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A Galeria Marília Razuk inaugura a exposição A cabeça de Jorginho, do artista Rafael Alonso, dia 17 de junho, sábado, a partir das 11h. A mostra, composta por aproximadamente 50 obras, traz um conjunto de intervenções na arquitetura da galeria, com pinturas realizadas diretamente sobre as paredes e cerca de 30 obras inéditas em tamanhos, formatos e com materiais variados. 

La prima posicioze, 2022 - A Cabeça de Jorginho
La prima posicioze, 2022

Em comum, os trabalhos trazem cruzamentos entre alguns repertórios do campo da arte e visualidade mundana relacionada com o imaginário tropical, praiano e esportivo do Brasil.

O pensamento crítico que anima o trabalho de Rafael Alonso é incisivo e implica o humor. O título da exposição refere-se a um personagem criado pelo artista. O Jorginho mencionado ali é um pintor “jovem” e “inconsequente”, filho da Mãe Mercado e do Pai História.

Copacabana Beat, 2021/23
Copacabana Beat, 2021/23

 

Rafael Alonso apresenta “A Cabeça de Jorginho”

Mas o cara é mimado mesmo por sua Vovó Pintura, que o tempo todo lhe atende os caprichos e lhe oferece paparicos, como um delicioso bolo de paisagem invernal, com muita tinta cremosa, nas cores azul e branca. Jorginho gosta de adrenalina e velocidade, pilota moto, pratica jiu-jitsu e só faz aquilo de que gosta. Para ele, “não há moral, não há conflito, apenas flutuação”. Ué, alguém chamou isso de “arte contemporânea”?

A história de Jorginho foi escrita por Alonso como capítulo de sua tese de doutorado, defendida no ano passado, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A narrativa surge na mostra contada por uma voz feminina, reproduzida nos alto-falantes que compõem um dos trabalhos, Stardust Memories (2023).

Fuck off, 2022
Fuck off, 2022

 

A obra completa-se com uma pintura em preto e branco e na qual estão representadas projeções da logomarca do Banco Nacional, concebida pelo artista e designer gráfico Aloísio Magalhães, no começo da década de 1970. A marca do extinto banco popularizou-se em âmbito mundial por meio do esporte, estampada no carro, no capacete e nas roupas do piloto de Formula 1 Ayrton Senna, alçado, por sua vez, à condição de herói nacional na segunda metade dos anos 1980. Todos esses dados e imagens formam a cabeça de Jorginho.
 
Mas o que está na cabeça do tal Jorginho? Parece que é ali que a austeridade das formas abstratas, o juízo sobre faturas pictóricas e as regras do “bom gosto” são atropeladas por combinações vibrantes de cores, inclusive fluorescentes; pelo chichê do “espetáculo natural” das luzes nos céus litorâneos durante o pôr do sol; pelos degradês que estampam tantos e tantos itens da cultura visual do surf; por objetos largados e recolhidos das ruas; pela música pop, de rádio FM, dos anos 1980; pelo aspecto tecnológico das aberturas de programas televisivos da Rede Globo; pelas imagens de araras, coloridíssimas, em pleno voo; pelos corpos, sungas, biquínis e óculos escuros com lentes espelhadas de banhistas em praias do Rio de Janeiro; e, embutidos aí, estão Phil Collins, Hans Donner, Renato Gaúcho e muitos outros.

Promoção Rio, 2023
Promoção Rio, 2023

“Os trabalhos reunidos para essa exposição são resultado de aproximadamente 2 anos de pesquisa. A narrativa d'”A cabeça de Jorginho” propõe percursos de investigação formais e conceituais. Ora, através da desconstrução dos ‘shapes’ tradicionais das pinturas, ora inserindo a palavra como elemento estruturante, ora explorando signos visuais da cultura de massa brasileira a fim de produzir um comentário acerca de certas incongruências da sociedade contemporânea”, conta Rafael Alonso.

A cabecinha de Jorginho, 2022
A cabecinha de Jorginho, 2022

 

Sobre Rafael Alonso
 
Nascido em Niterói em 1983, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É graduado em Pintura e doutor em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Atualmente faz parte do corpo docente do curso de Cenografia da Escola de Teatro da Unirio. 

Sua pintura busca refletir sobre o espaço social em que está instalada, partindo para isso da banalidade e do ordinário.

Como um cronista contemporâneo, seu trabalho expõe as incongruências da sociedade, experimenta campos de atuação formais ao mesmo tempo em que não retira a pintura do seu modelo crítico de refletir sobre o seu tempo e lugar.

Exotic Fish Belly, 2021
Exotic Fish Belly, 2021