Mateus Moreira é mineiro de Belo Horizonte e caminha pelo mundo das artes desde que entrou em mundo adulto. Apaixonado pela pintura apresenta suas visões e busca através da cor expressar seus sentimentos, conflitos e equilíbrio. Trabalha muito em seu atelier e vai com o uso da plataforma Instagram ganhando seus admiradores e divulgando seu trabalho. Em 2021, foi premiado no 16º Salão Artistas Sem Galeria, em São Paulo.
O que levou você para o caminho das artes?
Mesmo avançando para a adolescência e chegando à fase a adulta, a prática de desenhar que começou na infância prevaleceu, aprofundou e se desenvolveu para o trabalho em Pintura. Acredito que persistir com essa produção proporcionou o desenvolvimento da minha própria identidade, o sentimento de incompletude que é intrínseco, diminuía à cada fim de um trabalho. Movimentar, investigar, me conhecer e conhecer o mundo que eu vivo é o que me motiva.
A sua educação pedagógica fez parte desse caminho?
Acredito que foi fundamental para a minha escolha de profissão ter conhecido um pouco sobre a demais áreas de atuação apresentadas no ensino fundamental e médio. As demandas escolares sempre me indicavam que o interesse vital era a criação artística, mesmo essa prática não fazendo parte da grade escolar. Ainda tenho lembranças do quão era frequente meus pais serem comunicados de que eu não fazia o dever de casa, mas desenhava nas páginas do caderno. Lembro das faxineiras da escola me entregarem a bucha e o detergente para limpar as carteiras da sala de aula que ficavam completamente preenchidas com desenhos. Apesar dessas memórias carregarem um pouco da reprovação, fico feliz que escapei dessa censura, percebendo o quão inseparável é o fazer artístico em todos os âmbitos da minha vida.
E sua família o quanto foi responsável pela sua escolha?
Sem o apoio, sem o investimento, sem o voto de confiança e dedicação da minha família, o presente momento não seria possível. Minha família foi fundamental, essencial e indispensável. A eles tenho minha eterna gratidão e tudo que eu puder presentear e retribuir não precisarei pensar duas vezes.
Como o seu ambiente, sua cidade influencia seu trabalho?
Belo Horizonte praticamente inaugura meu trabalho pictórico. Inicialmente almejei representar os caminhos que eu percorria na cidade, espaços que eram banhados pela luz do crepúsculo e da iluminação artificial da noite. A noite na cidade despertou o meu olhar para cenas inusitadas. O interesse pelo caos nasceu percebendo as surpresas e perigos no cotidiano da cidade e isso me encorajou a acreditar na minha própria imaginação e simbologias.
Quais estórias você quer contar na sua pintura?
Após uma intensa pesquisa dentro dos gêneros pictóricos da paisagem, natureza-morta e o retrato, percebi que poderia criar minhas próprias composições dentro do campo pictórico. Espaços que nascem de um desejo intuitivo de decifrar inquietações enraizadas no inconsciente e no coração. O presente é uma consequência do passado. Então, desejo encontrar nas imagens ensinamentos escondidos afim de que o futuro seja encarado de forma mais corajosa, consciente e sincera. Acredito que esses segredos se manifestam no trabalho em Pintura, tornando as imagens veículos de presságios para minha própria vida.
Quais são suas referências artísticas?
Poderia citar uma lista enorme de artistas mundialmente famosos. Mas quando paro para pensar realmente em quem contribuiu para o desenvolvimento do meu trabalho, penso nos meus professores de faculdade e amigos artistas. Mas três nomes tiveram e têm grande impacto na minha trajetória. Conceição Bicalho que despertou o meu olhar para as possibilidades e potências das manchas e dos gestos. Giovanna Martins que despertou o meu amor e eterna fidelidade à Pintura. E Alan Fontes que despertou o caminho profissional dessa linguagem me fazendo acreditar que é possível. Aos meus amigos que proporcionaram discussões e experiências. Sou muito grato à todos.
O que deixa você inquieto?
Angústia. Talvez o grande tema do meu trabalho. O grande mal-estar que existe para de alguma forma me manter em movimento. O sentimento de injustiça, de medo, de repreensão, de raiva, que para sobreviver permanece em constante embate dentro de mim. Pintar é a forma de dar vazão. Pintar se tornou morte e reconstrução, minha sina ou minha sorte.
Seu processo artístico foi afetado pela pandemia? Fala um pouco sobre o processo
Em 2019, meu trabalho começou a caminhar para um lugar do pessimismo e desesperança, causado por desilusões sociais, afetivas e políticas. E no ano seguinte, a pandemia surgiu e tudo aquilo que eu criei encaixou com o momento. Isso gerou um olhar premonitório para com o trabalho. Comecei a acreditar no poder daquelas imagens e na responsabilidade que nasce ao trazê-las para o mundo. A pandemia deixou mais escassa as oportunidades e toda a frustração foi depositada na produção plástica. A pintura se tornou, mais do que nunca, o espaço da minha voz, dos meus anseios, da minha resistência.
Quais são seus planos para 2022?
A produção não pode parar. Esse é o foco principal. Perceber que os cuidados devem continuar e encontrar o máximo de oportunidades que a flexibilização possibilitar. Pois, como artista percebo o quanto é importante as experiências institucionais e do circuito de arte, legitimando o trabalho gerando coragem e persistência. Tudo isso eu estou empenhado em buscar.