Eu me lembro que quando eu comecei a identificar os artistas, um dos primeiros foi Roberto Magalhães. Eu o via caminhar por Ipanema e sua figura era algo que me perturbava e ao mesmo tempo criava uma profunda admiração. Suas obras era complexas para o meu entendimento de adolescente e por onde eu ia sempre encontrava uma obra dele a me questionar o sentido da pintura.
Claro que os sentidos da arte são inúmeros e eu jamais viu entender esse fascínio que a arte exerce. Quero só vivenciá-la. Roberto Magalhães nas minhas escapadas da realidade a buscar algo inconsciente que faz algum sentido no meu “eu”, suas obras estavam presentes nessa busca. As imagens dos relógios, dos rostos um apanhando de imagens e de sensações que instigam o meu raciocínio. Hoje dentro desse clima que mais parece um caos articulado tive uma sensação uma necessidade de ver suas pinturas e saber mais sobre o homem e o artista.
Que bom que ele está aqui.
Quem quiser ver ao vivo suas pinturas Roberto Magalhães está na exposição [enquanto] junto com dois também mestres Carlos Vergara e Luiz Áquila na Casa Roberto Marinho com curadoria de Lauro Cavalcanti.
1) Quando você começou a pintar/desenhar você sabia que ia ser sua carreira?
Desenho desde muito pequeno. com uns quatro anos, cinco, já distribuía pequenos desenhos à pessoas da família e nunca, nem mesmo mais tarde, durante a adolescência me preocupei com meu futuro profissional. nunca pensei exercer uma profissão. O destino foi se materializando naturalmente.
2)Como você define a sua pintura?
Minha pintura é o que penso, imagino e sinto. Não sou um artista intelectual e portanto tento reproduzir imagens que espontaneamente surgem em minha mente e como essas imagens são muito variadas, não seguem uma sequência lógica. Artisticamente crio figuras, abstrações concretas, informais, utilizando a técnica e o suporte que julgo mais conveniente para obter o resultado desejado. Me sinto livre como artista. Assim, posso reproduzir uma face humana nos moldes acadêmicos, realista e no momento seguinte uma representação abstrata compostas de linhas retas e curvas ou manchas de cores, sem que isso se transforme em conflito interior.
3) Ao longo dos anos o que mais te influencia na sua arte?
A originalidade, a mestria técnica e a ousadia dos grandes artistas. Acho que a originalidade é o grande diferencial entre todos os que se dedicam a Arte. É o que destaca, o que se impõe, o que marca e o que torna uma obra importante e inesquecível.
4) Você faz muitas pesquisas?
Não faço pesquisas. Não tenho dúvidas do que quero. Quando me debruço sobre uma tela ou uma folha de papel não busco nada. É um impulso quase infantil. Não bloqueio com pensamentos teóricos o que desejo fazer. As imagens surgem espontaneamente e eu tento reproduzi-las. Algumas mais satisfatórias que outras, mas todas autênticas. Retrato de mim mesmo, como uma assinatura
5) O que você tem feito na pandemia?
Durante os quatro primeiros meses da pandemia me mantive recluso na minha casa em Visconde de Mauá, onde também tenho ateliê. Durante esse tempo fiquei sem telas para pinturas e sem possibilidade de encomenda-las, mesmo porque o artesão que as prepara, também estava de quarentena e o material com que são feitas, indisponíveis. Mas eu tinha folhas de papel de qualidade estocadas. Tinta guache suficiente para produzir duas dezenas de obras abstratas com essa técnica e que hoje estão expostas, 15 delas, na Casa Roberto Marinho.
6) No aspecto coletivo o que você mais gostou de participar?
Acho que a exposição mais significativa da Arte contemporânea brasileira foi a “Opinião 65“, claro, em 1965 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e que revolucionou o que até então era entendido como obra de arte. O surgimento da Pop Arte paralelemente a Nova Figuração foi uma espécie de “onda” planetária, uma mudança de paradigmas que varreu o mundo não só nas artes plásticas mas também na música, no cinema, no comportamento, vestuário, sexualidade, alimentação, enfim, TUDO. Foi verdadeiramente uma Revolução Cultural o que aconteceu nos anos 60 e essa exposição que participei com 25 anos, se mantém até hoje uma referência.
7) Você conviveu com vários artistas com quais você mais se identificou ou foram mais importantes?
Convivi com muitos, mas com os da minha geração o relacionamento era diário. Éramos bem jovens e produzíamos obras com temáticas e concepção plástica carregadas de novidades. Parecia que estávamos dando forma a algo que nunca tinha sido visto, o que de certa maneira era verdade. Todos, na época, foram muito importantes para todos. Aprendíamos uns com os outros. Trocávamos experiências e estávamos sempre juntos.
8) Você é um homem religioso?
Não, não sou religioso. Não tenho religião, mas entendo que todas elas são igualmente importantes. Minha busca é espiritual, com a ajuda das filosofias orientais, que explicam e esclarecem TUDO. Com a prática da meditação Vipassana, que me fez renascer, me libertar dos conceitos, dos dogmas, dos condicionamentos e das crenças. Ajudou-me a encontrar o vazio na mente. O vazio que contém tudo e me libertar das ilusões e apegos do mundo.
9) A religião e a arte convivem há séculos. No seu trabalho também tem uma relação?
Como disse, não tenho religião. Muitas vezes crio obras com características místicas, que seria uma tentativa de expressar, dentro das minhas limitações, a síntese que todos buscamos. Utilizo as formas e cores deste mundo visível, reunidos de tal maneira que possam nos transportar para mais além. Além do pensamento e do intelecto. Além da Arte.