Maria Lynch é carioca. Cresceu no Rio de Janeiro e vivia tranquila como qualquer garota da sua geração. tinha guardada dentro de sim uma força artística pronta para eclodir. Quando deparou-se com o mundo da arte o que estava em ebulição começou a sair e daí não parou mais. Hoje é uma das artistas mais potentes de sua geração.
Conversamos um com ela que nos contou como explodiu essa avalanche de talento.
1) Você lembra o que despertou em você à vontade de fazer arte?
Eu fui estudar francês quando tinha 18 anos em Paris, e como tinha as tardes livres depois das aulas, ia para o Louvre, afinal teria seis meses para conhecer o museu todo. Quando vi os estudantes de arte desenhando, comprei o material e me juntei a eles, assim passei seis meses de todas as tardes.
Um dia uma amiga que foi me visitar, falou para irmos ver a exposição retrospectiva do Surrealismo que estava ocorrendo no Centro George Pompidou, por sorte ela conhecia muito de história da arte e ia me explicando, essa exposição foi uma ruptura para eu perceber que minha cabeça andava no lugar certo, um certo mundo inventado de fábulas e absurdos, onde a fantasia e um olhar estranho a realidade que eu precisava de alguma maneira contar e afirmar. E foi assim que eu comecei a contar um pouco sobre o meu olhar.
2) Quando você começou a pesquisar o formato do seu trabalho?
Eu comecei desenhando, depois fui estudar fotografia. Quando comecei a pintar, algo me dizia que só iria poder configurar essas histórias em grandes escalas, as primeiras telas já tinham 160 x 180cm, daí foram só crescendo, a maior que fiz foi um painel gigante de cinco metros de altura para Fundação Getúlio Vargas
3) Você retorna as suas pesquisas ou você as esgota?
Normalmente sempre volto a alguns pontos, mesmo depois de esgotá-las.
4) O que é mais importante para você a cor ou a forma?
Eu diria que os dois têm a mesma proporção de importância, pois uma depende da outra para surgirem. Não existe uma hierarquia, pois realmente na minha pintura uma não conseguiria surgir sem a outra.
5) Como é o seu processo criativo?
Quanto mais ausente eu estiver de pensamentos, quando não estou buscando nada, é que surgem as maiores ideias de trabalho. Existe um estímulo de pensamentos que são constituintes do processo, mas não são eles que geram insights. Meu processo é bem anárquico hoje, já atravessei diversas formas diferentes de crença e experimentações de processo criativo, até curso de processo criativo. Trabalhar exaustivamente, ler tudo, estudar tudo, ver tudo, fotografia, viajar com caderno e desenhar tudo que me interessava. Mas foi estudando filosofia ( filósofos chamados da diferença) num período que deve ter durado dez anos, onde muitas ideias de trabalho surgiram, foi onde mais me debrucei conceitualmente.
Hoje me alimento muito da prática zen, estar no presente como matéria fundamental, esvaziando a cabeça de pensamentos o máximo possível. Assim eu me sinto mais plena, integrada, e como a obra é essa extensão do que somos, esse hoje é meu processo criativo.
6) O abstrato tem muito espaço nas suas obras quais são suas referências neste momento?
acho que acabei respondendo à pergunta acima.
7) Como foi a experiência no Chelsea College of Art?
Nossa já faz tempo, eu era bem nova, foi fascinante morar em Londres aos 26 anos, uma experiência intensa e dolorida ao mesmo tempo. A faculdade era incrível, muita troca com gente do mundo inteiro, palestras fascinantes foi muito enriquecedor.
8) O que você tem feito nesse tempo de pandemia?
Eu fiz uma série de pinturas para uma exposição na Galeria Karla Ozório. A ideia para o projeto, surgiu de um isolamento radical, onde fui parar numa fazenda no meio do mato e por lá fiquei dois meses Um dia numa mistura entre surto e transe, passei um dia inteiro catando galhos, virou uma obsessão e uma espécie de mantra. Acho que juntei uns mil galhos, depois fiquei desenhando eles, depois até que resolvi queimar tudo na fogueira.
Quando voltei pro atelier, viraram pinturas.
9) Ser mulher no mercado da arte é ainda complicado?
Sim, com certeza, ser mulher em qualquer área continua sendo sempre uma luta só para estar, infelizmente.
10) Quais são seus próximos passos?
Neste momento, tenho alguns convites para diferentes projetos, vamos ver o que acontecerá no mundo no próximo ano.