No dia 9 de setembro, o Paço Imperial inaugura a exposição “O Som do Tempo ou tudo que se dá a ouvir”, com uma grande instalação inédita da artista carioca Ursula Tautz, com curadoria de Ivair Reinaldim. Resultado de cinco anos de pesquisa, a instalação aborda o tempo e a memória.
Composta por nove toneladas de terra negra, em formato de pirâmide, que soterram uma cadeira com braços e alto espaldar, além de areia dourada e badalos de sinos, a instalação de dois metros de altura é envolta por três filmes, que são projetados pelo ambiente. Por meio de uma obra imersiva, integrada ao espaço e ao entorno, cada visitante terá uma experiência única na mostra, que irá se transformar ao longo do tempo, com o germinar da terra que integra a instalação. Um desdobramento do trabalho será apresentado na ArtRio, de 8 a 12 de setembro.
Para acompanhar mais de perto esse processo o site fez algumas perguntas a Ursula Tautz para conhecer melhor essa artista que está no papo do dia da arte contemporânea.
Qual é a sua formação?
Frequentei a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, que é mais que uma formação, é uma opção de vida. E, academicamente, me formei em administração de empresas, moda e fiz pós em design gráfico, porque minha mãe foi uma das primeiras estilistas do Rio de Janeiro, e tinha uma loja (Jean et Marie), que ditava moda nos anos 70/80. Eu, muito novinha, já ajudava a elaborar e executar as vitrines, que eram verdadeiras instalações conceituais. Além disso, meu pai criava mais de cem pastores alemães, dá pra imaginar a influência que esse universo fabulário teve na minha vida.
Qual é a proposta das duas exposições?
As duas são um desdobramento de minhas pesquisas, que, aliás, direcionam minha criação. São o resultado de um estudo sobre o pêndulo, que conta o tempo. Busco perverter esse tempo doutrinador, cronológico que nos rege. Com a exposição O SOM DO TEMPO ou tudo que e dá a ouvir quero criar um tempo particular para cada um, um hiato dentro do caos, através de vídeos e do badalar dos sinos no entorno da Praça XV.
E desta exposição surgiu o SOLO na ArtRio, na Galeria FASAM, uma performance para unir as duas ações, onde eu liberto o som do tempo contido no contêiner – caixa metálica que é um sino. Os projetos SOLO da ArtRio deste ano acontecerão dentro de contêineres. Na performance, eu lançando os 12 badalos expostos no Paço Imperial contra as paredes do contêiner, fazendo reverberar um chamado para a exposição do Paço. O registro em vídeo desta performance estará exposto no Solo ArtRio, assim como seus vestígios.
Quais são suas referencias e pesquisas?
Somos atravessados por uma infinidade de coisas, e, assim, eu me sinto multi-atravessada, então tudo pode me influenciar. Ao mesmo tempo tudo é igual a nada, então tenho uma pesquisa guia, que se desdobra por si só. A partir do objeto-balanço, objeto poético que adotei, houve uma bifurcação: da questão pendular, de contagem do tempo, daí os sinos (que já me acompanharam em viagens de pesquisa) e da questão do espaço, o material do balanço, a madeira, que me apresentou a rádica, uma fatia de raiz de árvore que traz uma cartografia intrínseca ao seu crescimento, um mapa do tempo. Então tudo se comunica.
E existem também as questões da vida que me atravessam e as quais eu reajo. Acho que é impossível não reagir à loucura que estamos expostos hoje. Referências eu posso citar milhares, mas, rapidamente aqui: Cildo, Tunga, Parajanov e por aí vai…..
Qual é seu suporte preferido?
Gosto do espaço, de brincar com ele, alterar. E se altero o espaço, altero o tempo. Então minha praia são as instalações, para mudar a percepção. Estamos tão contaminados de imagens, que já não vemos mais nada.
Quando você decidiu que arte ia ser seu leitmotiv?
Desde sempre.