Yvonne Bezerra de Mello apareceu para a mídia em geral gritando. Era um grito de socorro não por ela, mas por jovens e crianças abandonadas. Um grito forte e doído. Yvonne não gritou apenas. Ela se doou e foi atrás de construir uma alternativa, para várias crianças que estão marginalizadas e em condições muito vulneráveis. Assim ficamos conhecendo Yvonne Bezerra de Mello.
Socialmente Yvonne era a encantadora esposa do empresário hoteleiro Álvaro Bezerra de Mello. Quem conhecia Yvonne antes do episódio do crime da Candelária, não imaginava que fosse possível Yvonne ter tanta a oferecer. O projeto Urerê que Yvonne montou viabilizou inúmeras oportunidades para jovens do Complexo da Maré. Metodologia de ensino, a eterna busca para um mundo com mais justiça social sempre povoou as atitudes e escolhas Yvonne. Pena daqueles que não enxergavam isso nela antes e que não deu a mão e a seguiu nessa jornada.
Yvonne enviuvou há alguns anos. Perdeu seu amado. Aquele porto seguro, o cais, o barco acima de tudo o companheiro. Meses de solidão e angústia até que resolveu saber como as outras viúvas viviam e sentiam esse vazio provocado pela perda. Como resultado após essa pesquisa Yvonne Bezerra de Mello, lança o livro “Relações tardias” (Editora Batel). A obra é prefaciada pela jornalista e escritora Ana Arruda Callado e tem a orelha assinada pela jornalista Anna Ramalho.
Li o prefácio e estou quase acabando. É sempre bom quando nos embrenhamos no complexo mundo feminino. Relato direto, firme sobre inúmeros percalços que a viuvez traz além da perda do marido querido.
Fizemos quatro perguntas básicas para permear um pouco o livro sem nenhum spoiler. O livro está nas melhores livrarias.
1) Quais são as cinco regras básicas para enfrentar a viuvez?
Aceitação. Perseverança. Esperança. Entendimento, pois é muito importante você entender a sua situação. E, por fim, compreensão.
2) Como encontrar o prazer depois da perda do companheiro?
O prazer não acontece de repente. Ele vem vindo – e uso mesmo o gerúndio — à medida que o tempo passa, e que você se encontra numa outra realidade, numa outra vida, onde você começa a se entender, a ter a compreensão dos teus desejos, do que é possível, do que vai ser difícil… Você começa uma autoanálise muito importante para chegar o momento em que você vai se abrir. Você vai deixar que as coisas boas entrem em você. Então, é muito importante esse gerúndio. Você precisa entender que a vida segue. Ela segue o tempo todo e abre novos caminhos. São novos livros que se abrem diante de você. E você irá lê-los e absorver as coisas boas deles.
3) Fazer coisas que gostavam de fazer juntos e continuar fazendo, ajuda?
Não. A sua vida mudou. É lógico que você vai continuar fazendo as coisas de que gosta, mas não necessariamente as que fazia com ele. É uma descoberta diária das coisas que você gostava e que deixou de fazer, até porque estava com ele. No meu caso, o teatro e a literatura voltaram com muita força. Acho necessário que haja o corte de algumas coisas. Você está só e, nessa solidão, você tem de se reconstruir. E, pouco a pouco, as coisas que você gostava, sobretudo quando era jovem e que deixou para trás, elas reaparecem. E você cria uma coragem fantástica por voltar a fazê-las.
4) A sociedade brasileira marginaliza as viúvas?
A sociedade brasileira não fala das viúvas. Não é um assunto interessante, nem como literatura, nem em conversas. Em nada! A viúva é um pouco estigmatizada porque ela mergulha num limbo. Ela ficou de repente invisível para várias camadas e para pessoas que ela frequentava. A viuvez é um corte muito duro, até nas amizades. É interessante, pois não havia me dado conta disso quando me separei do meu primeiro marido. Não me dei conta desse corte, porque conversávamos e ele estava ali. Na viuvez existe uma invisibilidade em relação a essas mulheres.