Aconteceu ontem (02/03) em Trancoso a abertura da exposição “Corta Fogo” do artista plástico Raul Mourão na Galeria Hugo França. A exposição foi feita em parceria com a Galeria Nara Roesler e com a curadoria de Evangelina Seiler. A exposição fica aberta na Galeria Hugo França até o dia 25 de julho de 2024. Quem estava no sul da Bahia apareceu para ver a integração do forte trabalho de Raul Mourão com o espaço da galeria.
Segue o texto da curadora Evangelina Seiler
O convite da Galeria Nara Roesler e de Raul Mourão para ser curadora desta exposição na Galeria Hugo França, em Trancoso, me trouxe a lembrança de momentos em que Raul e eu trabalhamos juntos, sendo em 1998 a primeira vez, no Rio de Janeiro, em 2005, no Ano do Brasil na França, e em 2008 no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
Para mim é um grande privilégio acompanhar a trajetória e as reflexões de um artista como Raul ao longo dos anos. Sua produção multimídia composta por desenhos, gravuras, pinturas, fotografias, vídeos, esculturas, instalações e performances é permeada por seu olhar e senso de humor crítico sobre o espaço urbano o qual observa assimila e ressignifica seus elementos visuais cotidianos estimulando ideias e sentimentos sobre a dinâmica da cidade.
Raul tem total domínio sobre seu trabalho e sobre todos os aspectos que envolvem a exposição. Sua obra anima o olhar do visitante, dinamiza o espaço expositivo e as várias etapas da mostra, desde sua
concepção, transporte, até a montagem.
O percurso de Corta Fogo se inicia na área externa da Galeria com a instalação Perdido#1 (2024), um conjunto de bandeiras estampadas com setas vermelhas, símbolo gráfico usado pelo poder público para indicar desvios no espaço urbano por motivo de obras. Medindo 195 cm x 195 cm e hasteadas em mastros de 6 metros de altura, as bandeiras sinalizam a ocupação de um território visual e vibrante em som e movimento.
No espaço interno da galeria, nos deparamos com as colossais esculturas de aço corten, Rebel#1 e #2 (2021), e um conjunto inédito de esculturas menores expostas em duas mesas desenhadas por Hugo França especialmente para a mostra. Estas esculturas evocam casas, garrafas e pedras de gelo, trazendo humor e surpresa para o espaço
expositivo austero da galeria.
As obras Rebel#6 e #7 (2022), desenvolvidas pelo artista a partir de 2020, também em aço corten, ocupam a área externa adjacente ao galpão. Tais trabalhos são resultado de uma trajetória de mais de trinta anos na qual Raul investiga a geometria, dialogando tanto com a própria história da arte brasileira quanto com a paisagem urbana do Rio de Janeiro e do Brasil, marcada por um excesso de grades, gaiolas e outros anteparos criados com a pretensa finalidade de proteger os moradores das cidades contra a violência.
Nestes trabalhos de grande escala o artista joga com a nossa percepção pois a questão central não é monumentalidade, mas o equilíbrio, a possibilidade de movimento com que as obras podem ser acionadas por meio de um leve toque ou empurrão. Em Corta Fogo a obra do artista não se limita ao material ou a forma, ela se estende a referências políticas e sociais, sobre o que é publico e o que é privado, sobre a violência, a sociedade e a dinâmica da cidade em constante mutação.
Evangelina Seiler
Fotos Divulgação