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A artista plástica Danielle Carcav é natural de Natal , Rio Grande do Norte e sua pintura é apaixonante. Ficamos logo amigos. Natal e um pintura derivada de sonhos e com um colorido lisérgico é tudo que eu amo. Sua cores provocam um sentimento de aderência é como se você entrasse naquele mundo irreal e cheio de representações. Evoca imagens do subconsciente e te convida a um mergulho de sensações.  Danielle inaugura sua individual na galeria Mercedes Viegas, no Rio de Janeiro no dia 12 de abril com visitas com hora marcada.

 

1) Quando você se descobriu artista?

Na verdade, no meu caso, foi uma questão de reconhecimento de que a arte era o meu único e possível caminho…o meu lugar de pertencimento…porque eu sempre me senti artista, desde que me entendo por gente. Eu fui uma criança muito introspectiva (mas muito curiosa). Tinha como hábito diário, brincar sozinha, embaixo da minha cama. Desenhava, escrevia, montava meus cenários…tudo ali…como se fosse meu atelier, meu lugar de processo. Porém, na juventude, precisei ir em outra direção, a Engenharia, por uma questão de buscar alguma segurança financeira nessa profissão. Mas foi muito frustrante perceber que eu nunca ficaria bem seguindo esse caminho. E foi quando eu mudei para o Rio de Janeiro (2008), totalmente absorvida por esse dilema, que percebi a chance, morando numa cidade tão cheia de possibilidades e acessos, de apontar para a direção que eu realmente queria…a arte.

 2) Como foi sua trajetória no mundo das artes?

Minha trajetória profissional começa na EAV Parque Lage, quando decido seguir meu caminho e eu me inscrever no curso do mestre João Magalhães. O curso de Pintura era voltado para análise dos processos plásticos e teóricos dos alunos. Assim, além do curso do João, comecei a fazer outros cursos também, práticos e teóricos, na EAV, que me ajudaram a ampliar meu entendimento sobre arte, história da arte e desenvolvimento de processo artístico. Mas minha primeira exposição veio através de um edital, em 2009, XV salão UNAMA de pequenos formatos, em Belém/PA. Infelizmente, eu não pude estar presente. Com o passar do tempo fui sendo aprovada em outros editais e participando de exposições por todo país e no exterior.

Em 2012, foi um ano muito especial, sob a representação da Luciana Caravello Arte Contemporânea, eu fui indicada ao prêmio PIPA e tive duas pinturas agregadas à coleção Gilberto Chateubriand. No ano seguinte, ainda na galeria, abri minha primeira exposição individual na capital carioca, “A noite e outros silêncios”, de curadoria e texto da Luiza Interlenghi. Mas como dizem por aí…nem tudo são flores…e após um tempo, eu comecei a ter problemas com ansiedade e pânico…e isso desacelerou, muito o meu processo de trabalho …não é fácil, na maior parte das vezes, mas acredito que, agora, eu consigo entender melhor minhas questões e que elas fazem parte do que eu sou e da minha vida. Assumir que o meu processo é meu lugar de angústia, mas também de acolhimento. E agora, depois desse tempo, vou abrir essa exposição individual “Desvio para o delírio” na galeria Mercedes Viegas, a partir do dia 12 de abril, com todos os trabalhos produzidos durante a pandemia. 

Danielle Carcav

3) Sua formação artística te desviou do seu fluxo natural?

De forma alguma…minha formação artística me proporcionou caminhos para que eu pudesse descobrir e chegar aonde eu queria dentro do meu processo. Ampliar o conhecimento sobre métodos, materiais, conceitos, pesquisas…só me fez entender o que realmente queria fazer. Até porque, em tudo o que eu me proponho a fazer, meu fluxo natural é a liberdade…a experimentação…como numa brincadeira…de deixar acontecer.

4) Qual o seu maior mestre?

Eu tive mestres maravilhosos: Suzana Queiroga, Ivair Reinaldim, Walter Goldfarb, Daniel Senise, Luis Ernesto…e muitos outros. Mas, com toda certeza, essa resposta tem um nome: João Magalhães

João foi responsável por formar várias gerações de pintores no cenário nacional.  Além de ser um grande e atencioso mestre, foi um artista excepcional e uma das pessoas mais lindas que eu encontrei nessa vida. Ser orientada por ele, ou, às vezes até desorientada tbm (risos), foi um grande privilégio na minha vida e na minha carreira.

Danielle Carcav

5) Você no seu trabalho se aproxima das suas referências? 

Sim. Primeiro, acho que tudo o que eu vejo, percebo, sinto me serve como referência…como sou colorista, eu observo plantas, casas, bichos, pessoas, luzes, sombras…a estranheza das cenas…como pessoas, minhas relações pessoais, meus afetos, o que eu leio, o que eu assisto, o que eu escuto, me serve como referência mas falando de outros artistas…acredito que alguns processos me seduzem e me inquietam…não no sentido de tentar chegar ao mesmo lugar mas entender como foi o andamento, se há outras possibilidades antes, ali ou a partir dali…porque a arte é sempre a maior referência para o artista.

6) Você segue alguma técnica na construção da pintura?

Eu costumo desenhar em papel vegetal…os elementos (personagens, plantas, objetos) e vou sobrepondo para ver como ficam…vou na base da experimentação…mas o processo de colorir é muito intuitivo…vou lá fazendo e descobrindo onde os acidentes estão me levando…como trabalho bastante com papel…eu faço uma base de acrílica antes…com uma cor que proporcione uma ilusão de luz quando eu tentar descontruir partes das camadas com água ou outra tinta…

Desvio para o paraíso

 7) O suporte qual é o seu preferido e qual é sua pesquisa atual?

Eu gosto muito do papel por conta da trabalhabilidade com a tinta e a água…as manchas ficam mais evidentes, a desconstrução mais latente e as camadas mais expostas…acho que o resultado para a atmosfera da imagem é mais honesto…se aproxima mais do que tento propor nos efeitos pictóricos.

Minha pesquisa atual é sobre o imaginário alusivo à liberdade como delírio…isso por conta do momento de confinamento.

8) Você flerta um pouco com a abstração o que te segura na figura?

Boa pergunta…então, na minha cena, normalmente construo uma narrativa subjetiva…isso me interessa…construir esse ambiente…esse lugar de inquietação, dúvida ou provocação…e acredito que as figuras reforçam a construção não só de uma narrativa afetiva, mas sensorial da memória…e é nesse ponto que eu acho que as figuras trabalham para compor o espaço e a subjetividade da cena.

Danielle Carcav

9) O que você vai apresentar nessa individual?

São  9 pinturas feitas durante a pandemia…que fazem alusão ao delírio que a liberdade virou nos tempos de pandemia. A maior pintura dá o nome à exposição “Desvio para o delírio” que é quase uma ode ao desejo de se jogar na leveza em tempos tão tristes e pesados. Todos os trabalhos se relacionam em algum aspecto com esse “desvio”. Em como cada espaço afetivo  comporta esse delírio.

10) Como está sendo pintar na pandemia?

No começo da pandemia, eu mergulhei no trabalho…isso me salvou do abismo emocional que o confinamento e as perdas me impuseram, duramente, todos os dias. Mas,  durante o processo, eu percebi que poderia aproximar meus amigos através do meu trabalho…fazer com que eles participassem um pouco do meu momento criativo…então comecei a fazer vídeos ao vivo…depois passei para vídeos editados porque pintar ao vivo me deixa ansiosa. Foi muito bom receber o feedback das pessoas, de vê-las ficarem felizes em me assistir pintando, algumas se sentiam ao meu lado, outras pintando comigo…e nesse momento eu penso que meu trabalho não estava aparando só a mim…e sim, também, às pessoas que o acompanham. Isso me motivou muito. Nunca a arte foi essencial para a humanidade…em tempos de isolamento, foi ela que deu sentido aos nossos dias…o cinema, a literatura, a dança, a música…as artes visuais…. Eu tenho muito orgulho de ser artista e de lutar pela arte.

 

Danielle Carcav

 

Danielle Carcav
Danielle Carcav