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No próximo sábado (21 de maio), o IMS Rio inaugura a exposição Constelação Clarice. A mostra, que já passou pela sede de São Paulo, investiga a poética da escritora Clarice Lispector (1920-1977), identificando temas e recursos estéticos presentes em sua produção. Em diálogo, são exibidas obras de 26 artistas visuais mulheres, que atuaram na mesma época de Clarice, entre as décadas de 1940 e 1970. No conjunto, há trabalhos de Maria Martins, Mira SchendelFayga Ostrower, Lygia Clark, Letícia Parente, Djanira e Celeida Tostes,  entre outras.
 

Com entrada gratuita, a mostra reúne ainda aproximadamente 300 itens, incluindo manuscritos, fotografias, cartas, discos e matérias de imprensa, entre outros documentos do acervo pessoal da autora. A curadoria é do poeta Eucanaã Ferraz, consultor de literatura do IMS, e da escritora e crítica de arte Veronica Stigger.

A exposição celebra a obra e o legado de Clarice, cujo centenário foi comemorado em 2020. Nome fundamental da literatura brasileira, a autora também nutria grande interesse pelas artes visuais, expresso tanto em sua incursão pela pintura, na década de 1970, quanto pela presença de personagens artistas em seus livros. Diante dessa proximidade, quais conexões seria possível estabelecer entre a produção textual de Clarice e as obras de mulheres que, no mesmo período, marcaram a história da arte brasileira? Como seus modos de criação se relacionam?

Para criar essas interlocuções, a curadoria adotou o conceito de constelação, presente no título e na expografia da mostra. Em 11 núcleos, são apresentados trabalhos em diversos suportes, como escultura, pintura, desenho, fotografia e vídeo. As obras das artistas estão sempre em diálogo com trechos de textos de Clarice, formando uma teia de novos significados, como apontam Ferraz e Stigger: “Por meio da aproximação propiciada por Clarice, ganha lugar uma compreensão renovada e mais complexa daquele momento da arte brasileira. Por outro lado, a partir dessa constelação entre os trabalhos plásticos e a escrita, também a literatura de Clarice aparece sob nova óptica.”
O público terá a oportunidade rara de conhecer 18 pinturas de autoria da própria escritora, produzidas entre 1975 e 1976, sem pretensão profissional. Nos quadros, é possível identificar algumas recorrências, como o tratamento gestual e a predileção também pela circularidade.
Outro destaque é a seção “Tudo no mundo começou com um sim”, frase proveniente do romance A hora da estrela (1977). O núcleo aborda o tema da origem, que é recorrente na obra da autora, evocado por imagens como a do ovo e da caverna. No livro Água viva (1973), por exemplo, a narradora questiona: “Por que é que as coisas um instante antes de acontecerem parecem já ter acontecido?”. Neste eixo, há obras de Maria Polo, Anna Maria Maiolino, Celeida Tostes e Wega Nery, entre outras.
 

Já o núcleo “Eu não cabia” investiga o cenário da casa. Em muitos romances de Clarice, a banalidade do ambiente doméstico é interrompida por momentos de estranhamento e desconcerto. Esse questionamento do espaço do lar, transitando entre a segurança e o sufocamento, aparece também em obras como Caixa de fósforos, de Lygia Clark, no vídeo Eu armário de mim, de Letícia Parente, ou ainda nas pinturas coloridas de Wanda Pimentel e Eleonore Koch, que apresentam uma casa estranhamente vazia, por vezes vista pelas frestas.

 

Artistas presentes na exposição

Amelia Toledo
Anna Bella Geiger
Anna Maria Maiolino
Celeida Tostes
Clarice Lispector
Claudia Andujar
Djanira
Eleonore Koch
Fayga Ostrower
Judith Lauand
Hilda Hilst
Iole de Freitas
Ione Saldanha
Letícia Parente
Lygia Clark
Maria Bonomi
Maria Helena Vieira da Silva
Maria Martins
Maria Polo
Mira Schendel
Regina Silveira
Regina Vater
Vera Chaves Barcellos
Wanda Pimentel
Wega Nery
Wilma Martins
Yolanda Mohalyi

Parte do manuscrito de A hora da estrela, c. 1976. Arquivo Clarice Lispector/ Instituto Moreira Salles.

 

Anunciação, 1952, Maria Martins. Imagem: Everton Ballardin.