Documentário reúne personagens que narram um recorte da história da escravidão, no Rio e na Bahia e seu impacto na sociedade atual
Por que não se vê muitos jornalistas negros na televisão brasileira? Partindo de seu próprio ofício, essa dúvida, levantada pela jornalista holandesa Nina Jurna, na casa de amigas, no Rio de Janeiro, onde mora e trabalha desde 2011, foi o ponto de partida de novos questionamentos relacionados ao racismo no Brasil, que culminaram no documentário Da Bahia ao Brooklyn –Histórias do Caribe, que terá seu episódio inicial, exibido pela primeira vez no Rio de Janeiro, no dia 9 de abril, no Espaço Zona Imaginária, na Gamboa, seguido de debate com convidados.
“Da Bahia ao Brooklyn – Histórias do Caribe” é um documentário da jornalista holandesa Nina Jurna, produzida pela Memphis Features, em coprodução com a VPRO. Sob direção de Martijn Blekendaal, e que conta com a iniciativa da rede diplomática dos Países Baixos, para chamar a atenção da sociedade sobre a lamentável diáspora de africanos que vivenciaram a dor da escravidão, e a herança que isso deixou, o racismo, a exclusão, o menosprezo e a desvalorização humana, latentes ainda hoje.
“Aumentamos a conscientização e iniciamos um diálogo sobre a história da escravidão e seu impacto em toda a sociedade” disse o cônsul-geral Andre Carstens, sobre a mostra de importante documentário.
No ano passado, o Rei da Holanda Willem-Alexander, junto com o Primeiro-Ministro, pediram desculpas formais pelos mais de 250 anos de escravidão, sob aplausos em evento que marcava os 150 anos de emancipação dos escravizados nas ex-colônias holandesas.
Lá ela reúne uma série de histórias que salientam as mazelas da escravidão e as seguidas tentativas de esconder seu passado nefasto. Em uma longa viagem da Bahia (Brasil) ao Brooklyn Nova York (Estados Unidos), Nina Jurna visita consecutivamente o Brasil, Suriname, Trinidad e Tobago, Curaçao, República Dominicana e a fronteira com Haiti e Jamaica para finalmente concluir sua jornada e mergulhar na rica cultura caribenha dos Estados Unidos.
Neste primeiro episódio do documentário, de sete capítulos, um por país, durante 45 minutos, são “desenterradas” histórias de descendentes de africanos, narrando as heranças da escravidão e do colonialismo, trazendo à tona questões raciais, que se manifestam através da cultura, da política, da religião, dos costumes, nos dois corações mais negros do país – a Pequena África, região portuária do Rio, centro de desembarque dos cerca de 4 milhões de
escravizados provenientes da África, e no Pelourinho, em Salvador, onde eram torturados
publicamente.
No Rio, onde reside, a jornalista conversou com o professor de história Luís Torres, que trabalha com afinco para tornar visível a história da escravidão no Rio, uma que literalmente desapareceu sob as pedras dos pavimentos, com exceção da Pedra do Sal onde o passado escravista resistiu.
Também foram entrevistadas Lenimar e Larissa, mulheres que produzem cerveja artesanal que mantém vivas as histórias das mulheres negras estampadas nos rótulos, e com a Dona Mercedes, diretora do IPN – Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos,
que descobriu ossadas de milhares de escravizados enterrados debaixo de sua casa e criou um centro cultural no local.
Sua visita a Salvador, na Bahia, revelou um Brasil de maioria negra, onde as raízes africanas são visíveis e fonte de orgulho. Porém se surpreendeu com a constatação de que estatuetas de um orixá negro como Iemanjá, tem mais valor quando pintado de branco; e um político local chamado Celsinho que se declara branco perante à Justiça Federal.
Conclui sua jornada no Pelourinho, um bairro no Centro, onde os escravizados eram torturados, que foi revitalizado e se tornou a principal atração turística da cidade e local onde se celebra a herança africana, identificada na arte e na cultura, como faz a Banda Didá formada por mulheres empoderadas pelo tambor como Laura. “135 anos após a abolição da escravatura no Brasil, está crescendo uma geração para quem o passado não é mais motivo de vergonha, mas sim fonte de orgulho e autoestima”, conclui esperançosa Nina.