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A Galeria Athena inaugurou, no dia 15 de abril, a exposição online O tempo é agora, tempo de espera, de Laura Belém. A mostra contará com onze trabalhos produzidos entre 2017 e 2020, sobre papel, fotografias, colagens, monotipias e vídeo, que convidam o espectador a pensar sobre o diálogo com a natureza, o tempo, a transiência e um espaço entre as coisas.

Como cita Laura Belém em texto que acompanha a exposição “a natureza não é uma temática em si em minha poética, mas uma ponte com o mundo, e por isso considero que os trabalhos são criados a partir da natureza, em diálogo com ela, e não sobre ela”.

Os trabalhos em exposição sugerem histórias e relações com o mundo. Todos se originam por
algo que atravessou a artista, por uma impressão que ficou, ou por um sentimento que pede
para ser revisitado. O movimento presente em algumas composições (por mais estáticas que
sejam) quase sempre começa fora do ateliê da artista em suas andanças. O deslocamento
proporciona um exercício experimental e coloca o corpo e o olhar em ação, instigando a
percepção do espaço, a coleta de elementos e a criação de novas narrativas. Os trabalhos
apresentados na mostra online não partem de um roteiro prévio, e por isso acabam sendo
potencializados pelo acaso.

“As reflexões sobre o tempo, a natureza, o movimento e a existência sempre me acompanharam e estiveram presentes em meus trabalhos. E ainda que os trabalhos aqui reunidos derivem dessa fonte de inspiração comum, isso não ocorre de uma forma racional ou deliberada. Cada um deles é motivado por situações distintas, e o que eles comungam é uma relação entre o campo estrutural e o sensível”, explica Laura Belém.

O Online Viewing Room visa conectar o espectador, independente do lugar de onde esteja, ao processo criativo de Laura Belém. O tempo é agora, tempo de espera traz um recorte recente da produção da artista e pontua sua relação com o mundo com a função da própria arte. 

Laura como é quando você entendeu que era uma artista? 

Decidi que queria cursar faculdade de artes plásticas aos 13 anos, mas só após entrar na faculdade comecei a ter uma dimensão mais ampla do que seria ser uma artista. Até então, ser artista para mim significava saber desenhar bem, e aos poucos fui entendo que a arte era bem mais ampla que isso. Me encantei pela história da arte, principalmente pela arte moderna e contemporânea, e isso me inspirou a continuar.

Laura Belém

Acho que o conceito de beleza é relativo, pois o que é belo para mim pode não ser para você, e vice-versa. Não penso tanto em beleza ao criar os trabalhos, mas sim em harmonia e no potencial de significados que a obra pode desencadear. A inspiração vem do meu entorno, das coisas que observo, vivencio, e de sentimentos que pedem para ser revisitados no campo da arte.

A beleza é efêmera e cultural?

 Creio que sim. O conceito de beleza muda com o tempo e pode variar de pessoa para pessoa.

Com o que você sonha? 

Com um mundo melhor, e com um Brasil mais humanitário e respeitoso às questões de raças e do meio ambiente.

O que te assombra?

O desrespeito à natureza, ao meio ambiente, o dinheiro acima de tudo, as diferenças enormes entre as classes sociais no nosso país, e o desrespeito às questões de raça e da mulher.

.Qual é a sua ponte com Portugal? 

Nenhuma. O sobrenome ‘Belém’ era na verdade o apelido do meu bisavó materno, e ele colocou esse apelido como sobrenome do seu filho, meu avô. Desse a geração do meu avô, Belém passou a ser um sobrenome. Ano passado um curador português (Delfim Sardo) me convidou para participar de uma exposição de arte sonora na Culturgest. Mostrei uma peça sonora que expus na Bienal de Veneza em 2005. Foi uma exposição fantástica, que apresentou um recorte histórico de obras no campo da arte sonora, de artistas de várias partes do mundo

Elos e pontes te conectam com seus princípios artísticos ?

 Sem dúvida é sempre interessante encontrar pares, trocar ideias, e conhecer outros artistas que compartilham pesquisas e interesses similares.

Quais são as suas melhores ferramentas artísticas ? 

O olhar, os sentimentos, as mãos.

Laura Belém

Você anula questões ou sempre aprofunda pesquisas? 

Me considero uma artista pesquisadora. Além de trabalhar como artista, também leciono.

Laura Belém

Como você definiria esses novos trabalhos que você irá expor ? 

São obras sobre papel – monotipias, colagens, desenhos, fotografias – e um vídeo, criados entre 2017 e 2020. É a primeira vez que esses trabalhos estão reunidos numa só exposição (alguns deles já participaram separadamente de mostras anteriores). Todos eles falam da minha relação com a natureza, com a poesia, a transiência, e o movimento (por meio de caminhadas e da influência da dança contemporânea, que vivi intensamente entre 1994 e 2004). Os trabalhos buscam também uma ponte entre o visível e o invisível, o plano dos fenômenos (que chamamos de ‘realidade’) e o desconhecido.

 

Laura Belém – Foto Anderson Jacob
Laura Belém