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A Danielian Galeria tem o prazer de apresentar, a partir de 8 de agosto de 2024, às 18h, a “Ocupação Mulherio”, um conjunto de exposições individuais das artistas Nadia Taquary – “Marés”;Sônia Menna Barreto – “Fábulas”; Nelly Gutmacher – “Son(h)os”; Niura Bellavinha – “Essências”; e “Harmonias”, uma sala especial dedicada à obra da artista e marchande Marcia Barrozo do Amaral, falecida há um ano (1943-2023).

Nelly Gutmacher Sem título, 2023 - Ocupação Mulherio
Nelly Gutmacher Sem título, 2023 – Ocupação Mulherio

 

Os curadores Marcus de Lontra Costa, Viviane Matesco e Rafael Fortes Peixoto dão seguimento à ideia iniciada em 2022, com a mostra “Mulherio”, que reuniu trabalhos de 35 artistas mulheres de diferentes gerações, pesquisas e poéticas, a partir da pesquisa histórica e da seleção de trabalhos.

O trio curatorial destaca que “Ocupação Mulherio” não parte “de uma premissa ou de um enlace temático, mas tem como principal objetivo demonstrar a importância da trajetória destas mulheres para o ambiente cultural brasileiro, assim como a força e poesia de suas expressões”.

“Sem categorizações ou classificações, “Ocupação Mulherio” reafirma “espaços e conquistas, mostrando que a arte representa o poder essencial feminino de criar e acima de tudo, transformar”, afirmam. Marcus de Lontra Costa, Viviane Matesco e Rafael Fortes Peixoto assinalam ainda que “os títulos que diferenciam cada mostrasão insinuações para que os visitantes possam conhecer e criar relações sensíveis com as obras expostas”.

Marcus de Lontra Costa diz que nesta segunda edição de“Mulherio”, ele e os outros curadores optaram “pela realização de cinco individuais de mulheres que sintetizam a ação feminina na arte contemporânea brasileira: religião, sexualidades, histórias das artes, abstrações e concretude, que compõem esse mosaico criativo reunido num mesmo espaço físico aberto ao público carioca”.

Nelly Gutmacher Sem título - Ocupação Mulherio
Nelly Gutmacher Sem título – Ocupação Mulherio

 

Viviane Matesco observa que “mulheres são diversas, mas com uma posição em comum: a luta para viver em mundo dominado pelo machismo”. Rafael Fortes Peixotoacrescenta que o objetivo “não é reunir as artistas em torno de uma ideia, e simreafirmar a ocupação desse espaço na agenda e na pauta cultural, tanto em instituições públicas como em espaços privados, como a Danielian Galeria”.

Ele adianta que em 2025 se pretende comemorar os 40 anos de ações das Guerrilla Girls, que afirmaram pela primeira vez ao mundo o questionamento da presença feminina nas artes. Nossa ideia com estas individuais é que a produção de cada artista possa ser aprofundada nesse ambiente de diversidade e liberdade”.

O título da “Ocupação” tem inspiração no jornal “Mulherio”, que circulou entre 1981 e 1988, e teve umrelevante papel dentro do movimento feminista brasileiro, e surgiu como desdobramento dos estudos sobre a condição feminina no Brasil, tendo contado com a participação de mulheres como Lisette Lagnado, Inês Castilho, Lélia Gonzalez, Adélia Borges, Maria Rita Kehl, Ruth Cardoso, Carmen da Silva e Heloisa Teixeira (ex-Buarque de Hollanda) em suas 40 edições.

Acompanha a exposição uma publicação em formato de 14cm x 10cm, em papel rosa, com os textos dos curadores sobre cada uma das mostras.

Nelly Gutmacher Sem título - Ocupação Mulherio
Nelly Gutmacher Sem título – Ocupação Mulherio

 

Nadia Taquary – “Marés”
As obras de Nadia Taquary (1967, Salvador) ocuparão as salas da Galeria I, no térreo da casa da frente da Danielian Galeria. Entre as suas investigações mais recentes, a artista aborda as questões do feminino a partir da cosmogonia iorubá, em que recupera tradições de sociedades matriarcais, como as Ìyàmì, as Grandes Mães Ancestrais.

Em aquarelas, esculturas em bronze epeças de madeira com miçangas, contas, palhas, fios e metais que elaboram um amplo espectro visual afro-referenciado, Nadia Taquary resgata cultos e crenças que foram deturpados nas barbáries da diáspora africana. Nas tradições milenares de sociedades matriarcais, a força das mulheres não se limitava à sua capacidade de gestar: o poder feminino é criador e realizador, essencial à vida em suas várias formas e características.

Estará na mostra a instalação de parede “Insondável Mistério” (2021), com 4,57 m de altura, feita com miçangas de vidro da República Tcheca, lona e cobre.

Em suas esculturas de bronze vemos a “Mulher Peixe”, a “Mulher Pássaro”, “Arẹyẹgbọ́ (Menina Pássaro)” e “MamiWata”, a grande sereia, com 1,80m de comprimento, que para os curadores “nestas conexões entre o humano e o sagrado, nos conduzem a outras águas e pensamentos”.

“Água e vida se confundem entre os fluxos da existência. Mares e marés relevam o ritmo silencioso e cadenciado de uma relação cósmica que nos faz microscópicos. Diante da Babel contemporânea, os corpos femininos revelam a sabedoria dos ciclos, da nossa conexão essencial de vida e morte, princípio e fim”, escrevem.

O conjunto de seis esculturas da série “Oriki” – palavra em iorubá que significa evocações, orações, em que “ori” significa cabeça – em madeiras nobres, como jacarandá e ipê, com ornamentos intrincados compostos por miçangas de vidroe cobre, búzios africanose lagdibás, aros finos feitos de chifre, que compõem colares usados por sacerdotes do candomblé ou umbanda. nas religiões brasileiras de matrizes africanas – evoca orixás (na foto ao lado, “Sem Título”, 2024).

Além de sua importância como resgate histórico e como referência para a construção de um pensamento decolonial, as obras apontam para uma reflexãoque vai além das mitologias, e espelham a realidade brasileira em que a mulher é a base das articulações sociais, e, mais ainda, onde a mulher preta representa a estrutura comunitária e familiar brasileira.

Nadia Taquary_Sem Título - Ocupação Mulherio
Nadia Taquary_Sem Título – Ocupação Mulherio

 

Sônia Menna Barreto – “Fábulas”
Os trabalhos de Sônia Menna Barreto(1953, São Paulo)– pinturas, esculturas instalados nas salas da Galeria II, no segundo andar da Danielian Galeria, fazem provocações sutis e subversivas a partir do deslocamento de funções de imagens e objetos que fazem parte nosso cotidiano.

No flerte entre o surrealismo, a pesquisa histórica e o universo oriental, Sônia usa sua grande habilidade técnica para criar jogos para o olhar. A artista dialoga com uma tradição da arte em torcer o olhar para capturar a atenção e divagar. Essa estratégia, mais popularizada pelo surrealismo no século 20, aparece no século 16, tanto em Hieronymus Bosch (c. 1450-1516) e Giuseppe Arcimboldo (1526-1593), como em diversas outrasrepresentações visuais ao longo dos tempos.

Entre sua produção mais recente, a padronagem da porcelana chinesa conhecida como Blue Willow (salgueiro azul), produzida a partir do século 19 para atender ao consumo europeu, serve de ambiente para uma série de apropriações criadas pela artista.

Como um Romeu e Julieta chinês, esta cena idílica conta a história de uma jovem, filha de um rico comerciante, que se apaixona por um dos empregados de seu pai. Através de repetições, desmembramentos e inserções de elementos alheios a esse universo, Sônia reconta e provoca conexões entre a fábula e o uso das peças de porcelana no cotidiano.

Tanto das pinturas como nas esculturas, o processo de criação de Sônia parte da ideia de contação de histórias, de deslocamento de tempo e espaço, e de apropriação de universos estéticos e plásticos que organizam a sua produção. Seu trabalho nos conduz ao devaneio e à fantasia, e representam a ação essencial do artista: construir mundos.

Nelly Gutmacher– “Son(h)os”
No Gabinete II – espaço no segundo andar que faz a ligação entre a casa da frente e o pavilhão anexo – estarão as colagens e esculturas de Nelly Gutmacher (1941, Rio de Janeiro), criando um ambiente onírico. Anjos, máscaras, faces, rochas, figuras, seios e corpos deformados; Picassos e Bacons rasgados e amalgamados que produzem universos fantásticos: sonhos. Na obra de Nelly Gutmacher, a transfiguração, a justaposição e a arqueologia desvelam os caminhos do inconsciente(na foto ao lado, “Sem título”, colagem,24 x 20 cm).

Nas colagens, realizadas desde os anos 1960 até os dias atuais, a artista integra sua experiência psicanalítica à uma prática de execução que incorpora o sono e a vigília. Nelly – que dividiu ateliê com Celeida Tostes (1929-1995), na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, nos anos 1980 – faz parte de uma geração de artistas mulheres que partiu do corpo para pensar e provocar o lugar da mulher na sociedade e no ambiente artístico. Com 82 anos, sua trajetória reúne referências ancestrais do uso da cerâmica com práticas psicanalíticas fundamentadas nos arquétipos mitológicos e no questionamento das questões de gênero e sexualidade.

Niura Bellavinha – Essências
No Pavilhão I, térreo da construção anexa, com 200 metros quadrados e pé direito de 4,5 metros, estará a produção recente de Niura Bellavinha (1962, Belo Horizonte), que não mostra seus trabalhos no Rio de Janeiro há dez anos. Os trabalhos apresentados assimilam a transparência como elemento compositivo de obras criadas através de operações de acúmulo, supressão, aspersão e dispersão de pigmentos sobre tecidos e telas. Essa relação corporal de Niura com os elementos que compõem suas obras faz parte de um processo de pesquisa feita pela artista nas últimas décadas, em que investiga materiais a partir de suas interações, se apropriam do acaso como ação constitutiva da criação artística.

Além da operação tradicional de aplicar as tintas, fazem parte do repertório da artista os atos de lavar, atravessar, arranhar, extrapolar, suprimir, entre tantas outras dinâmicas que revelam um interesse pelo resultado destes processos.

O interesse de Niura pelo material, que impulsiona a artista na pesquisa de cores e texturas de diversas matrizes, criou uma espécie de Ouro boros na sua obra. Símbolo da eternidade, a imagem mitológica da serpente que morde a própria caudaserve de metáfora para um momento de sua trajetória em que a artista utiliza tanto pigmentos de ferro e da terra das Minas Gerais como fragmentos de meteoritos pulverizados sobre a seda, criando uma interação entre micropartículas e macrovisões, entre o imperceptível e o inegável: o essencial.

A pintura surge como revelação da luz atravésdos conjuntos de “Poros”e “Translúcidos”, presentes nesta mostra (na foto acima, “Pintura / Articulado /pré Sopro”). Como arauto do insondável, Niuratateia o universo em busca da cor, da luz, do ritmo e do som da existência.

Marcia Barrozo do Amaral – “Harmonias”
O Pavilhão II, espaço com 200 metros quadrados, no segundo andar da construção anexa, vai abrigar 37 obras – entre pinturas e esculturas em aglomerado de madeira e acrílico – de Marcia Barrozo do Amaral (1943-2023),que antes de sua atuação como uma das mais ativas marchandes do país, desenvolveu uma produção com destaque no nosso cenário artístico entre os anos de 1960 e 1980.

A partir de uma formação sólida, ela participou de diversas exposições individuais e coletivas, tanto no Brasil como no exterior. Seu trabalho revela, em meio aos desdobramentos geométricos dos anos 1970 e os cromatismos extravagantes do pop, uma pesquisa das relações entre as cores e os volumes.

As obras da artista privilegiam a geometria no tensionamento e na quebra da bidimensionalidade da pintura. A cor guia um processo de experimentação que assimila diferentes materiais, como o acrílico, e transforma os trabalhos em híbridos entre a pintura e a escultura.

A partir de jogos e articulações de fendas, faixas e linhas que buscam o espaço, as investigações de Marcia Barrozo se aproximam tanto de uma tradição neoconcreta brasileira, com Oiticica, Clark, Barsotti e Willis de Castro, como também estabelecemdiálogos com artistas americanas como Ellsworth Kelly.

A harmonia, como uma noção que acompanha a ideia de composição, surge da interação entre opostos e complementares guiada pela relação entre as diferentes vibrações da cor e demonstra a sutileza e o olhar apurado e sensível de Marcia. Estas características de suas obras e de sua personalidade garantem seu lugar tanto na memória do nosso ambiente cultural como na escrita de uma história da arte brasileira plural e fundamentada em vidas, pesquisas e trajetórias.

SERVIÇO: Ocupação Mulherio – Nadia Taquary, Sônia Menna Barreto, Niura Bellavinha, Marcia Barrozo do Amaral e Nelly Gutmacher
Abertura: 8 de agosto de 2024, às18h
Até: 5 de outubro de 2024
Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro
Rua Major Rubens Vaz, 414, Gávea, Rio de Janeiro, CEP 22470-070
Segunda a sexta-feira, de 11 às 19h
Sábados, de 11 às 17h
Telefones: +55 21 98802-8627 e +55 21 2522-4796
Email:contato@danielian.com.br
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