O Grupo TAPA completava 20 anos de estrada quando estreou Ivanov. Nas comemorações de 40 anos, foi a vez de montar O Jardim das Cerejeiras. Agora prestes a completar 45 anos de história em junho de 2024, o TAPA se debruça em mais um clássico de Anton Tchekhov (1860-1904).
Com direção de Eduardo Tolentino de Araujo, Tio Vânia estreia no dia 10 de maio, sexta-feira, às 20h, no Sesc Santana. A tradução da peça ocorreu diretamente do russo pelo próprio diretor e ganhará uma edição da Edusp na coleção Em Cena. A temporada vai até 16 de junho com sessões de quinta a sábado às 20h e domingo às 18h.
Anna Cecília Junqueira (Sônia), Brian Penido Ross (Tio Vânia), Bruno Barchesi (Astróv), Camila Czerkes (Helena), Lilian Blanc (Maria), Tato Fischer (Bexiga), Walderez de Barros (Marina/Babá) e Zécarlos Machado (Serebriakov).
Escrita em 1896, a trama mostra o proprietário de terras, Ivan (Vânia); sua sobrinha Sônia e Astróv, o médico da família, e suas vidas desestabilizadas após chegada do célebre professor Serebriakóv, agora aposentado, e de sua jovem e bela esposa Helena. Polarizações ideológicas, contendas familiares, emancipação feminina, a hipocrisia da fidelidade conjugal, se cruzam por fios invisíveis do texto que transcende seu tempo, espaço, além de uma reflexão sobre o meio ambiente, que situa a obra de Tchekhov no aqui e agora.
“Todo mundo tem um Tio Vânia, que nas festas familiares diverte as crianças com truques e comentários escatológicos e aos adultos com piadas picantes que, ao subir do teor etílico, vão se tornando ácidas, até ficarem desagradáveis por colocar o dedo em feridas ocultas da família. Ser parente não é prerrogativa, ele é chamado de Tio pelos amigos do sobrinho. Sua condição inerente é ser tio.
Ele é o homem comum, atolado em dívidas, exaurido pela mediocridade a sua volta, descrente da política e cansado dos discursos e teorias inexequíveis. Tio Vânia são os nossos vizinhos, ou melhor, nós mesmos, com nossas frustrações. Todo Tio Vânia tem um amigo para discutir, polemizar, divergir e com isso se manter vivo e cativar a atenção da plateia familiar”, salienta Tolentino.
O diretor ainda ressaltou os temas que circulam em torno da trama. “Entre as várias camadas, duas questões acabam girando entre os personagens: A terra como propriedade privada e a terra como propriedade da humanidade. A história gira em torno de uma família que briga pela posse da terra e um personagem que reforça a questão do reflorestamento e esgotamentos dos rios. Em meio a isso, existem as relações amorosas que vão se misturando. São reflexões que dialogam em cheio com a atualidade que vivemos”.
Uma das marcas do dramaturgo é o equilíbrio entre os personagens, nenhum se sobrepõe ao outro, todos têm a mesma importância para atingir o resultado final da obra. Em cena, o Tapa une diversos atores de sua história como Anna Cecília Junqueira, Brian Penido Ross, Bruno Barchesi, Camila Czerkes e a participação especial de Zécarlos Machado que interpretou o personagem título Ivanov em 1998 na primeira incursão em Tchekhov do TAPA.
O ator também foi o protagonista do recente Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna Filho, papel que lhe rendeu a indicação de melhor ator no Prêmio Shell e ganhador do prêmio de atuação no Festival Internacional de Angra dos Reis.
Tio Vânia marca um reencontro presencial importante do grupo com Walderez de Barros após 30 anos. A última colaboração presencial com a atriz foi em Querô, Uma Reportagem Maldita, de Plínio Marcos, em 1993. Ambos estiveram juntos em As Portas da Noite, de Jacques Prévert, em uma versão digital durante a pandemia. O espetáculo também marca a volta de Lilian Blanc ao TAPA, local de sua estreia profissional nos anos 90.
Após o sucesso de A Gaivota, que definiu os rumos do Teatro De Arte de Moscou dirigido por Constantin Stanislavski, Tio Vânia foi escolhida para ser a produção sucessora. A montagem foi amadurecendo ao longo do tempo, e conquistou o público e a crítica, cada vez mais familiarizados com as inovações desta dramaturgia.
O clássico ganhou adaptações ao redor do mundo, inclusive no cinema. Teve encenações russa ortodoxa, soviética, novaiorquina, pós-moderna, argentina, inclusive com direção de Daniel Veronese, além de algumas versões brasileiras.
O diretor Eduardo Tolentino ressalta o legado do autor russo. “Existem três grandes movimentos do teatro, os gregos, os elisabetanos (Shakespeare) e os russos dos quais Tchekhov é a sua mais completa tradução. Ele retratou o realismo burguês, inseriu elementos na dramaturgia, os textos são sonatas em quatro atos e os temas se cruzam como em um concerto e se estruturam praticamente em um romance, onde o que importa é o que está por trás do que é dito. Tchekhov é a quintessência do que existia de literatura, artes plásticas, teatro, música na Rússia durante o século 19. Ele escreveu teatro como ninguém tinha feito até então”.
Fotos : Ronaldo Gutierrez
SERVIÇO
De 10/05 a 16/06. Quinta a sábado, às 20h. Domingo, às 18h.
Sessão extra, sexta-feira, 31 de maio, às 15h.
Sesc Santana – Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jd. São Paulo.
Local: Teatro. 330 lugares. 12 anos.
Ingressos: R$ 50,00 (inteira), R$ 25,00 (meia) R$ 15,00 (credencial plena)
Duração: 120 minutos
Acesso para pessoas com deficiência
Estacionamento – R$ 17,00 a primeira hora e R$ 4,00 a hora adicional – desconto para credenciados.