Inspirada pelo texto do escritor Nilton Bonder intitulado Bodas de Eva, que elucida questões das relações humanas a partir de Adão e Eva – em particular sobre a vestimenta e “moda” que Eva teria em seu casamento –, a artista Esther Bonder começou a pensar qual poderiam ser as prováveis ambientações para as bodas do casal no Paraíso há 5.781 anos. Além da admiração pelo texto de Nilton, Esther também é esposa dele, e isso fez com que o encontro dos dois fosse ainda mais inspirador para o tema proposto pela artista.
Da ideia, surgiram mais de 20 trabalhos inéditos, entre pinturas e esculturas, feitos por Esther em seu ateliê em plena pandemia, que retratam o Éden: em algum lugar pelo Oriente Médio, onde existe uma confluência mesopotâmica entre quatro pequenos rios. Essas obras fazem parte da exposição sensorial “Bodas de Eva”, que conta com aroma, cenografia e sonorização para compor a ambientação que remete aos jardins do Éden e fica em cartaz de 1º a 26 de março na galeria Márcia Barrozo do Amaral, em Copacabana.
Dona de uma pintura delicada e que acalma, mas que ao mesmo tempo traz a força representada pelos traços marcantes, Esther trabalha com paisagens oníricas que se transformam em estados da alma. As paisagens, em sua maioria sonhadoras, transbordam da tela deixando rastros para que o espectador se surpreenda com elementos desse imaginário, fazendo com que isso seja um convite para entrar nos jardins e passear por eles.
Em uma das séries, são apresentadas três telas de cerca de 1,40 x1,50 que representam os estágios do dia do casamento. O Amanhecer do Dia, o Banho Ritual e Bodas de Eva, ao anoitecer, com tons sutis de verde e azul e rosa. Já em “Enamoramento”, série de três telas menores, os elementos ganham cores de areia e terra. As esculturas feitas pela artista são objetos denominados de “inflorescências”. Feitos em tela metálica elas dão forma a mesma pesquisa pictórica da artista.
Segundo a artista Anna Bella Geiger, “nas telas pintadas por Esther há uma outra visão do paraíso, uma outra vontade, que entendo como a de um revigoramento da paisagem, vegetal, florestal, sem árvores simbólicas. Tudo que é tratado em detalhes visa a uma composição maior, para formar o todo da tela. As várias espécies vegetais, algumas criadas por sua imaginação, ajudam a criar um cenário propício, nunca um obstáculo intransponível para o ser humano, para Adão e Eva.”
“A artista imprime um ritmo acelerado, resultante de pinceladas rápidas, gráficas, mais gestuais, que nos transportam para os ciclos vitais de uma floresta, quase uma cena da mata Atlântica, e do rio Carioca passando entre folhas, gravetos, pedras e a ideia do movimento dos ventos que transpõe as telas.”, completa Anna Bella.