Mundos encantados, entrelaçamentos de formas e densidade nas cores. A partir de 23 de novembro, será possível conhecer de perto as tapeçarias bordadas de Concessa Colaço. Entre acabamentos primorosos e a temática romântica, que marcam sua trajetória como artista, a exposição apresenta 14 peças selecionadas pela curadora Denise Mattar.
Ao desistir da carreira musical, a artista Concessa Colaço (1929-2005), que nasceu em Portugal e naturalizou-se brasileira, emergiu na arte têxtil, influenciada por sua mãe, Madeleine Colaço.
Agora, quase 20 anos após seu falecimento, a tapeceira-musicista é homenageada com a mostra “Concessa Colaço: concertos bordados”, na Arte132 Galeria, a partir de 23 de novembro, evidenciando sua trajetória na tapeçaria.
Com curadoria de Denise Mattar, a mostra reúne um conjunto de 14 peças. Cada tapete levava, em média, seis meses para ser confeccionado. Concessa empregava lãs e sedas naturais em seus tapetes, confeccionados com cerca de 140 mil pontos em cada metro quadrado. Além de usar o ponto arraiolo e o brasileiro — criado pela própria mãe — ela
usava ainda uma variante do ponto corrido, inspirado nas tapeçarias medievais.
Para obter as inúmeras tonalidades de uma mesma cor, que conferem profundidade à tecitura, criando um efeito gradual, a artista usava lãs coloridas que ganhavam outros tingimentos por cima, resultando em tons únicos. No auge de sua produção, a artista chegou a trabalhar com dez artesãs.
Descendente de artistas que produziam poesia, literatura e artes plásticas em Portugal, Concessa deu continuidade à tradição familiar, dedicando-se às letras e às lãs. Desde cedo ela havia revelado talento para a música e era uma excelente pianista. O falecimento de seu pai e de seu marido, sequencialmente, fizeram Concessa interromper sua carreira musical, optando por se dedicar à tapeçaria.
Iniciou na produção têxtil por volta de 1968 e, muito rapidamente, conseguiu abrir espaço para seu trabalho, especialmente na sociedade carioca. Em um acordo com a mãe, Concessa criou um ateliê próprio, absorvendo parte das artesãs e alternando períodos entre Maricá e o Rio de Janeiro.
“Nenhum trabalho de Concessa é datado e as fontes para pesquisa de seu trabalho são muito restritas, mas é possível perceber que, nas 14 tapeçarias apresentadas na exposição, o desenvolvimento de algumas vertentes temáticas e estilísticas. Rita Cáurio, no livro ‘Artêxtil’, referência essencial para a tapeçaria brasileira, define o trabalho de Concessa como ‘um autêntico neobarroco têxtil’. De fato, existe uma faceta de sua obra na qual a artista parece retomar suas raízes portuguesas”, explica a curadora Denise Mattar.
Tapeçarias de Concessa
Curvas e espirais evocam os padrões tradicionais do arraiolo, com o uso da barra decorativa, a centralidade dos elementos e a simetria espelhada. Outra vertente de sua produção, mais narrativa, detém-se sobre a fé e a simplicidade do povo brasileiro.
Nessas obras, ela retrata igrejas e casarios, anjos, flores e fitas, representados delicadamente e de forma quase ingênua, numa atmosfera tropical. A própria confecção desses tapetes é particular, com maior utilização do ponto corrido e o recurso do delineamento das figuras em tom escuro, que não aparece em outros trabalhos.
Na sua produção mais constante e consistente, Concessa se libera de padrões, propondo mundos encantados. Seus pássaros, flores, frutas e folhagens entrelaçadas, não têm compromisso algum com a realidade ou a brasilidade — são míticos e mágicos. A beleza das formas, o alto nível artesanal, a execução primorosa dos acabamentos, a multiplicidade e densidade das cores e uma temática permeada por um saudosismo romântico são marcas da artista.
Nessas peças, ela trouxe, da sua vivência musical, a sonoridade de poéticos títulos, como: “Poema de um dia azul”; “Ao cantar a poesia”; “Eterno paraíso”; “Poema de cores”; “Momentos de infinito”; e “Quando o passado é
presente”. A década de 1990, entretanto, marcaria o encerramento do período dourado para as artes têxteis, tanto no Brasil quanto no exterior. A proposta da síntese das artes caiu em desuso e a tapeçaria perdeu espaço.
Concessa, assim como muitos outros tapeceiros, não resistiu a esse momento e parou sua produção com as bordadeiras. Deixou o apartamento no Rio e se mudou para cidade de Maricá, onde residiu até seu falecimento, em 2005.
A Arte132 Galeria recebe a exposição “Concessa Colaço: concertos bordados” como o último projeto antes de seu fechamento.