Tomei consciência da existência de PV Dias na exposição “A Casa Carioca” que está em cartaz no MAR (Museu de Arte do Rio) quando vi os trabalhos no meio de tantas obras espetaculares percebi que tinha descoberto ao meu olhar um artista incrível. Olhando bem por uns minutos lembrei que tinha reparado uma obra do artista na Galeria Simone Cadineli em uma exposição coletiva.
Corri atrás no instagram e depois em visita a galeria Simone Cadineli de máscara, álcool gel e cafezinho admirei com calma outras obras de PV Dias e tombei. A mistura de técnicas e um arrojo romântico, bem dramático como eu gosto, me fisgou completamente.
Conversamos sobre seu trabalho e sobre o Pará seu estado que eu adoro e pretendo voltar e sobre Coelho Neto onde fica seu atelier home. Coelho Neto fica dos dois lados da Avenida Brasil, onde nem Carminha e Tufão foram. Porém, eu como um bom carioca acho que é logo ali, antes de Guadalupe depois de Irajá.
O MAR está fechado ao público e a Galeria Simone Cadinelli, em ambos locais você pode fazer um tour virtual e entrar em contato e a galeria está hoje recebe pequenos grupos, seguindo todos os protocolos no combate ao Covid-19.
PV Dias respondeu a algumas perguntas para o site.
1) Quando você descobriu ser artista?
Eu sempre gostei muito da ideia de criar, minha família tem uma ligação interessante com arte, alguns tios e primos músicos. Quando mais novo sonhava em ser artista circense, o tempo passou e algumas práticas foram se perdendo, a de desenho, a de pintura. Fiz faculdade de comunicação, passei alguns anos trabalhando na área, e acho que em meados de 2016, pensei em voltar a retomar algumas práticas de criação que abandonei na universidade. Voltei a desenhar, pintar e pensar mais nas questões práticas que me instigaram enquanto produtor de algo. Eu acredito que a partir de 2016, comecei a me descobrir enquanto artista, mesmo já escrevendo e desenhando antes, acho que esse ano foi importante para que posteriormente eu começasse a pesquisar e produzir meus trabalhos.
2) A fotografia foi sua primeiro suporte para seus trabalhos?
Antes de tudo, eu gostava muito de quadrinhos e outros gêneros de desenho que não incluíam a fotografia em si, mas em algum momento eu percebi que poderia agregar ou fazer adições em imagens que registrava em minhas caminhadas pela cidade. Como se houvesse uma possibilidade de tornar visível, as minhas projeções diante daquele espaço citadino. Atualmente trabalho em uma série de pinturas, mas penso que a fotografia ainda é um suporte que pretendo trabalhar durante bastante tempo, assim como as produções de vídeos.
3) Quais são suas referencias artísticas?
Eu gosto muito de um artista chamado Odoteres Ricardo de Ozias, adoro também o trabalho do russo Andrey Kasay, da banda Calypso, do pessoal do coletivo Broken Fingaz, do Mulambo, da Mabel, da paraense Thays Chaves, da Ana Clara Tito, da Vitória Cribb e do Dalton Paula. Esses meses, tenho me interessado muito pelo trabalho do Labo, ou Labo Young, um artista paraense com um trabalho lindíssimo.
4) O Pará é sua maior fonte de pesquisa?
Atualmente sim, acho que o lugar que eu nasci e percorri durante grande parte da minha vida está entrelaçado em minhas pernas e acho que é difícil eu olhar agora para além daquele espaço, não que um artista paraense só possa fazer sua pesquisa olhando para o Pará, muito pelo contrário, acho que pode-se pesquisar muita coisa para além do estado. Mas eu, pv, acho que meu trabalho olha para o Pará com muita atenção, pois me interessa muito as questões históricas, estéticas e relacionais dentro desse estado. Atualmente meus próximos trabalhos todos falam sobre questões relacionadas ao Pará e alguns aportes ligados ao norte e parte do nordeste do Brasil. Pesquiso caminhos estéticos do norte rumo ao sudeste do estado. Dentro disso, minha atual pesquisa volta-se questões acerca do Brega, do Calypso e outros movimentos estéticos que fizeram um caminho inverso ao caminho colonial clássico, vieram do norte para o sudeste.
5) Qual sua relação com a arte digital?
Eu trabalhei algum tempo em agência de publicidade, saia de casa às 8h e chegava às 21h, mal tinha tempo para preparar uma tela ao chegar em casa, então comecei a iniciar meus trabalhos dentro dos lugares que eu trabalhava, porque eu poderia começar a trabalhar meus projetos artísticos nas horas vagas dentro dos meus empregos. Daí em diante, eu descobri essa prática da qual eu gosto muito. Gosto do modo que trabalho as cores, que crio narrativas e que eu consigo traçar usando a digitalidade. Acho que soma bastante no processo. Espero que com o decorrer das tecnologias se possa cada vez mais se possa existir mais modos de trabalhar a subjetividade de cada artista. Tenho o mesmo prazer em trabalhar um pixel na tela de um celular a uma tinta em um papel. Gosto também da digitalidade enquanto suporte, pois possibilita que, simultaneamente, eu esteja vendo um trabalho meu voltando de trem da central do brasil e um outro irmão ou irmã esteja olhando o mesmo trabalho na tela do celular dele no interior do Pará.
6) Como você pensa seus trabalhos?
Geralmente, após um trabalho de pesquisa, tento experimentar e pensar qual seria melhor maneira de colocar em algo, a narrativa ou a problemática que investigo dentro dessa linha de pesquisa. Objetivamente é isso, eu pesquiso, fico batendo cabeça algumas noites, sento e faço, vejo se funciona, vejo se não funciona, refaço se tiver que refazer, experimento de outras formas.
7) A cena urbana está muito presente nos seus trabalhos conta um pouco sua estória e sua relação com as cidades?
Sim, eu sou nascido e criado em Belém, parte da minha família é do interior do Pará, e outra parte é do Rio de Janeiro. Vim morar para o Rio de Janeiro, em 2016. Todos os anos eu vou para o Pará e fico um período lá, um ou dois meses. Vivo atualmente em Marechal Hermes no Rio de Janeiro, faço mestrado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica e ano passado estudei no Parque Lage. Seja em Belém ou no Rio de Janeiro, nunca vivi nos centros das capitais. Sempre fiz alguns deslocamentos seja para estudo ou trabalho e o hábito de registrar eles se incorporou de algum modo nas minhas produções.
8) Como está sendo morar no Rio de Janeiro?
Eu gosto muito de morar aqui. Minha mãe é carioca, então vinha algumas vezes de férias, mas morar é outra coisa. Deparei-me com alguns debates, conheci muitas coisas novas e apreendo diariamente um novo espaço.
9)Como você vê o Pará a distancia?
Acho que quando a gente olha para nossos lugares, de longe, é possível estranhar normalidades. Por exemplo, toda vez que volto ao Pará, percebo coisas que não notava antes, por estar acostumado com aquele contexto. Hoje consigo ver um Pará muito complexo e maravilhoso, através de coisas que eu pouco percebi quando estava lá. Vejo um Pará com muita saudade, tenho muita saudade de absolutamente tudo que compõe aquele espaço. E carrego comigo e em tudo que eu faço, o que esse estado me construiu esteticamente e socialmente.
10) Quais são seus planos para 2021?
Ano que vem eu pretendo dar continuidade a minha pesquisa acadêmica e meus estudos em arte também. Consequentemente, produzir bastante em cima de uma nova série de pinturas que estou desenvolvendo. A partir dos primeiros resultados quero pensar os desdobramentos que esses trabalhos vão ter dentro da minha pesquisa. No começo do ano, sai uma animação que eu fiz para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, é um caminho a se trabalhar também, a animação e alguns outros dispositivos digitais, como meios de continuar desenvolvendo meu trabalho. Além de planejar possibilidades de participar de residências artísticas e outros projetos do gênero, mas isso tudo depende da situação do mundo também.
obs: que possamos comer essa maniçoba o quanto antes!