomendações da OMS, de modo a evitarmos o pico de contagio do COVID 19. Todas as medidas sanitárias internacionalmente recomendadas estão sendo adotadas e cumpridas na cidade. Apesar da importância das medidas de isolamento social, que tem por foco frear a disseminação da COVID19, o resultado para os comerciantes e demais trabalhadores que vivem da exploração do turismo e da cultura é preocupante, por isto a necessidade do apoio do poder público em suas três esferas (Município, Estado e Governo Federal) para a recuperação deste segmento de fundamental importância para a nossa economia.
5) Ouro Preto recebeu em 1980 o título de cidade patrimônio da humanidade pela UNESCO e esse completa 40 anos que a cidade ganhou esse título temos comemorações previstas?
Ouro Preto é a primeira cidade brasileira a ter o título de Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 1980. Temos diversos eventos alinhavados. Um evento grandioso que será feito em parceria com a Funarte, alusivo aos 40 anos do título de patrimônio mundial concedido a Ouro Preto pela Unesco. Primeira e única cidade do Brasil que tem o conjunto classificado como “cidade histórica” e não só o “centro histórico”. Sempre importante destacar o que este título representou para nossa cidade.
Hoje as atividades econômicas ligadas ao turismo, à cultura e à educação empregam mais pessoas atualmente em Ouro Preto do que a mineração. Teremos também todo um trabalho junto às escolas públicas voltados para a educação patrimonial mostrando as gerações mais novas a importância de se preservar o passado na busca de um futuro melhor.
6) Ouro Preto é uma das cidades mais importante do movimento barroco brasileiro e muitos artistas contemporâneos se inspiram nesse movimento. Pode existir uma ponte que ligue esses dois tempos em uma ação cultural promovida Secretaria de Cultura na sua gestão?
Claro que sim. Ouro Preto é uma cidade dinâmica, cosmopolita e que tem em sua raiz o fomento as artes. Temos todo um trabalho de fomento a produção artística da atualidade, com eventos e ações que busquem o permanente dialogo entre as diversas gerações que tiveram em Ouro Preto e o barroco para a inspiração dos seus trabalhos. Com tudo isso, preparada para se reerguer após esse longo e difícil período de quarentena, Ouro Preto espera não apenas retornar à normalidade, mas se afirmar novamente, no cenário nacional e internacional, como polo irradiador de Cultura e Arte.
Fotos Ane Souz
Zaqueu Astoni Moreira
Graduado em Direito pela UFOP-2004
Pós Graduado em Gestão Pública pela UFOP-2010
Mestrando em Preservação do Patrimônio Cultural pela UNESCO-IPHAN
Secretário de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto
Advogado militante
Membro do Conselho de Patrimônio Cultural da OAB/MG
Presidente do Fundo de Patrimônio de Ouro Preto