Entre meus voos no espaço digital recebi uma notificação da Martha Pagy Escritório de Arte. Eu não conhecia o trabalho da artista plástica mineira Leonora Weissmann e foi uma grata surpresa. Contundente e ao mesmo tempo passa uma leveza nos traços com muita apropriação do espaço na tela. Conversamos por email e ela contou sobre seu processo artístico e sua estória.
1) Quando você começou a fazer arte?
Comecei muito cedo, ainda criança. Na verdade, nunca parei. Mas inclusive vendia meus desenhos e pinturas com doze anos de idade. Quando ingressei na Universidade Federal de Minas Gerais, na Belas Artes, com 18 anos, já pintava e expunha há algum tempo. Meu pai era artista e professor da UFMG, minha mãe é artista e foi professora da Escola Guignard. Frequentei as duas escolas com ambos quando criança e praticamente fazia as aulas.
2) Sua educação familiar ou acadêmica te motivou a ser artista?
A arte sempre presente em casa foi o maior estímulo, com certeza. Depois a Belas Artes, festivais de inverno e demais cursos acrescentaram muito, novos desafios, descobertas.
3) Qual a importância do desenho no seu processo criativo?
O desenho foi a primeira experiência com a arte. É sempre presente, pensamento em forma de imagem. Sempre amei técnicas diversas, descobri-las e explora-las. Me imponho como processo sempre desenhar, paralelamente às outras técnicas, no caso o que mais faço que é a pintura.
4) Quais foram as suas primeiras influências?
Meus pais, os artistas amigos de meus pais, grandes desenhistas e artistas de Minas Gerais. Posteriormente Van Gogh foi minha grande paixão que me motivou a pintar. Daí vieram tantos! Guignard por exemplo.
5) Hoje no seu processo criativos quais são suas pesquisas?
São muitas vertentes, mas principalmente a pintura. O pensamento da pintura que é a própria pintura aparece em todos os trabalhos que realizo. O processo de retratar sempre me motivou e instigou muito. E segue persistente. A pesquisa sobre a paisagem também. Temas bem clássicos, tradicionais, não é? Mas acredito que infinitos, pelo menos em mim.
6) O auto retrato está presente no seu trabalho porque essa pesquisa te motiva?
Sim. Foi a primeira forma de pesquisa na pintura. Me observar através do espelho, para compreender o ato de pintar, a necessidade e para aprender mesmo, as técnicas, a luz, as cores, exercitar e estimular a observação e a percepção. Foi bem natural e posteriormente se tornou uma constante que ainda me instiga imensamente. O autorretrato está sempre em tudo que o artista fizer, de maneiras inúmeras. Acho fascinante artistas pintores que se auto retrataram uma vez ou durante toda a vida. Sempre foi o que mais me impressionou. É metafísico e metalinguístico. Um instante do ato de pintar através do olhar que se observava durante a passagem do tempo. É lindo e comovente.
7) Quais são suas experiências em sua carreira?
Eu sou cantora e letrista também. Já tive banda e participei de diversos grupos, todos muito queridos. Todos com discos gravados que me dão muita alegria. Não é muito fácil conciliar tantas tarefas, compromissos e estudos. Tudo demanda muito tempo e envolvimento. Continuo escrevendo letras vez ou outra e cantando em projetos mais esporádicos. Depois que tive dois filhos começou a apertar bastante. Atualmente me concentro na pintura, nos projetos que surgem, questões e situações apresentadas pela vida. Vontades que aparecem e motivam o fazer. Cenários, projetos gráficos. Tenho um duo de design com Julio Abreu que se chama Jiló e desenvolvemos vários projetos gráficos, principalmente na área cultural, livros, cd’s, cenários etc. É um pouco confusa essa minha vida na arte, cada hora aparece uma coisa nova, um novo desafio, o que é bom, movente, mas ao mesmo tempo dá uma sensação de falta de chão, sempre em suspense. É necessária muita disciplina para conseguir conciliar tudo e seguir sempre em movimento! Já dei aulas na Belas Artes e na Guignard e atualmente dou no atelier.
8) Você já esteve em alguma residência artística ou algum coletivo?
Já fiz apenas uma residência em Malí, Bamako, na África. Foi inacreditavelmente forte. Coletivo apenas na música, muitos grupos e atualmente integro o Coletivo ANA, de cantoras e compositoras, temos um disco gravado, disponível nas plataformas. Mas sempre faço duos, trabalhos e propostas em conjunto. Acho delicioso, rico e estimulante.
9) Qual é a sua rotina no atelier?
Eu sou obsessiva. Minha casa sempre foi atelier ao mesmo tempo. Tento trabalhar todos os dias. Quando estou com meus filhos fico aflita tentando produzir, acumulo essa energia que às vezes até sai junto a eles mesmo. Tento incorporar toda essa rotina da vida ao processo, apesar de saber que são realidades diferentes. Me imponho desafios e roteiros para desenvolver os projetos e pintar tudo que tenho vontade. Muitas imagens arquivadas, cadernos cheios de idéias e vontades. Sempre há o que fazer. O difícil é parar, viajar, me permitir descansar. Se deixar fico trabalhando o tempo todo porque realmente é o que me deixa mais feliz. Uma necessidade e fuga ao mesmo tempo que tenho desde pequena. Sempre desenhando, rabiscando, anotando, e quando não, lendo, vendo filmes etc… acho que é um amor gigantesco pela arte mesmo. Não sei explicar muito bem.
10) O que você está preparando para os próximos meses?
Com a quarentena comecei a produzir até mais. Dentro de casa e angustiada foi o que gerou. Ainda bem. Atualmente estou com um projeto chamado auto retratar-se. Fazendo um autorretrato por dia, como sair, como eu conseguir, que for possível ou impossível. É um exercício diário. Estou no 20º hoje. Não sei nada sobre o dia de amanhã, o que sairá. E a idéia é essa mesmo. Notei que retratar significa também voltar atrás, “se retratar” no sentido de se desculpar, retornar. E sinto esse processo na pintura, no retratar que nunca se alcança é sempre uma busca incessante. Além disso tenho que fazer outras pinturas, trabalhos, cuidar das crianças, da casa etc etc etc … Parece procurar problema, não é? Talvez seja, bons problemas.
Uma ótima notícia para os próximos meses é o lançamento de um livro com parte do meu trabalho pela editora Barléu. Projeto que já se estende há dois anos e que tem me deixado muito feliz. É uma baita empreitada rever tudo que você fez, selecionar e desenhar um livro, mas é a realização de um sonho e conto com uma equipe dos sonhos.